Nepal: Monarquistas param a capital Catmandu

Greve no Nepal. Imagem pelo usuário do Flickr Nepaliaashish, usada sob uma licença Creative Commons.

Greve no Nepal. Imagem pelo usuário do Flickr Nepaliaashish, usada sob uma licença Creative Commons.

Grupos pró-Monarquistas que exigem a restauração da monarquia constitucional e o estabelecimento de um Estado Hindu no Nepal forçaram a capital a parar. As ruas de Catmandu, geralmente uma movimentada cidade de cerca de um milhão de pessoas, ficaram vazias na segunda-feira enquanto empresas e escolas ficaram fechadas. O blog em nepali Mysansar tem fotos da via principal da cidade durante o protesto.

Convocado pelo partido pró-monarquista Prajatantra Party (RPP) e encabeçado pelo ex-ministro do interior, Kamal Thapa, o protesto novamente pôs em debate a questão – “há futuro para a monarquia no Nepal?”

Depois de quase três séculos de monarquia, o Nepal foi declarado uma república depois de um acordo de paz entre o governo e os rebeldes Maoístas. O Rei Gyanendra era uma figura bastante impopular quando foi deposto em 2008; mas o relativo sucesso do RPP em convocar o protesto e o jeito pelo qual as pessoas receberam o rei em um festival religioso recente, indicam que algumas pessoas estão dispostas a dá-lo uma segunda chance.

O blog United we blog for democratic Nepal [Juntos Blogamos por um Nepal Democrático], mantido por um grupo de jornalistas, informou sobre o festival religioso:

“A lot of ex-royalists and general people out of curiosity had lined up this time on the roadside to get glimpse of the ex-monarch. Some people cheered as king passed by. There was a group of people who sang bhajan to welcome Shah. Some people screamed slogan Raja Aaau Desh Bachau “Come King and Save the Country” The same slogan chanted by staunch royalists. Gyanendra Shah tried to mingle with the people…he sometime shook his head, waived his hand and joined his palms to honor the elders, according to Kantipur. A woman who was standing by the street complained “Hajur…there is no peace in the country.” Gyanendra Shah who stayed in Panauti for one and half hour prior he returned to the capital only said, “I wish there is justice and no one faced difficulties.”

“Muitos ex-monarquistas e pessoas em geral, por curiosidade, se alinharam desta vez ao lado da estrada para conseguir vislumbrar o ex-monarca. Algumas pessoas aplaudiram quando o rei passou. Havia um grupo de pessoas que cantou “bhajan” como boas-vindas ao Shah [Rei]. Algumas pessoas gritavam o slogan Raja Aaau Desh Bachau “Venha o Rei e Salve o País”, o mesmo slogan entoado por monarquistas radicais. O rei Gyanendra tentou se misturar com o povo… em alguns momentos ele balançou a cabeça, levantou a sua mão e juntou suas palmas das mãos para honrar os anciãos, de acordo com Kantipur. Uma mulher que estava de pé pela rua reclamou: “Hajur … não há paz no país”. O Rei Gyanendra, que ficou em Panauti por uma hora e meia antes de voltar à capital apenas disse: “Eu desejo que haja justiça e que ninguém enfrente dificuldades”.

Alguns monarquistas leais também vêm fazendo rondas em publicações internacionais para tentar fazer mudar a percepção para seu lado. Dirgha Raj Prasai, ex-membro do parlamento, escrevendo para o Sri Lanka Guardian, argumenta que os Maoístas e vários partidos políticos estão destruindo o Nepal e só a monarquia pode salvar o país.

O debate sobre o status do Nepal como um Estado secular também foi atraiu os holofotes. Prasai, em seu artigo acima mencionado, apelando para a monarquia ser restaurada, injeta religião no debate, dizendo que a República secular vai destruir o caráter do Nepal como uma mistura única de tradições hindu e budista.

O blogueiro Maila Baje especula que o Nepal pode tranquilamente deixar de lado seu presente status de Estado secular:

“….It was not politically correct to defend Hinduism lest it imply support for the discredited monarchy. The Maoists, the storyline went, had to be brought into the mainstream at all costs. (The rebels, for their part, had long recognized that international funding was most copious for restructuring the religious character of the state.)

Nearly four years after that simulated peace, it has become fashionable to break the silence. A republican Nepal might be better able to anchor its unique identity as a Hindu state, after all. President Ram Baran Yadav and Maoist leader Pushpa Kamal Dahal have purportedly conceded that the secularization of the state was a mistake. Granted, they made the admission during private meetings with Hindu men of robes. But that goaded Deputy Prime Minister Sujata Koirala toward pushing the envelope. She wants a referendum on whether Nepal should return to state Hinduism.”

Não era politicamente correto defender o hinduísmo visto que implica em apoio à monarquia desacreditada. Os maoístas, conta a história, tiveram de ser trazidos ao conhecimento público a todo custo. (Os rebeldes, por sua vez, há muito reconheceram que o financiamento internacional foi mais abundante para a reestruturação do caráter religioso do estado.)

Quase quatro anos depois da paz simulada, tornou-se moda quebrar o silêncio. Um Nepal republicano talvez seria melhor para ancorar sua identidade única como um Estado Hindu, afinal. O presidente Ram Baran Yadav e o líder Maoísta Pushpa Kamal Dahal teriam supostamente admitido que a secularização do Estado foi um erro. Eles admitiram durante uma reunião privada com homens hindus com vestes. Mas isto incentivou a Vice-Primeira-Ministra Sujata Koirala a dar o primeiro passo. Ela quer um referendo sobre se o Nepal deve ou não retornar a ser um Estado Hinduísta.

O relativo sucesso do protesto na largamente liberal e progressista Catmandu convocado pelo RPP é, sem dúvida, uma indicação de que quase dois anos depois que o país foi declarado uma república secular, há uma parte da sociedade que ainda não está satisfeita e convencida da mudança. Cabe aos dirigentes e ao público decidir como vão abordar a massa de insatisfeitos.

Inicie uma conversa

Colaboradores, favor realizar Entrar »

Por uma boa conversa...

  • Por favor, trate as outras pessoas com respeito. Trate como deseja ser tratado. Comentários que contenham mensagens de ódio, linguagem inadequada ou ataques pessoais não serão aprovados. Seja razoável.