América Latina: O rápido aumento da desertificação

O termo “desertificação” soa parecido com “deserto”, mas há uma diferença fundamental entre ambos: enquanto os desertos são algumas das formações maravilhosas da natureza, a desertificação é um processo de degradação das terras após terem sido afetadas pelas mudanças climáticas, por atividades humanas e forças naturais até eventualmente se tornarem desertos.

Foto por Macnolete e usada sob uma licença Creative Commons.

Foto por Macnolete e usada sob uma licença Creative Commons.

Apesar da influência das mudanças climáticas na desertificação ainda não ser completamente compreendida, de acordo com o GreenFacts [en], sabe-se que altas temperaturas resultantes do aumento do nível de dióxido de carbono podem ter um impacto negativo através da crescente perda d'água do solo e da redução de chuvas em terras áridas. Ao mesmo tempo, a desertificação contribui para as mudanças climáticas na medida em que libera na atmosfera o carbono mantido na vegetação de terras áridas e no solo.

A desertificação está causando danos em todos os lugares. Neste exato momento, está destruindo colheitas, aumentando o preço dos alimentos que ainda restam, e em algumas áreas, animais estão morrendo. Pessoas também estão sendo levadas de suas casas, como o blogueiro Miguel Angel Alvarado de El Salvador explica com a situação da residência presidencial precisar ter sido movida por causa da desertificação [es]:

El traslado de casa presidencial, del Barrio san Jacinto al local en donde estaba el Ministerio de Relaciones exteriores, según informes extrajudiciales, obedece a la prevención del ejecutivo ante un posible hundimiento del suelo generado por cárcavas en este sector.

De acordo com documentos não-judiciais, a relocação da residência presidencial do bairro de San Jacinto para a área onde o Ministério de Relações Internacionais estava situado foi uma medida preventiva do setor executivo para evitar um possível desmoronamento do chão como consequência dos sulcos que se formaram na terra.

O continente mais afetado é a África, e isto pode ser visto especialmente no Quênia, onde a parte mais suscetível aos efeitos da desertificação são jovens garotas. Quando o reservatório de água se esgota no orfanato de Dago Dala Hera, ao oeste do Quênia, mães voluntárias e crianças têm de retirar água suja de um rio próximo ao local para cozinhar e beber. “Ir ao rio sozinhas tarde da noite tornam as garotas mais vulneráveis a homens que podem abusá-las sexualmente,” [en] disse Edwin Odoyo, cuja mãe Pamela fundou o orfanato.

Apesar da desertificação ter seu maior impacto na África, as condições ambientais da América Latina também estão sob transformações significativas, como discutido recentemente em Buenos Aires, Argentina, na Nona Sessão da Conferência da Convenção das Nações Unidas para Combater a Desertificação. O perito italiano Massimo Candelori, representante da Convenção para Combater a Desertificação disse em uma entrevista para a Tierramerica que a situação na América Latina é preocupante, considerando-se que não há informações suficientes sobre o escopo da desertificação na região. “Não temos dados atuais. Uma das metas discutidas durante a nona sessão foi a de obter indicadores que nos permitam compreender melhor a situação… os últimos dados que temos datam de 10 anos atrás” disse Candelori.

Em países da América Latina onde a agricultura e criação de gado são alguns dos maiores setores da economia, a desertificação pode ser um predador silencioso, entretanto terrível. Pelo menos 25% do território regional já está em degradação e a população está cada vez mais se preocupando com este assunto, como se vê em diversos blogs.

Eco Briefings, um blog brasileiro, aponta que a população na região nordeste está testemunhando uma expansão alarmante da desertificação:

Mais um alerta está ligado. Temos pouco tempo para corrigir as coisas. (…)

No Brasil a desertificação tem avançado na caatinga, e zonas do polígono da seca no Nordeste e Norte de Minas Gerais, e também em Estados que antes não tinham áreas secas ou desertificadas como o Rio Grande do Sul. O Rio Amazonas viveu já uma grande seca a pouco tempo, grande com mortandade de peixes.

A Argentina também possui diversas áreas afetadas. Na região de Valles Aridos, ao nordeste, onde a maior atividade econômica é a criação de ovelhas, estipula-se que durante os últimos 100 anos pelo menos 180 mil pessoas emigraram [es] (formado .pdf). O sul do país também não escapou da desertificação. O blogueiro Ailen Romero comenta no blog Geoperspectivas [es] que na região da Patagônia as ações do governo para combater a desertificação não são suficientes:

En la Patagonia, la amplitud del problema es de tal magnitud que ha comenzado a adquirir estado público. Pocos ignoran el tema, pero pocos tienen la posibilidad de actuar de alguna forma o con el conocimiento para hacerlo. El problema de la desertificación en el caso de la Patagonia supera a los planes que se han elaborado para combatirlo. Es por eso que no deben ahorrarse esfuerzos, ni limitar la imaginación de soluciones alternativas.”Si la geografía es la manifestación de la sociedad en el espacio físico, un espacio físico deteriorado refleja una sociedad deteriorada” afirman del Valle y Coronato(investigadores del Centro Nacional Patagónico)

Na Patagônia, a magnitude do problema é tão ampla ao ponto de o público em geral perceber a situação. Poucas pessoas ignoram o problema e somente algumas têm a chance ou o conhecimento para tomar ações a respeito. O problema da desertificação na Patagônia supera os planos que foram elaborados para combatê-lo. É por isso que os esforços não podem ser tímidos, nem se deve limitar a imaginação para se pensar em soluções alternativas. “Se a geografia é a manifestação da sociedade no espaço físico, um espaço físico deteriorado é a reflexão de uma sociedade deteriorada”, afirmam Valle e Coronato (pesquisadores do Centro Nacional da Patagônia).

No Chile, onde 62% do território nacional já é afetado pela desertificação [es], o blogueiro Alfredo Erlwein expressou preocupação no blog El Ciudadano a respeito do pouco conhecimento dos cidadãos sobre este problema [es].

Efectivamente la desertificación es el problema ambiental más grave de Chile y muy poco conocido. Existen grandes zonas, como en la costa de la octava región, donde la erosión severa supera el 50% de la superficie: esto es que literalmente más de la mitad de los suelos se ha perdido por completo. En esas zonas se encuentran cárcavas de más de 50 metros de profundidad. Una tasa normal de formación de suelo puede ser de 0.2 cm por año, lo que evidencia la gravedad del asunto.

De fato, a desertificação é o maior, embora menos conhecido, problema ambiental no Chile. Há enormes áreas, como as da costa da Região Oito, onde a erosão severa excede 50% da superfície: isto significa que mais da metade da terra foi perdida, literalmente. Nestas áreas há sulcos com mais de 50 metros de profundidade. A escala normal de formação da terra é de cerca de 0,2 centímetros por ano, o que comprova a gravidade da questão.

De acordo com o perito italiano Candelori, usar o solo no mercado de carbono ajudará a combater a desertificação; isso pode ser decidido durante a conferência de Copenhague. A contagem regressiva para Copenhague começou, e o mundo espera por isso.

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