É “angustiante”! Autores do RV contam histórias e entrevistam estranhos

[Todos os links apontam para fontes em inglês, exceto o vídeo final, com áudio em português e legenda em inglês]

Transom é uma fonte online de recursos para contadores de histórias. A organização se dedica à produção de áudio, mas começa a mergulhar no mundo das mídias digitais visuais também. Recentemente, ofertou uma oficina online que durou seis semanas, hospedada integralmente em um página do Facebook, e vários autores do Rising Voices (RV) participaram.

Silvia Viñas, a editora do Global Voices para a América Latina, disse nos primeiros dias:

It's great to be with other GVers! it's sort of like walking into a new classroom where you already know some of the people ;)

É muito bom estar com outros GVers*! É mais ou menos como entrar em sala no primeiro dia de aula e já conhecer alguns dos alunos ;)

As tarefas orientavam os participantes a saírem para as ruas e entrevistarem pessoas desconhecidas, passando por múltiplos meios – da foto e áudio ao vídeo. Nem sempre foi fácil cumpri-las. O autor Luis Henrique [pt], do Brasil, disse:

I am finding it hard to do because I have all those reservations with statements and pictures, especially because they will end up in an open Facebook page. And I'm shy. But I did post my assignment today.

Estou achando difícil porque eu tenho todas as reservas em relação a declarações públicas e fotos, especialmente porque elas terminarão publicadas em uma página aberta do Facebook. E eu sou tímido. Mas eu postei a minha tarefa hoje.

Marianna Bretyman, uma autora e tradutora do RV que vive em Nova York (uma cidade notoriamente cheia de pessoas muito ocupadas) comentou que o lugar [onde se cumpre a tarefa do curso] é muito importante:

Ultimately, I liked the idea of the workshop, but I think it also depends a lot on the type of people participating and the cities they live in… in NYC, I found it difficult to get people to talk to me, let alone be recorded. Most people keep to themselves, so that was a bit discouraging… personally I think I have a long way to go before I can approach strangers on the street. It's really nerve racking!

No fim, eu gostei da ideia da oficina, mas eu acho que depende muito do tipo das pessoas que participam e das cidades em que vivem… em Nova York, eu achei difícil conseguir que as pessoas falassem comigo, e ainda mais em entrevistas gravadas. A maioria das pessoas fica na sua então foi um tanto desencorajador… pessoalmente eu acho que tenho um longo caminho antes de conseguir abordar estranhos no meio da rua. É realmente angustiante!

A tarefa final de Marianna:

Outros acharam que conversar com as pessoas foi um pouco mais fácil. Luis:

The person I talked to was a bit suspicious at first but, in the end, she talked about some very powerful topics of hers… She is a street sweeper, a job usually invisible in the streets as people pass by without noticing them, but, in the end, she has a story to tell, she has dreams, she studies at an university, every move is decisive in her life as she assumes at her age the clock is ticking and not in her favor. All those emotions lying there, latent. And then we go there, ask some questions and unleash those forces. A huge responsibility, the way I see it.

A pessoa com quem falei ficou um pouco desconfiada no início. Mas, no final das contas, falou sobre questões muito importantes para ela… A entrevistada era uma varredora de rua, um trabalho que é meio invisível nas ruas, as pessoas passam por eles sem perceber. Mas ela tem histórias para contar. A entrevistada tem sonhos, estuda na universidade, cada movimento é decisivo em sua vida porque ela acha que, na sua idade, o tempo está correndo e não é a seu favor. Todas aquelas emoções ali, latentes. E daí nós chegamos, fazemos uma entrevista e desencadeamos aquelas forças. É uma grande responsabilidade, da maneira como eu vejo.

"I am afraid of failing. When I do fail, I feel miserable, close to depression. I am a street sweeper."

“Eu tenho medo de fracassar. Quando eu erro, eu fico muito mal, quase entro em depressão. Eu sou uma varredora de rua.”

A estrutura da Oficina

rachael peterson transom

Rachael Petersen, uma autora do RV e do Global Voices, tirou um retrato e fez uma entrevista para a sua primeira tarefa, cujo tema era “do que você tem medo?” O resumo das respostas do seu entrevistado, como foi postado na página da Oficina no Facebook, foi o seguinte:

“Man, my fears are like Alice in Wonderland – how deep do you want to go? If we don't go too deep, snakes. One time as a kid, I picked up a stick and then it moved. Now I fear mounds – massive pools! – of mating snakes all over each other, you know? Can't even watch the Discovery Channel any more.”

Cara, meus medos são tipo Alice no País das Maravilhas – até onde você quer ir? Se você não quer ir muito longe: cobras. Uma vez, quando era criança, eu peguei um graveto e ele se moveu. Agora eu tenho medo de montes – amontoados gigantes! – de cobras se acasalando, sabe? Nem posso mais assistir ao Discovery Channel.

Após a entrega das tarefas, o instrutor Scott Carrier fazia comentários ao longo da própria postagem no Facebook:

facebook conversation rachael peterson scott carrier

Rachael Petersen (RP): Eu tive dificuldades para escolher uma frase; e eu odiei usar a resposta típica em torno do “medo de cobras, de altura , de aranhas”. Mas eu amei sua resposta inicial, comparando os seus medos com os de Alice no País das Maravilhas. Ele era hilário.
Scott Carrier (SC): eu tenho medo de montes – amontoados gigantes! – de cobras se acasalando, sabe? Nem posso mais assistir ao Discovery Channel.
RP: Scott, você está dizendo para eu cortar todo o resto?
SC: Rachael, eu acho que funcionaria melhor assim, mas a decisão é sua. Talvez eu esteja errado. Isso definitivamente é possível. Minha lógica é a de buscar o efeito emocional. Cortando alguns trechos, você consegue chegar à emoção com mais precisão.

 

No entanto, uma preocupação recorrente ocorreu com relação à publicação dos projetos em uma página pública do Facebook. Às vezes por questões de privacidade, como falou o Luis:

It is curious how some people really want to share their stories… [but] I wish my subjects would be more aware of all the privacy issues and other issues surrounding image rights and social networks. The many who said no to me usually would mention not wanting to be featured in a picture. I'd easily use that card too.

É curioso como algumas pessoas realmente desejam compartilhar suas histórias… [mas] eu queria que os meus entrevistados estivessem mais cientes de todas as questões que cercam a privacidade online, o direito de imagem e as redes sociais. Muitas das pessoas que entrevistei e que disseram “não” para mim mencionaram não quererem aparecer em fotos. Eu também usaria essa desculpa facilmente.

Outras vezes, por questões de caráter pessoal, como falou a Silvia:

Overall, I liked using Facebook, but at times I felt a little “shy” about sharing my drafts, because I knew that anyone would see them –including the person I interviewed for my final piece.

No geral, eu gostei de usar o Facebook, mas em alguns momentos eu me senti um pouco “tímida” em relação a compartilhar as versões preliminares das tarefas porque eu sabia que qualquer um poderia vê-las – incluindo a pessoa que eu entrevistei para o trabalho final.

Silvia também disse que, do ponto de vista organizacional, o tamanho do grupo é um fator-chave quando você trabalha online:

I think the workshop would work better with a smaller group. That would give participants a greater chance to interact more with the instructor… He gave me great one-on-one feedback on my final assignment, showing me exactly where in the script he would make cuts to make the story shorter and more to the point. I'm very happy with the result.

Eu acho que a oficina funcionaria melhor com um grupo menor. Isso daria aos participantes chances maiores de interagir mais com o instrutor… Ele me deu orientação personalizada na minha tarefa final, apontando exatamente em que pontos do roteiro ele faria os cortes para tornar a história mais curta e mais direta. Eu estou muito feliz com o resultado. 

O trabalho final de Silvia, em áudio:

Afinal, os participantes do Rising Voices parecem ter gostado do desafio de trabalharem offline. Luis:

…from a personal perspective, it is a great challenge to defy my shyness and talk to people without any gadget mediation. Look into their eyes and be looked at too.

…de uma perspectiva pessoal, foi uma grande oportunidade para desafiar a minha timidez e conversar com as pessoas sem a mediação de nenhum equipamento. Olhar nos olhos das pessoas. E ser olhado de volta por elas também. 

A contribuição final do Luis:

Thalia Rahme, uma autora do Global Voices que participou do curso a partir de Beirute, no Líbano, também ficou satisfeita com a sua contribuição:

But I'm also a bit proud of myself… I thought that as usual I was gonna quit or unenroll just like I did in many MOOC or many other projects but I dont know somehow I did it even though it was the last day and as usual I was late but I did it :)

Eu também me sinto um pouco orgulhosa de mim… Eu pensei que, como sempre, eu desistiria ou abandonaria o curso, como fiz com muitos MOOCs [cursos abertos ofertados online e em massa, para um grande número de alunos] ou muitos outros projetos, mas, eu não sei, de alguma maneira eu consegui completar o curso. Mesmo finalizando tudo no último dia, atrasada como sempre, mas eu completei o curso :)

and Silvia:

In the workshop I learned that we can find great stories in unexpected places, we just have to be brave (and bold) and reach out to friends and strangers.

Na oficina eu aprendi que podemos encontrar grandes histórias em lugares inesperados. Basta que tenhamos coragem (e ousadia) e que conversemos com os amigos e com os desconhecidos.

Você pode ver os outros trabalhos publicados online na página do curso no Facebook e no site da Transom. As Oficinas Online da Transom [TOW] foram financiadas pelo Knight Prototype Fund, fundo que “ajuda jornalistas, desenvolvedores e experimentadores a transformarem ideias inovadoras para a mídia em protótipos.”

A logo da Transom foi reproduzida conforme sua página no Twitter @Transom_org.

*Nota do tradutor: GVer é uma forma de fazer referência a um membro do Global Voices.
Tradução editada por Débora Medeiros como parte do projeto Global Voices Lingua

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