Brasil: A Morte de Sócrates, Um Ídolo Brasileiro

Um dos maiores jogadores de futebol do Brasil, Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, morreu às 4:30 da manhã de 4 de dezembro de 2011, em decorrência do choque séptico causado pelo excessivo consumo de álcool ao longo dos anos.

Conhecido simplesmente como Sócrates (e ainda Doutor Sócrates, visto que era médico formado, ou Magrão, apelido de infância), começou a jogar pelo Botafogo da cidade de Ribeirão Preto, no interior de são Paulo, passou a ídolo do Sport Club Corinthians Paulista e disputou as copas de 82 (como capitão, numa das seleções mais geniais da história) e de 86 pela Seleção Brasileira de futebol.

O blogueiro Rodrigo Cárdia, do blog Cão Uivador lamenta:

Cartum de Carlos Latuff em homenagem ao jogador. Sob licença CC

Perde o futebol, perde o Brasil, perdem todos os que têm espírito contestador. Pois tudo isso tinha Sócrates: grande futebol, o Brasil no nome (Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira), e um pensamento crítico muito raro no meio futebolístico.

Sócrates, o Político

Além de jogador de futebol, Sócrates foi um líder político dentro e fora de campo. Autodeclarado Comunista, foi um dos artífices da chamada Democracia Corinthiana, período conhecido pela influência dos jogadores nos processos decisórios do departamento de futebol do clube e pela militância de alguns jogadores contra a vigente Ditadura Militar no Brasil (que chegaria ao fim em 1985).

O blog Show de Camisas explica:

Sócrates não lutou por democracia só no Corinthians. Ele teve papel de destaque na campanha por Diretas Já no Brasil, no início da década de 80. Tinha ideais socialistas e era admirador do regime cubano – o mais novo de seus filhos recebeu o nome de Fidel, em homenagem ao líder Fidel Castro.

Sobre Sócrates e seu apoio ao MST, Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. Por Max da Rocha, da Brigada de Audiovisual da Via Campesina, sob licença CC

Sobre Sócrates e seu apoio ao MST, Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. Por Max da Rocha, da Brigada de Audiovisual da Via Campesina, sob licença CC

Sócrates não escondia a sua militância política em campo, relembra o jornalista Eduardo Marini, dizendo que  “Magrão nunca foi de festejar gols com explosões de alegria”:

Mas quando comemorava, quase sempre o fazia da mesma forma, à moda dos Panteras Negras: em silêncio, com um punho fechado e erguido para o alto e o outro totalmente para baixo, também cerrado

Nicolau, do blog Futepoca critica a mídia por ter tentado esconder o real significado de seu gesto típico de comemoração de gols, e Rodrigo Cárdia completa:

[Sócrates] participou ativamente da campanha “Diretas Já” em 1984, e nunca escondeu que seu lado era a esquerda. Nunca se cansou de criticar a formação de jogadores no Brasil (que procura criar apenas atletas de alto rendimento, sem se preocupar com “o lado humano”, ou seja, em formar também cidadãos mais conscientes), assim como os rumos da política esportiva no país, mais dedicada à organização de grandes eventos do que ao próprio fortalecimento do esporte brasileiro.

Tributo em Campo

Seu gesto, o punho fechado e erguido, foi repetido pelos jogadores do Corinthians na última partida do Campeonato Brasileiro de 2011, durante o minuto de silêncio antes do apito inicial, em 4 de dezembro. Jogo este que sagrou o Corinthians campeão brasileiro, fato que foi comemorado também como uma homenagem ao genial jogador.

Nicolau, do blog Futepoca completa:

Às 17h deste domingo, 4 de dezembro de 2011, o Corinthians entrava em campo no Pacaembu para disputar o título de Campeão Brasileiro. A uns 300 quilômetros dali, em Ribeirão Preto, o Doutor Sócrates recebia as últimas homenagens de uma vida intensa, mas interrompida prematuramente. No minuto de silêncio, em São Paulo, uma das várias cenas que ficarão marcadas de mais esta “final” (foram tantas…): os jogadores do Timão, perfilados em torno do círculo central, levantaram o braço direito relembrando a comemoração clássica do Magrão.

O blogueiro Hugo Albuquerque comenta:

Na esteira da morte do Doutor Sócrates, seria uma indignidade o Corinthians perder o título brasileiro ontem. Justo o Doutor, que declarou querer morrer num domingo com o seu Corinthians campeão.

Cartum de Carvall. Sob licença CC

O blogueiro Rogério Tomaz Jr resume o jogador e o homem:

Sócrates foi um dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro.

E era amplamente reconhecido e respeitado pelo seu caráter, pela sua inteligência e pela sua personalidade.

O ex-jogador Walter Casagrande Jr, que jogou com Sócrates no Corinthias da Democracia Corinthiana e foi um de seus ideólogos, escreveu uma carta emocionada para seu amigo, assim como o professor Fernando Lemos, que também fez sua homenagem.

O ex-presidente brasileiro, Luís Inácio Lula da Silva divulgou uma nota lamentando a morte de Sócrates.

O jornalista Xico Sá, amigo de Sócrates, também escreveu uma emocionada despedida, em que declara:

TE AMO PRA SEMPRE, DOUTOR.

O blogueiro e professor Francisco Bicudo falou sobre o que Sócrates significou para ele e para sua geração:

A Seleção de 82 e as Diretas Já são símbolos da minha geração. E Sócrates é uma espécie de síntese, de figura representativa dos dois momentos. Paz e sossego, Doutor Sócrates. Nossas lembranças guardarão para sempre os calcanhares geniais, a elegância desfilada em campo, a inteligência e o carinho no trato com a redonda, o olhar altivo e sereno, as lutas por democracia, a consciência política, a preocupação com a realidade social brasileira. Meu futebol e minha política ficaram hoje um pouco mais chatos.

O ativista e escritor Celso Lungaretti resumiu o sentimento de muitos brasileiros:

Perdemos um grande companheiro, um irmão de fé. Foi doído demais.

Homenagem a Sócrates. Montagem de Pierre Lucena, sob licença CC

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