Índia: Imprensa, Mumbai e ataques terroristas

Esse artigo é parte da cobertura especial do Global Voice sobre os ataques terroristas em Mumbai, Índia [en] em 26 de novembro de 2008.

A indignação perante a cobertura na imprensa dos ataques terroristas em Mumbai é aparente na blogosfera. Para uns, os principais meios de comunicação parecem ter tomado a rota do “chocar e abalar”, em vez de apurar os rumores antes de divulgá-los. Mas a nação parece estar colada aos aparelhos de televisão, que são provavelmente as fontes de informação mais “ao vivo” neste momento. Kalyan Varma writes:

In tough economic and global times like this, we will win only if we move on with out lives and keep this behind. This is how we fight terror, not overreacting to this, not invading countries and giving up our freedom. Bad enough the security guards check my car and bags each time I enter a mall or hotel here in Bangalore, I do not want to give up any more of my freedom.

and someone please shut up Barkha Dutt of NDTV. She is causing more damage to the country by FUD than the terrorists themselves.

Em tempos de aperto econômico global como estes, apenas ganharemos se seguirmos adiante com nossas vidas e deixarmos isso para trás. Esta é a forma como se luta contra o terrorismo, não exagerando nas reações a ele, não invadindo países e abrindo mão de nossa liberdade. Já basta ter os seguranças verificando meu carro e sacolas a cada vez que entro num centro comercial ou hotel aqui em Bangalore, não quero abrir mão de nem um pouco mais da minha liberdade.
e alguém por favor cala a boca da Barkha Dutt da NDTV. Ela está prejudicando mais o país causando medo, incerteza e dúvida do que os próprios terroristas.

E na perspectiva de um homem da imprensa, Smoke Signals [pt] escreve um artigo ferino sobre o noticiário e si mesmo.

The rational corner of my mind tells me that there is no security measure, no multi-crore security ‘plan’ that can permanently inoculate me and my fellow Mumbaikars against what is becoming a gory ritual. But who, listening to a colleague call in with details of grenade explosions and the rattle of machine guns and mounting body counts or watching images of the Taj Mahal Hotel – more, to me and my fellow Mumbaikars than a ‘hotel'; its facade is as much a part of my Mumbai-ness as is vada pav and cutting chai and the boon-granting Ganesha of Siddhivinayak – can stay rational? That other me, the irrational me that showered and dressed and drove to work today, watches news reports of the Prime Minister talking to his wannabe successor to work out travel plans [Shall we go to Mumbai together or separately? Prime Ministerial plane or commercial airliner? Window seat or aisle?] and wonders, don't you guys have anything more important, more immediate, to do? Does Mumbai really need, want, either or both of you to regurgitate the cud of banality, to trot out prefabricated statements on the order of ‘The country must come together to resist this threat to its security?

O lado racional da minha mente me diz que não há nenhuma medida de segurança, não há nenhum “plano” multi-crore* de segurança que possa inocular permanentemente a mim e a meus compatriotas em Mumbai contra o que está virando um ritual sangrento. Mas quem, ao ouvir um telefonema de um colega com detalhes de explosões de granadas e barulho de metralhadoras e contagem de corpos ou ao ver imagens do Taj Mahal Hotel – para mim e meus colegas mumbaianos, mais do que um simples ‘hotel’, a sua fachada representa grande parte da minha “mumbaindade” assim como vada pav (uma comida vegetariana indiana), colher folhas de chá, a benção de Ganexa no templo Siddhivinayak – pode permanecer racional? O outro eu, o eu irracional que tomou banhou e vestiu-se e dirigiu-se ao trabalho hoje, que assiste aos noticiários com o Primeiro-Ministro falando ao seu possível sucessor sobre a elaboração de planos de viagem [Vamos a Mumbai juntos ou separados? No avião do ministério ou de vôo comercial? Assento na janela ou ao corredor?], se pergunta, vocês não têm nada mais importante, mais imediato, para fazer? Será que Mumbai realmente precisa ou quer que um ou ambos de vocês regurgitem a ruminação da banalidade, vomitem declarações prefabricadas do tipo “O país tem que se unir para resistir a esta ameaça à sua segurança”?

*Nota da tradução: crore é uma unidade no sistema numérico indiano

Falstaff [en] comenta a cobertura implacável da imprensa e pergunta se alguém parou para pensar sobre como isso pode acabar ajudando aos agressores:

It's a particularly bad idea because it seems to me that most media channels are too busy trying to sensationalize the news to bother thinking through the consequences of what they're saying. It's not just that much of the coverage seems to be designed to amplify the general hysteria and panic, it's also that watching journalists describe what the police are doing or report on who is still trapped inside the hotels, I find myself wondering whether anyone's considered that at least some of that information might be helping the attackers.

É sobretudo uma má ideia pois ao que parece a maioria dos veículos da imprensa estão ocupados demais tentando sensacionalizar as notícias para se preocupar em considerar as conseqüências do que estão dizendo. Não é apenas o fato de que grande parte da cobertura parece ser concebida para amplificar a histeria e o pânico gerais, é também que jornalistas descrevem o que a polícia está fazendo ou divulgam quem ainda está encurralado nos hotéis, eu me pergunto se alguém tem levado em consideração o fato de que pelo menos algumas dessas informações podem estar ajudando aos agressores.

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