Egito: Será que 25 de janeiro vai ser o dia Intifada Egípcia?

O que será que vai acontecer no Egito dia 25 de janeiro? Em todas as partes do país, o povo clama por manifestações e protestos pacíficos. Quem vai participar deles, e onde acontecerão? Quais são as exigências? Será que não tem ninguém contra tudo isso? Basta apenas uma visita rápida à blogosfera egípcia para descobrir as respostas para todas essas perguntas.

Egyptian Wish, que mora nos Estados Unidos, faz um convite para que as pessoas participem das manifestações e protestos pacíficos que acontecerão no Egito em 25 de janeiro [ar]:

يوم 25 يناير بداية إنتفاضة الشعب المصرى
كن جزء من تجربة يمكن أن تجعل أولادك وأحفادك فخورين بأنك كنت جزء منها ، سنتصدى للفساد مهما كلف الثمن ، قد لا يكون هذا الحدث هو النهاية ، ولكنه بالتأكيد سيكون شرارة وبداية للتغيير الحقيقى إن شاء الله.
A intifada do povo egípcio começará em 25 de janeiro.
Faça parte da experiência, que um dia pode deixar os seus filhos e netos orgulhosos de você. Vamos protestar contra corrupção, não importa o que isso nos custará. Talvez não seja o fim, mas com certeza será o começo. Marcará o primeiro passo para a verdadeira mudança.

Graças aos protestos que forçaram o ex-presidente Zine El Abidine Ben Ali a fugir da Tunísia, parece que a síndrome tunisiana está se espalhando pelo mundo árabe, e muitos chegam a apontar o país como a primeira peça a cair, causando um efeito dominó.

Egyptian Wish continuou:

فى تونس نزل الآلاف من المواطنين صامدين مصممين على ضمان حقوقهم وحقوق الأجيال القادمة وحصلوا على حقوقهم كلها حتى هروب الديكتاتور بن على و مصر مش أقل من تونس.
Na Tunísia, milhares de cidadãos protestaram por seus direitos e pelos direitos das gerações futuras, e insistiram nesses direitos até que alcançaram seus objetivos e até que o ditador Ben Ali fosse forçado a fugir do país. Os egípcios não são nem um pouco menos guerreiros que os tunisianos.
Jan25 Freedom to Egypt
O cartunista brasileiro Carlos Latuff dedicou vários de seus cartuns ao evento.

Liberdade para o Egito em 25 de janeiro.

Zeinab Samir, assim como vários outros egípcios, ainda não tem certeza do que acontecerá no dia D [ar]:

ماكدبش عليك، أنا مش عارفة إيه اللي هيحصل يومها، مش عارفة العيال اللي على فيس بوك هينزلوا فعلا زي ما بيقولوا وللا لأ.. مش عارفة حتى إذا كان يضحك وللا يبكي إنها تتسمى “ثورة”.. يعني، من باب إن الثورة دايما بتبقى مفاجأة مش بمعاد
Para falar a verdade, não sei como serão as coisas no dia. Não tenho certeza se os que estão convidando pessoas por meio do Facebook para irem às ruas vão protestar também. Não sei se é engraçado chamar isso de “revolução” ou não, uma vez que revoluções não são feitas com hora marcada.

Vários grupos estão usando a ferramenta de eventos do Facebook para organizar as manifestações. Até agora, mais de 78 mil egípcios confirmaram presença no evento criado pelo grupo “Somos Todos Khaled Said”. Zeinobia escreveu um resumo da participação até agora. Mesmo fora do Egito, as pessoas estão pedindo manifestações na frente das embaixadas do Egito em Londres e Washington.

Zeinobia escreveu:

Os protestos do dia 25 de janeiro estão virando coisa séria e chamando cada vez mais a atenção. Mais páginas e grupos estão sendo criados no Facebook chamando a participação popular no dia 25 e mais grupos políticos participarão. São cerca de 17 grupos.

Mas por que essa data? Zeinobia a enxerga como um lembrete para o povo egípcio e para a polícia [en] de que naquela mesma data, em um ano distante, a polícia ficou do lado do povo contra as forças que ocupavam o país na época:

25 de janeiro é o dia nacional da Polícia Egípcia, em que recordamos como nossas forças policiais ficaram do lado do povo em Ismaília durante a resistência contra a ocupação britânica, em uma rara demonstração de patriotismo, durante um incidente em 1952.

Enquanto agora, especialmente depois do assassinato de Khaled Said, a situação é bem diferente.

Zeinobia continuou explicando:

Agora, no mesmo dia em 2011, teremos um grande evento organizado pelo grupo “Somos todos Khaled Said” e apoiado por grupos e partidos políticos da oposição, e há uma grande expectativa de que esse evento mudará o Egito para sempre, especialmente depois do que aconteceu na Tunísia.

Em seguida, Zeinobia listou os pedidos dos organizadores dos protestos:

O grupo pede que as pessoas saiam nas ruas para conseguir certas exigências:

  • Aumentar o salário mínimo para 1.200,00 libras egípcias e implementar o seguro-desemprego.
  • Cancelar o estado de emergência no país, demitir [o Ministro da Casa Civil] Habib El-Adly e libertar todos os detidos sem ordem judicial.
  • Dispensar o atual parlamento, marcar eleições livres e reformar a constituição para limitar a quantidade de mandatos presidenciais em apenas dois.

A pergunta agora é por onde anda o possível candidato a presidente Mohamed ElBaradei e os cabeças do movimento de oposição. Sem perder a ironia, Nawara Negm [en] comentou:

اه وربنا
والبرادعي مسافر
والاخوان خالعين
ومش محتاجين نقول الوفد خلع لانه مالوش لازمة في الحياة اساسا
بس التوانسة نازلين عشانا… ومش بعيد الاردن كمان تنزل عشانا، ويمكن نتفاجئ ان الجزائر كمان نزلت عشانا، وامبارح كان فيه مظاهرات في السودان على الغلاء، على الله بقى السودان تنزل عشانا
النكتة حتبقى لو كل دول نزلوا عشانا واحنا ما نزلناش بحجة ان “القيادات” مش نازلة.
Não diga!
El Baradei está viajando no exterior. A Irmandade Muçulmana Ikhwan está fora. Nem precisa dizer que o Partido Al Wafd [en] também não está, aliás, todos sabemos que esse partido não serve para nada.
Mas os tunisianos farão um protesto em solidariedade à gente, e possivelmente os jordanianos também. E quem sabe os algerianos também. E ontem houve protestos no Sudão por causa do aumento dos preços.
Vai ser muito engraçado se todas essas pessoas protestarem por nós, enquanto a gente considere que a indisponibilidade dos chefes da oposição seja um motivo para ficar em casa.

Embora o Movimento Salafista pró-Reforma [ar], conhecido como “HAFS”, tenha anunciado que vai participar [ar], a maioria dos outros movimentos salafistas está contra tudo. Alguns blogueiros também mostram-se desconfiados e na dúvida, achando que o chamamento pode acabar em tumultos e distúrbios descontrolados. Amira Bahhy El Din escreveu sobre esse temor [ar]:

لن اقول لكم لاتحرقوها ….
لكن تذكروا ان هذا الوطن اغلي من العبث به وبحياه مواطنيه !!
ربما نعيش ايام سوداء لكنها ليست الاسود !!!!
ولو احرقتموها واحرقتمونا ، فلا تبكوا ولا تندموا فوقت البكاء والندم سيكون قد فات !!!!
Não vou pedir que deixem de tocar fogo em nossa nação.
Mas lembrem-se que essa nação é preciosa demais para ser sujeita a nossos caprichos e jogos!
Pode ser que estejamos passando momentos ruins agora, mas não é o pior dos momentos!
Se vocês a queimarem e se queimarem, depois não poderão se arrepender nem chorar pelo leite derramado.

Por fim, temos que esperar e ver o que acontecerá nos próximos dias. É preciso aguardar para saber quem vai mesmo participar, o que irão fazer e qual será a reação do regime [en]. E só o tempo provará se a Tunísia é realmente a primeira peça de um efeito dominó na região ou se a situação naquele país é totalmente diferente daquela do Egito, da Algéria e de outros países árabes.

Esse post é parte de nossa cobertura especial dos Protestos do Egito em 2011.

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