Airbus AF 447: Tristeza, falta de informação e sensacionalismo

O desaparecimento do airbus que sumiu do radar no domingo a caminho de Paris, na França, vindo do Rio de Janeiro, no Brasil, causou muita dor, dúvidas e, é claro, especulação na mídia. O vôo da Air France número AF 447 decolou do Brazil no domingo, dia 31 de maio de 2009, com 216 passageiros e 12 tripulantes e sua chegada estava prevista para o dia seguinte. Ele nunca aterrisou.

Picture by Mysid (Wikiedia Commons author), used under a public domain license.

Imagem por Mysid (autor do Wikipedia Commons), utilizada sob uma licença de domínio público.

Autoridades afirmaram que 58 brasileiros morreram na queda. Em alguns blogs brasileiros, no entanto, o debate é sobre a cobertura do desastre feita pela mídia. Para o Leite de Cobra, a maneira como o sumiço do airbus e o suposto desastre foram tratados é revoltante:

Acho perverso isso da imprensa ficar divulgando fatos e particulares da vida das vítimas do desastre aéreo. Não têm o mínimo respeito e nem disfarçam o desejo de que a dor renda, em escala nacional, o máximo possível, até que venha a próxima catástrofe, o próximo escândalo. Ô corja! Por isso que não acompanho mais nada desse triste episódio. Pra mim deu!

De acordo com os blogueiros, o problema é que a mídia sempre quer fazer uma reportagem e provar que a informação é verdadeira não importa como – criando teorias ou aumentando o sensacionalismo. Camerini, do blog Transbrasil, diz:

Os experts de plantão já estão desfilando as baboseiras nas Tvs.

Falam e falam sobre o que ainda não passa de especulações, até Raios são culpados pela queda do AirBus da Air France !

É prematuro qualquer indicação sobre o acidente até que as equipes consigam, primeiro localizar os destroços do avião, depois a Caixa Preta, com o Data Recorder e o Voice Recorder, mas, como dá audiência levar para a Tv um bando de especialistas natos em acidentes aéreos, o que se pode fazer!

Ouvir um Chamar o avião da Air France de Boeing A 330, outro dizer que o Atlântico é o lugar mais seguro do sistema solar , depois outro que afirma categoricamente que um raio derrubou o avião!

A Verdade é que ninguém sabe ainda o que aconteceu, aonde aconteceu e como aconteceu, mas muitos especialistas deveriam saber que um acidente aéreo não ocorre apenas por uma só causa, e sim por mais fatores que desencadeam um acidente

Para Eu, Você e Todo Mundo, a busca desesperada por especialistas também é um problema:

Gente, que absurdo!

Eu como jornalista fico indignada mesmooo!!! Aqui no Futura recebemos o e-mail de uma assessoria de Campinas falando de uma terapeuta holística que analisou a catástrofe desse acidente pela numerologia, tarô. Enfim, de acordo com o texto dela que vou colocar abaixo, essa catástrofe é efeito da conjunção de uma série de números ruins, energias negativas… pra mim é demais querer explorar uma tragédia como essa dessa maneira. Que vergonha… e ainda dos jornalistas que se propõem a divulgar isso! Vejam o absurdo:

Detalhe: não estou julgando a numerologia, mas o uso que está se fazendo dela nesse caso!

Com um comentário controverso, levantando a questão muito discutida de que alguns desastres são considerados mais importantes e interessantes como notícia do que outros de acordo com a classe social envolvida, Bruno Nepumoceno chegou à seguinte conclusão, depois de conversar com colegas no trabalho:

Fui dar minha opinião sobre o assunto e nego ficou me criticando, dizendo que eu não tenho coração, que eu sou insensível e coisas do tipo. A vontade que deu é de dizer: VOCÊS QUE SÃO BURROS O SUFICIENTE PARA NÃO ENXERGAR QUE O JORNALISMO GANHA DINHEIRO EXPLORANDO A DESGRAÇA ALHEIA! Se fosse um ônibus cheio de nordestinos com a mesma quantidade de pessoas, o caso já teria caido no esquecimento.
Centenas morrem de fome no nordeste Brasileiro. O que é um aviãozinho cair?

Photo by Flickr user Caribb published under a Creative Commons license

Foto de um A330 da Air France pelo usuário do Flickr Caribb, publicada sob uma licença Creative Commons.

Mesmo assim, há uma forte onda de tristeza e choque ao redor do mundo, e naturalmente blogueiros brasileiros não são os únicos discutindo on-line o acidente. Do Kuwait, o blogueiro ZDistrict [En] resumiu seus sentimentos:

228 people from Brazil to France on an Air France flight has vanished over the Atlantic after flying into turbulence. I haven’t seen a tragedy such as this in a long time, a flight of this type crashing in the middle of the Atlantic.

228 pessoas num vôo da Air France que ia do Brasil para a França sumiram sobrevoando o Atlântico depois de uma turbulência. Não via há muito tempo uma tragédia como essa, um vôo desse tipo caindo no meio do Atlântico.

Charles [En], comentando no ZDistrict, tem isso a dizer:

Fear, helpless, horrific moment – it brings tears and heart ache to hear anyone enduring that final moment. Really hope they were all asleep during all that moments. Its over now, their faith bring them to where they belong.

Medo, desamparo, um momento horrível – traz lágrimas e uma dor no coração ouvir qualquer um passando por aquele momento final. Eu realmente espero que eles estivessem todos dormindo durante todos aqueles momentos. Agora acabou, que a fé de cada um os leve para o lugar que lhes pertence.

O comentário de Another Me [En] diz:

i’m so sad for the families. i fly frequently and can’t imagine what the passengers must have felt, not to mention the families. i also have an infant and that just breaks my heart to think of that innocent little baby, unaware of what’s happening. in my opinion, the governing international aviation athority (whoever that is) needs to restrict pilots from flying through or above thunderstorms, and require that they fly around all storms. those storms can reach upward of 50,000 ft; trying to fly above is just too risky.

Estou muito triste pelas famílias. Eu vôo frequentemente e não consigo imaginar o que os passageiros sentiram, para não mencionar suas famílias. Eu tenho um filho e parte meu coração pensar naquele pequeno e inocente bebê, sem consciência do que está acontecendo. Na minha opinião, a autoridade internacional de aviação (sela ela qual for) precisa proibir os pilotos de voarem através, ou por cima, de tempestades, e exigir que eles passem ao redor delas. Essas tempestades podem chegar a mais de 15km de altitude; tentar voar acima disso é muito arriscado.

Tragédias aéreas sobre o oceano Atlântico foram muitas vezes associadas ao Triângulo das Bermudas, localizado ao norte do Brasil, entre a Flórida (EUA), Porto Rico e as ilhas Bermudas. Ainda do Kuwait, o usuário do Twitter @2Twenty3 sugere que “o Triângulo das Bermudas precisa ser investigado” [En].

Cynthia Drescher, escrevendo no Britannica Blog, afirma [En] que a falta de informações sobre o desastre vai atrair teóricos da conspiração, e muitos já tentaram ligar a queda ao Triângulo das Bermudas.

…[T]he skeptics would like to heighten the drama by associating the Bermuda Triangle with this recent mystery. What’s next — asserting that the Triangle is now some sort of giant trapezoid? Perhaps the mysterious area got bored with hanging out off the US coast and decided to journey to Brazil for some caipirinhas?
Although authorities haven’t yet confirmed that the floating seats are indeed from the missing Air France jet, it’s pretty easy to see on the map above that for once, this possible tragedy has nothing to do with aliens or electromagnetic fields or the ghost of Amelia Earhart. It does, however, have everything to do with freak accidents and airplane safety.

…[O]s céticos adorariam aumentar o drama ao associarem o Triângulo das Bermudas a esse mistério recente. O que vem depois — afirmar que o Triângulo é algum tipo de trapézio gigante? Talvez a misteriosa área ficou entediada com a costa dos EUA e decidiu viajar para o Brasil para tomar caipirinhas?
Apesar das autoridades ainda não terem confirmado que os assentos flutuantes pertencem realmente ao avião desaparecido da Air France, é muito fácil perceber no mapa acima que, dessa vez, essa possível tragédia não tem nada a ver com alienígenas, campos eletromagnéticos ou com o fantasma de Amelia Earhart. No entanto, tem tudo a ver com acidentes estranhos e a segurança do avião.

Sem esquecer do efeito do Triângulo das Bermudas, o blog polaco Tierra Incognita [Pl] se pergunta o que teria acontecido, afirmando que apesar da catástrofe do desaparecimento, ele ainda ama voar:

Uwielbiam latać samolotem. Podróż lotnicza nie wywołuje u mnie żadnego stresu, wręcz przeciwnie – działa uspokajająco i relaksująco. W chwili gdy maszyna odrywa się od ziemi wpadam w specyficzny błogostan, mam wrażenie że wszystkie moje problemy i zmartwienia pozostały tam na dole. Świadomość, że przez najbliższe kilka godzin podróży będę w zupełnie innym wymiarze, gdzie w sumie nic ode mnie nie zależy, sprawia mi wielką frajdę. Jak dziecko, godzinami mogę gapić się przez okienko, nawet jeśli to czarna noc i widać tylko gwiazdy.

Zastanawiam się dlaczego ten właśnie wypadek aż tak bardzo wlazł mi pod skórę? Złożyło się na to pewnie kilka czynników – Air France jest jednym z moich ulubionych przewoźników, dosłownie kilkanaście dni temu odprowadzałem bliską przyjaciółkę na samolot lecący z Caracas do Paryża, a ja sam też na trasie Ameryka Południowa – Europa latam dość często. No i jeszcze ta tajemniczość tej katastrofy – nie żadne „tradycyjne” kłopoty przy starcie, bądź lądowaniu, ale zaginięcie gdzieś na środku oceanu. Dobrze, że przynajmniej nie nad Trójkątem Bermudzkim…

Na szczęście nie sądzę aby ten wypadek zmienił mój stosunek do latania. Nadal się cieszę, że prawdopodobnie jeszcze w tym miesiącu będę musiał kilka razy wsiąść do samolotu. I wciąż mam nadzieję, że jeszcze w tym roku uda mi się dolecieć samolotem do Księżyca…

Eu amo viajar de avião. Viajar pelo ar não é nada estressante para mim, ao contrário – me relaxa e acalma. No momento em que a máquina deixa de tocar o solo, eu entro num estado específico de paz e sinto como se todos os meus problemas fossem deixados lá em baixo. Pensar que vou ficar preso pelas próximas horas numa dimensão completamente diferente, onde absolutamente nada depende de mim, é muito legal. Como um garoto, posso ficar olhando pela janela por horas, mesmo que durante a noite, e tudo que consigo ver são as estrelas. Me pergunto por que exatamente esse acidente me tocou tão profundamente? Provavelmente por algumas razões: a Air France é uma das minhas companhias favoritas, alguns dias atrás eu levei um grande amigo para um vôo de Caracas a Paris, e eu mesmo viajo muito na linha América do Sul – Europa. E todo o mistério envolvendo essa catástrofe – não os ‘usuais’ problemas com decolagem e pouso, mas o desaparecimento em algum lugar no meio do oceano. Ainda bem que não aconteceu no Triângulo das Bermudas… para minha sorte, não acho que esse acidente vai mudar minha atitude sobre voar. Ainda estou feliz sabendo que muito provavelmente sentarei num avião algumas vezes esse mês. E espero, também nesse mês, pegar o avião para a Lua.

Discussões e rumores começaram a focar não só nos estranhos padrões do clima na região do Atlântico em que o avião caiu, mas também nos sistemas computadorizados do Airbus A330-203. Alguns investigam, especificamente, as coincidências entre o vôo da Air France e um vôo de outubro de 2008 da Qantas para Perth, na Austrália, que desceu 200 metros em uma questão de minutos, forçando o avião a fazer um pouso de emergência. Outros argumentam [En] que esse incidente não é relevante para o recente desastre. De Plane Talking [En], escrito por Ben Sandilands no Crikey Blogs da Austrália:

It has been reported by The Aviation Herald, an online Europe based journal of aviation incidents and news that the main body of electronic alerts begin with the disengagement of the autopilot and were followed by messages related to the ADIRU or air data and inertial reference units and the PRIM or flight control primary computer which is informed about speed, attitude and other material flight values by the ADIRUs.
Superficially this resembles the onset of the mid air upset that caused Qantas flight QF72 from Singapore to Perth to make an emergency landing in Learmonth last October.
The PRIM will in some flight modes intervene in the flight controls settings of the jet to inhibit pilot inputs which would exceed critical limits which could stall the airliner, or overload parts of the structure or control surfaces on the wings or rudder.
However these limitations can also be in turn locked out by the pilot.
Other reports indicate that these ‘unprecedented’ messages were concentrated in a four minute period, ending with a final advisory message about the vertical speed, that is, the rate at which the jet was falling rather than any speed with which it was also moving forwards.
Faulty ADIRU units in the Qantas A330-300 operating the flight that diverted to Learmonth remain a major focus of an unfinished air accident investigation by the ATSB. That investigation is also looking at other ADIRU related incidents on Qantas A330s.
However the Qantas ADIRU units were made by Northrop Grumman, while those in the Air France jet were made by Honeywell, They are two completely different designs, running totally different sets of programmed logic to serve the same ends.

Foi divulgado pelo The Aviation Herald, um jornal on-line europeu sobre incidentes e notícias de aviação, que a principal parte dos alertas eletrônicos começou com o desligamento do piloto automático e foi seguida por mensagens relacionadas ao ADIRU – dados aéreos e unidades de referência de inércia – e ao PRIM – computador primário de controle de vôo – que é informado sobre velocidade, altura e outros valores de vôo materiais pelos ADIRUs.
Superficialmente isso se parece com o desenrolar do distúrbio em pleno vôo, que levou o vôo QF72 da Qantas, de Singapura a Perth, a fazer um pouso de emergência em Learmonth em outubro passado.
O PRIM vai intervir, em alguns modos de vôo, nas configurações dos controles de vôo do avião para impedir ações do piloto que ultrapassariam limites críticos e poderiam causar uma perda de sustentação da aeronave, ou sobrecarregar partes da estrutura ou das superfícies de controle nas asas ou no leme.
No entanto, essas limitações podem ser destravadas pelo piloto.
Outros relatórios indicam que essas mensagens ‘sem precedentes’ foram concentradas em um período de quatro minutos, acabando com uma mensagem final sobre a velocidade vertical, ou seja, a medida em que o avião estava caindo ao invés de qualquer velocidade na qual estivesse se deslocando.
Unidades ADIRU defeituosas no Qantas A330-300, operando o vôo que se desviou para Learmonth, permanecem um dos principais focos de uma investigação de acidente aéreo ainda em andamento feita pela ATSB. Essa investigação também está considerando outros incidentes relacionados com ADIRUs nos Qantas A330.
Entretanto, as unidades ADIRU do Qantas foram fabricadas pela Northrop Grumman, enquanto as do avião da Air France foram fabricadas pela Honeywell. São dois projetos completamente diferentes, rodando dois tipos de lógica programada totalmente diferentes para os mesmos fins.

A maioria dos passageiros que perderam suas vidas eram franceses: havia 61 passageiros e 11 tripulantes franceses. Charles-guy de Kerimel, escritor de história da aviação do blog Des avions et des hommes expressa suas condolências [Fr] aos passageiros e à tripulação do Airbus A330-203.

L’annonce de cet accident me remplit de tristesse.
Le plus grave accident d’Air France, nous dit-on.
Indépendamment du nombre de victimes, pour chacun de ceux qui sont concernés la gravité est extrême, pour la victime bien sûr, mais aussi pour les parents, les amis, les collègues : ils se trouvent brutalement confrontés à une perte irrémédiable. Je m’associe à leur peine. Je songe au personnel d’Air France ; en premier lieu aux navigants, comme leurs aînés ils vont poursuivre leur tâche.

O anúncio desse acidente me enche de tristeza.
Nos foi dito que este é o acidente mais sério da Air France…
Independente do número de vítimas, para cada um dos envolvidos é algo extremamente sério – para a vítima certamente, mas também para os parentes, amigos, colegas: eles têm que encarar subitamente uma perda irreparável. Eu sou solidário à dor deles. Eu penso na equipe da Air France; grandes navegantes, continuando o trabalho de seus antecessores.
Eustaquio Santimano/Creative Commons

"Em memória aos 228 passageiros e tripulação do vôo AF 447" do usuário do Flickr Eustaquio Santimano, publicado sob uma licença Creative Commons.

John Liebhardt, Sylwia Presley e Sarita Moreira colaboraram com esse artigo.

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