Brasil/Japão: A Blogueira Que Fez a Ponte Após o Terramoto

Este post faz parte da nossa cobertura especial Terremoto no Japão 2011

“Sou uma pessoa como qualquer outra, que gosta de anotar os pequenos acontecimentos do dia-a-dia”, descreve-se humildemente Mihoko Satou, uma blogueira japonesa, que nasceu e cresceu no Brasil. A mesma que há um ano atrás, no seguimento do Terramoto no Japão, demonstrou através do seu blog uma dedicação e persistência fora do comum.

Em Março de 2011, Mihoko trabalhava como intérprete e tradutora freelancer, entre as línguas portuguesa e japonesa, a partir da terra natal dos seus pais, Ibaraki, que foi conhecer há 20 anos e onde vive desde então. Estima-se que a comunidade de brasileiros nipo-descendentes no Japão seja atualmente de mais de 300.000 emigrantes, conhecidos como dekasseguis, e, ao mesmo tempo, o Brasil abriga a maior população japonesa fora do país, com cerca de 1 milhão e meio de nikkeis, como são denominados os japoneses e seus descendentes.

Mihoko Satou

Mihoko Satou

Atormentada com os acontecimentos imediatos e os problemas da radioatividade e tremores secundários que se seguiram ao desastre, Mihoko resolveu reanimar um blog que tinha já desde 2009, Maracujá do Mato, para incansavelmente passar informações sobre o terramoto em português e desmistificar rumores sobre o que estava a acontecer no Japão.

Foi assim criada uma autêntica ponte entre o Japão e a comunidade lusófona em geral, e particularmente o Brasil, como Mihoko explica numa entrevista ao Global Voices:

Resolvi reativar o blog que estava abandonado, com a intenção de passar as informações aos amigos nikkeis (descendentes de japoneses) residentes na região e para tranquilizar os familiares e amigos no Brasil. Pois foi muito grande o susto do mega-terremoto e os tsunamis que assolou a região nordeste no Japão na costa do pacífico, e depois o veio o pânico por causa do acidente nuclear e os rumores que correram mundo afora, com a mídia ocidental alarmado com a situação, pricipalmente por que as informações estavam obscuras sem muitos esclarecimentos. Pela gravidade do acidente, e a usina que ainda não estava estabilizada no momento, achei que seria importante ficar atenta às informações, e procurar esclarecimentos principalmente sobre os riscos da radiação, além de procurar saber o que poderia ser feito dentro do alcance de cada um. No meu caso, pesquisei bastante sobre o assunto para estar ciente do que estava acontecendo.

Sobre como era feita a seleção das notícias a traduzir, acrescenta Mihoko:

Eu simplesmente via as notícias que eram do meu próprio interesse para adquirir informações e as traduzia para repassar a quem interessasse. Eram notícias que passavam na TV japonesa, fazia as buscas na internet em jornais on-line e no twitter acompanhava os gorjeio dos especialistas sobre os assuntos que giravam em torno do acidente da usina nuclear de Fukushima. Buscava as notícias e dava uma rápida checada se já não haveria o mesmo assunto circulando no noticiário internacional em português e se tivesse o mesmo assunto, procurava por outra.

"Tinha criado o blog com a intenção de anotar os pequenos acontecimentos do dia-a-dia, pois gosto muito de tirar fotos de flores". Japão - In Memoriam. Foto de Jônatas Cunha de São Paulo, Brasil, no Flickr (CC BY-SA 2.0)

"Tinha criado o blog com a intenção de anotar os pequenos acontecimentos do dia-a-dia, pois gosto muito de tirar fotos de flores". Japão – In Memoriam. Foto de Jônatas Cunha de São Paulo, Brasil, no Flickr (CC BY-SA 2.0)

Mihoko conta ainda sobre a forma como a partilha do resultado dessa sua pesquisa, e respectivas traduções, no seu blog, naturalmente servia para “amenizar a aflição” daqueles falantes de português que estavam a viver as consequências do desastre:

Pois os [brasileiros] que estão aqui no Japão temiam pelo que podia vir a acontecer e apesar de muitos falarem o japonês, a grande maioria não lê o japonês e ficam alheios às notícias locais, se limitando às notícias que são divuldados nos jornais e canais de TV brasileira com algumas horas de atraso. E o objetivo era passar as informações para tentar amenizar a aflição, o medo que a maioria sentia e que eu mesma sentia, sobre o acidente nuclear. Como citei algumas vezes no blog, já que estava aqui mesmo (sem ter para onde correr), procurava as informações e esclarecimentos para tentar me acalmar e simplesmente as dividia com os amigos e conterrâneos.

Atualmente Mihoko continua a “anotar os pequenos acontecimentos do dia-a-dia”, enquanto vai estabelecendo ligações entre as duas línguas, e geografias, através do Twitter (@maracujadomato).

Apesar do seu blog já ter cessado atividade, ficou em Maracujá do Mato o arquivo do contributo humanitário de uma blogueira, que através da sua seleção de notícias e das traduções ali publicadas ajudou certamente a quebrar barreiras linguísticas e a promover um maior diálogo e solidariedade transnacional iluminando as vivências e respostas de um terramoto devastador.

Este post faz parte da nossa cobertura especial Terremoto no Japão 2011

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