O que é mesmo uma “Hackathon”? E o que são “Dados Abertos”?

Num post anterior, o Global Voices anunciou a próxima hackathon [en] regional da América Latina: Desenvolvendo a América Latina 2012 [es]. Mas é provável que o termo hackathon seja desconhecido para alguns leitores, ou que, acima de tudo, surjam dúvidas quanto aos seus propósitos.

Martín Onetto dos Red Users [es] escreve [es] sobre a origem do termo:

el “Hackathon”, (es un) neologismo compuesto por las palabras “hack” + “marathon”. “Es ‘hacker’ en el sentido originario del término: no el que comete delitos informáticos sino el que es capaz de desarmar y transformar para resolver una tarea compleja”,

a palavra “Hackathon” é um neologismo formado pelas palavras “hack” + “maratona”. “Hacker” refere-se ao sentido original do termo: não àqueles que cometem crimes informáticos mas sim a quem é capaz de desmantelar e transformar uma tarefa complexa.

A Wikipédia tem um artigo [en] com uma boa definição do que é uma hackathon:

A hackathon (also known as a hack day, hackfest or codefest) is an event in which computer programmers and others in the field of software development, like graphic designers, interface designers, project managers and computational philologists[1], collaborate intensively on software projects.[2](…) Hackathons typically last between a day and a week in length. Some hackathons are intended simply for educational or social purposes, although in many cases the goal is to create usable software.

Uma hackathon (também denominada como hackday, hackfest ou codefest) é um evento em que programadores informáticos e outros no campo do desenvolvimento de software, tais como designers gráficos, designers de interface, gestores de projecto e especialistas em linguagens de computação, colaboram intensivamente em projectos de software. (…) Tipicamente as hackathons duram entre um dia e uma semana. Algumas hackathons têm objectivos meramente educativos ou sociais, apesar de em muitos casos o objectivo seja criar software utilizável.

Há uma grande variedade de projectos aos quais programadores, ou “developers”, podem dedicar os seus esforços. Existem também diferentes tipos de hackathons, incluindo aquelas orientadas para um tipo específico de plataforma – como telemóveis ou determinados sistemas operativos – ou outras em que se pretende desenvolver software para uma organização em particular, ou explorando somente uma linguagem de programação.

Imagen de datos.gob.es en Flickr, bajo licencia de Atribución-CompartirIgual 2.0 Genérica (CC BY-SA 2.0) de Creative Commons.

Imagem de datos.gob.es no Flickr, partilhada sob licença Creative Commons (BY-SA 2.0).

Ao contrário das hackathons mencionadas anteriormente, a Desenvolvendo a América Latina é dedicada a questões sociais, como saúde, educação, segurança pública, mobilidade, entre outras. A questão que pode estar agora no ar é: como é que os programadores podem lidar com estas questões ao criarem programas informáticos? Entra então aqui o conceito de “open data”, os dados abertos.

E o que são estes dados abertos? Com nova referência à Wikipedia, desta vez em português, descobrimos que os

Dados abertos ou dados públicos correspondem à ideia de que certos dados devem estar disponíveis para que todos usem e publiquem, sem restrições de direitos autorais e patentes ou de outros mecanismos de controlo. Os objetivos do movimento de dados abertos são semelhantes aos de outros movimentos “abertos”, como o código aberto [open source em inglês], o conteúdo aberto e o acesso livre [open access em inglês].

O Open Data Handbook, um projecto da Open Knowledge Foundation, indica uma definição semelhante:

Open data is data that can be freely used, reused and redistributed by anyone – subject only, at most, to the requirement to attribute and sharealike.

Dados abertos são dados que podem ser livremente usados, reutilizados e redistribuídos por qualquer pessoa – sujeitando-se no máximo a requisitos de atribuição e de partilha sob os mesmos termos.

Em geral, quando falamos sobre dados abertos ou sobre a abertura dos dados, estamos a referir-nos a dados governamentais, partindo do princípio que a recolha e administração desses dados é feita com dinheiros públicos e portanto pertence a toda a gente. Os dados governamentais habitualmente cobrem quase todas as actividades públicas nas quais os governos e também os cidadãos aplicam o seu dinheiro.

Para sabermos mais sobre dados abertos, falamos com Mariano Crowe, hacker e co-director da Escuelab [es], uma plataforma de aprendizagem e co-desenvolvimento em Lima, Perú:

Recentemente, David Sasaki, da Omidyar Network, resumiu [es] as principais características dos dados abertos num post intitulado “Os Oito Princípios dos Dados Abertos (e os Hipsters)” (: 

- Completo: todos los datos públicos está disponible. Los datos público no contempla datos privados ni limitaciones de seguridad o privilegios.
- Primario: los datos son recolectados en la fuente de origen, con el nivel de granularidad mas alto posible, no en forma agregada ni modificada.
- Oportuno: los datos están disponibles tan rápido como sea necesario para preservar el valor de los datos.
- Accesible: los datos están disponibles para el rango mas amplio de usuarios para el rango mas amplio de propósitos.
- Procesable por maquinas: los datos están estructurados razonablemente para permitir un procesamiento automático.
- No discriminatorio: los datos están disponibles a cualquiera, sin requerir un registro.
- No propietario: los datos están disponibles en un formato sobre el cual ninguna entidad tiene un control exclusivo.
- Libre de licencias: los datos no están sujetas a ningún derecho de autor, patenté, marca registrada o regulaciones de acuerdo de secreto. Razonable privacidad, limitaciones de seguridad y privilegios están permitidos.

- Completo: todos os dados públicos estão disponíveis. Os dados públicos não incluem dados privados nem restrições de segurança ou privilégios.
- Primário: os dados são colectados na fonte de origem, com o nível de granularidade mais alto possível, e não de forma agregada ou modificada.
Oportuno: os dados estão disponíveis o mais rapidamente possível para preservar o seu valor.
- Acessível: os dados estão disponíveis para uma ampla gama de utilizadores com uma ampla variedade de propósitos.
- Processável por máquinas: os dados estão estruturados de forma razoável para que seja possível processá-los automaticamente.
- Não discriminatório: os dados estão disponíveis a qualquer pessoa, sem necessidade de registo.
- Não proprietário: os dados estão disponíveis num formato sobre o qual nenhuma entidade detém controlo exclusivo.
- Livre de licenças: os dados não estão sujeitos a direitos de autor, patentes, marcas registadas, ou regulamentos decorrentes de acordos secretos. Privacidade, limitações de segurança e privilégios razoáveis são permitidos.

AESIC, a Agência para o Governo Eletrónico e Sociedade de Informação no Uruguai é líder do país nestas questões. Na secção do seu website dedicada aos dados abertos, a organização diz-nos [es] porque é que devemos querer saber disto:

¿Ud sabe exactamente qué cantidad de dinero de sus impuestos se gasta en alumbrado público o en la investigación del cáncer? ¿Cuál es la ruta más corta, más segura y con vista más linda en bicicleta desde su casa a su trabajo? ¿Y la calidad del aire que respira en el camino? En su región, ¿dónde encontrará las mejores oportunidades laborales y el mayor número de árboles frutales per cápita? ¿Cuándo puede influir en las decisiones legislativas o gubernamentales sobre temas que le preocupan profundamente, y con quién debe hablar?

Saberá exactamente a quantidade de dinheiro dos seus impostos que é gasta em iluminação pública ou em investigação do cancro? Qual a trajetória mais rápida, segura e com melhores vistas para ir de bicicleta de sua casa ao seu emprego? E a qualidade do ar que se respira no caminho? Na sua região onde é que pode encontrar as melhores oportunidades de emprego e o maior número de árvores de fruta per capita? Quando é que pode influenciar decisões legislativas ou governamentais sobre assuntos que são verdadeiramente importantes para si, e com quem pode falar?

Depois mencionam como o uso de dados abertos pelos cidadãos pode beneficiar os próprios cidadãos, várias instituições e até o próprio governo, e disponibilizam mais alguns exemplos:

- En el área de la transparencia, ¿Adónde va mi dinero? de Gran Betaña, es una aplicación web que muestra cómo el Gobierno gasta los recursos que recauda a través de impuestos. En Dinamarca y Brasil existen aplicaciones donde se puede seguir el proceso de legislación del parlamento.

- El área de información geográfica es una de las más avanzadas, existen múltiples aplicaciones de interés para el ciudadano. Autobuses de la ciudad en tiempo real, de España, permite conocer la ubicación del transporte público en tiempo real y los minutos que le restan al ómnibus para llegar a la próxima parada. OpenStreetMap puede considerarse la “Wikipedia de los Mapas”. Provee datos geográficos gratuitos y de libre disposición para todo el mundo.

- Na área da transparência, a aplicação web britânica Para onde vai o meu dinheiro? mostra como é que o governo gasta o dinheiro colectado através de impostos. Na Dinamarca [da] e no Brasil [pt], há aplicações disponíveis que permitem acompanhar o processo legislativo no parlamento.

- A área da informação geográfica é uma das mais avançadas, com muitas aplicações de interesse para os cidadãos. Autocarros urbanos em tempo real [es], de Espanha, permitem encontrar a localização dos transportes públicos em tempo real e o número de minutos até à chegada do próximo autocarro. O OpenStreetMap pode ser considerado a “Wikipédia dos Mapas”. Fornece dados geográficos gratuitos e livres à disposição de todo o mundo.

Mais exemplos de aplicações desenvolvidas com dados abertos podem ser explorados num outro link [es] da AGESIC, neste link [es] do Governo Regional da Andaluzia, e neste link [es] da Generalitat da Catalunha. Para além disso, neste post [es] de Ticbeat encontrarás 10 aplicações que várias pessoas gostariam de ver desenvolvidas usando dados abertos.

Mas o que pode motivar os especialistas em tecnologias da informação – que normalmente têm empregos exigentes e bem pagos – a dedicarem parte do seu tempo livre à programação sem receberem uma compensação? Para responder a isto, voltamos ao Mariano:

Muitos elementos têm de juntar-se para que seja possível trabalhar dados abertos de forma bem sucedida e eficiente: desde governos com uma visão clara e convicta sobre o assunto, à sociedade civil enquanto promotora e disseminadora do uso dos dados e das plataformas. Mas de certa forma, os programadores são um elemento chave que assegura que este tipo de iniciativas avancem.

És programador? Então dá o teu contributo para que o sítio onde moras se torne um lugar melhor. Se ao leres este artigo tiver surgido alguma ideia de colaboração, inscreve-te [es] na hackathon Desenvolver a América Latina e participa!

O post original [es] foi publicado no blog pessoal de Juan Arellano.
O primeiro vídeo deste post foi transcrito por ireireireire e traduzido por Laura Rebollo Quero. O segundo vídeo foi transcrito e traduzido por Sonia Ordoñez.

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