Ucrânia: Como a internet transformou os protestos do #Euromaidan em um movimento

Com os protestos do Euromaidan [en] entrando em sua terceira semana, na Ucrânia, as redes sociais e a tecnologia continuam tendo papel chave em sua organização. Desde o ataque do governo a manifestantes pacíficos [en] em 30 de novembro, oitavo dia de protestos, as manifestações do país se transformaram em um movimento de massa antigoverno, e passaram a lembrar ainda mais a Revolução Laranja de 2004.

No entanto, uma das grandes diferenças entre o Euromaidan e os protestos de 2004 tem sido a utilização de novas mídias, redes sociais e outras ferramentas de tecnologia da informação [en] na organização e manutenção dos protestos. 

A man holds his laptop while sitting on chopped wood amid protesters in Kyiv, Ukraine. Photo by Dima Kravchuk. Used with permission.

Um homem abre seu computador enquanto senta sobre pedaços de lenha, em meio aos manifestantes em Kiev, Ucrânia. Foto de Dima Kravchuk. 5 de dezembro, 2013. Publicada com autorização.

Desde o início dos protestos, o Facebook tem assumido papel central na sua organização, informando ao grande público sobre os últimos acontecimentos. O primeiro encontro, organizado em Kiev na noite de 21 de novembro, que foi imediatamente apelidado de EuroMaidan (praça europeia), se espalhou graças aos apelos de jornalistas e ativistas, incluindo Mustafa Nayyem [uk], colaborador do site de notícias independente Ukrainska Pravda [uk].

Organizando manifestantes através de Facebook e Twitter

Tanto Facebook quanto Twitter se tornaram plataformas essenciais para a coordenação dos protestos e suas atividades [en], com o compartilhamento de informações. A página oficial do EuroMaidan no Facebook [uk], alcançou um novo recorde na Ucrânia [uk], tendo acumulado 76 mil “curtidas” em seus primeiro oito dias de existência. A página é utilizada para informar manifestantes sobre notícias urgentes, discutir planos de futuras ações, alertar contra o uso de violência, compartilhar avisos e maneiras de lidar com as forças policiais, além de outras questões. Atualmente, a página tem mais de 141 mil seguidores e 167.700 interações. Uma versão em inglês também foi criada, juntamente com páginas regionais, como o Euromaidan Lviv [uk].

An official Facebook page of Euromaidan protests. The inscription on the cover page quotes the Constitution: "The people shall be the bearer of sovereignty and the sole source of power in Ukraine". Dec.8, 2013. A screenshot by Tetyana Bohdanova.

Foto da página oficial dos protestos do Euromaidan no Facebook. A inscrição na capa da página é uma citação da Constituição do país: “O povo deve ser o portador da soberania e a única fonte de poder na Ucrânia” [uk]. 

As contas oficiais do Euromaidan no Twiter – @EuroMaydan [uk] e @EuroMaydan_eng [en] – assumiram papel similar ao de suas respectivas páginas no Facebook, enquanto ajudam a informar o público internacional [en] sobre os protestos na Ucrânia, que logo no início passaram quase despercebidos na mídia internacional.

Antes de as páginas oficiais surgirem nas redes sociais e conquistarem seu público, os usuários contavam com hashtags (#Євромайдан, em ucraniano, e #Евромайдан, em russo) para compartilhar informações. Para ajudar a reunir todo o conteúdo relevante e posts de redes sociais em um lugar, ativistas formaram diversos sites com agregadores de mídias sociais e links úteis. Entre eles estão: Euromaidan.eu [uk], Euromaidan.tk [uk, ru, en], Euromaidan.com [ru] e Maidan.in.ua [en].

“Euromaidan – SOS”: Rastreando repressão e oferecendo ajuda em tempo real

Logo após a agressão policial contra os manifestantes [vídeo] e as primeiras prisões, novas páginas e grupos surgiram no Facebook para providenciar assistência médica e legal e para espalhar informações básicas que ajudassem a manter os manifestantes seguros.

Facebook page of "Euromaidan-SOS" - a group offering free legal assistance to victims of police violence or arrested on #Euromaidan. A caption on the cover image reads: "Human rights above all" [uk]. Dec. 7, 2013. Screenshot by Tetyana Bohdanova.

Foto da página do “Euromaidan-SOS”, no Facebook, grupo que oferece assistência jurídica gratuita às vítimas de violência policial ou prisões no #Euromaidan. Na página, lê-se: “Direitos humanos acima de tudo” [uk]. 

A Євромайдан SOS (Euromaidan SOS) [uk] reúne informação sobre vítimas de agressão policial, pressões do governo e detenções. Na descrição da página, consta [uk]:

Ця сторінка створена для надання правової допомоги постраждалим на Євромайдані. Ми юристи громадські активісти та журналісти – оперативно збираємо всю інформацію про постраждалих та тих, хто досі приймає участь у мітингах. А також про юристів, консультантів, які готові надати їм правову допомогу – та повязуємо їх між собою.Якщо у вас пропали родичі чи Ви стали жертвою побиття – НЕ МОВЧІТЬ! Відстоюйте свої права разом з нами!

Esta página foi criada para oferecer assistência legal para todos aqueles feridos durante o Euromaidan. Nós – advogados, ativistas civis e jornalistas – coletamos informações oportunas sobre feridos e manifestantes ativos, e os colocamos em contato uns com os outros. Se seus parentes desapareceram ou você foi vítima de agressão – NÃO FIQUE EM SILÊNCIO! Lute por seus direitos junto conosco!

Em seguida, outro site separado, Eurozahyst.org [uk], foi estabelecido com o mesmo objetivo.

Um grupo aberto no Facebook – “The Revolution's Legal Department” [uk] (Departamento Legal da Revolução) – também foi criado para discutir o lado jurídico de questões ligadas ao Euromaidan no país, compartilhar ideias e oferecer auxílio legal a quem precisar.

Juntamente com advogados, profissionais da área da saúde e estudantes, também se organizaram para oferecer auxílio médico gratuito, a integrantes do Euromaidan. Eles também criaram várias páginas no Facebook, incluindo “Організація волонтерів-медиків” (Organização de Médicos Voluntários) [uk] e Майдан.Медики (Maidan.Doutores) [uk] para organizar médicos voluntários, cujo quartel-general tem como bases a Catedral Mykhailivsky de Kiev e a Praça da Independência, principal ponto de encontro dos protestos.

A Facebook page of a group of volunteer doctors offering free medical aid on Euromaidan in Kyiv. Dec. 7, 2013. Screenshot by Tetyana Bohdanova.

Foto da página no Facebook de um grupo de médicos voluntários, que oferecem auxílio médico gratuito para o Euromaidan, em Kiev.  

Reunindo ideias criativas e recursos

Outra página do Facebook foi criada para reunir e compartilhar ideias, além de apoiar e expandir o movimento Euromaidan. O centro de informações “НЕ ЗЛИй МАЙДАН” (Não Enterre o Maidan) [uk] surgiu como uma ideia, em 1º de dezembro, no principal ponto das manifestações em Kiev, e teve sua página oficial no Facebook [uk] criada quatro dias depois. Com mais de 3 mil seguidores, em 7 de dezembro, a página solicita ideias criativas para serem colocadas em ação e reúne slogans e pôsteres de usuários para compartilhar com o público mais amplo da Internet. Além disso, interage com outras iniciativas online relacionadas ao Euromaidan. 

A photoshopped image created by Vitaliy Moroz and circulated online. The image conveys a key message about Euromaidan to the world.

Imagem criada pro Vitaliy Moroz, em 1º de dezembro, 2013, e divulgada online. A imagem traz a mensagem chave do Euromaidan para o mundo: “Os protestos são pacíficos”. 

Além disso, outra página no Facebook – “Страйк плакат” (Cartaz da greve) [uk] – foi criada, especialmente, para compartilhar pôsteres e desenhos a serem utilizados durantes os protestos.

Uma ONG, “Kyevers for reforms” (Kievanos por reformas), também foi lançada como uma iniciativa de financiamento coletivo no Biggggidea.com, com objetivo de coletar 12 mil dólares para ajudar a manter os manifestantes do Euromaidan, em Kiev, aquecidos e alimentados [uk]. Até o prazo final do projeto, em 8 de dezembro, a iniciativa havia conseguido reunir o dobro deste valor em doações.

Coordenando voluntários para o Euromaidan

Muitos observadores notaram a organização no local principal dos protestos, Maidan Nezalezhnosti (a Praça da Independência), e no quartel-general do grupo, o prédio da administração municipal de Kiev, ocupado pelos manifestantes desde 1º de dezembro. De fato, a praça da Independência se transformou em uma barricada, protegida por ativistas durante o dia e patrulhada durante a noite. Pessoas levam e servem comida no local, ajudando a providenciar abrigo e auxílio médico aos manifestantes, enquanto ativistas também se entretêm com diversas atividades [fotos], desde jogos de futebol até concertos, livros e leituras públicas [uk] oferecidas por especialistas em diversas áreas. Enquanto o crédito pelas atividades vai para os manifestantes reunidos no local, ativistas também têm utilizado ferramentas de Internet para ajudar no processo.

O site Galas.org.ua [uk] utiliza um mapeamento coletivo para coordenar as necessidades de membros do EuroMaidan, com voluntários que se dispõem a ajudar. O grupo também lançou uma página própria no Facebook [uk].

Activists use crowdmapping tools to coordinate Euromaidan volunteers in Kyiv. Dec. 7, 2013. Screenshot by Tetyana Bohdanova

Imagem da ferramenta de mapeamento coletivo, utilizada por ativistas para coordenar voluntários do Euromaidan, em Kiev.  

O site Maidanhelp.org tem um propósito parecido, reunindo informações de forma coletiva sobre as necessidades atuais de integrantes do Euromaidan.

Solidariedade com acesso à Internet 

Com estas e outras iniciativas surgindo todos os dias, fica claro que a tecnologia tem se tornado uma das chaves na coordenação e, mais importante, no apoio e manutenção dos protestos do EuroMaidan, na Ucrânia. No final de semana anterior, um dos principais provedores de Internet do país, Volya-Cable, anunciou [uk] que havia aumentado a velocidade de conexão da Internet para seus clientes que vivem no centro de Kiev, e pedia que eles abrissem seu acesso para que os manifestantes pudessem utilizar a rede. Muitos seguiram o conselho e liberaram suas redes Wi-Fi, enquanto outros divulgaram publicamente suas senhas de rede [uk].

Tradução editada por Débora Medeiros como parte do projeto Global Voices Lingua

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