Síria: Contra o termo “ocupação”

Estou animado de fazer parte da equipe do Global Voices Online no Oriente Médio e no norte da África, e fico contente de cobrir a blogosfera síria jutamente com Yazan Badran. GVO é um dos meus sites favoritos e estou feliz por participar dos projetos Global Voices Advocacy e Lingua Arabic também. Espero que meus posts sejam representativos tanto para os blogueiros da Síria quanto para seus leitores.

Yaman Salahi, estudante de graduação da UC Berkeley e membro ativo do Students for Justice in Palestine, publicou uma série de reações ao protesto da organização (no qual os participantes se fingiam de mortos), que aconteceu no campus há poucos dias, em solidariedade aos 116 palestinos mortos pelo exército israelita. Você pode visualizar imagens das “mortes” em protesto na conta do Flickr de Isabel.

The Daily Californian's cobriu as “mortes” em protesto publicando esta foto e estas palavras:
daily-cal-sterilizes-news.jpg
Yaman criticou o título publicado pelo jornal “stand[ing] against conflict” (“opondo-se ao conflito”) e dirigiu-se ao jornal com as seguintes palavras:

Actually, Daily Cal, yesterday [3rd of March] students participated in a die-in in solidarity with the 116 Palestinians that the Israeli army killed over the weekend in Gaza. We did not stand against “conflict,” but the Israeli occupation. Can you say those words, or is that a little too informative?

Na verdade, Daily Cal, ontem [3 de Março], estudantes participaram de uma “morte” em protesto em solidariedade aos 116 palestinos que o exército israelita matou durante o fim de semana em Gaza. Nós não nos opomos a nenhum “conflito”, mas à ocupação israelita. Você pode dizer essas palavras, ou elas soam pouco informativas?

Um dos comentaristas desaprovou o uso de Yaman da palavra ‘ocupação’ e, assim, o acusou de ser “anti-semita”.

Allison, outro comentarista, respondeu a essas acusações, dizendo:

Calling Yaman an anti-Semite and assuming he finds Haifa and Tel Aviv to be occupied is really low. There is nothing in what he has written that would suggest those were the things he was thinking or intending. If so he would have been involved in a great big “free occupied haifa and tel aviv” demonstration where he would announce himself as a Jew-hater. The reality is that the demonstration was to recognize the loss of life that has occurred due to the excessive, unequal use of force by Israel, on Palestinians. You only jump to those conclusions as an attempt to discredit him and show him to have violent intentions. Those are your words, not his, he is talking about a government sanctioned military occupation over a civilian population, not irrationally hating or wishing harm to Jews.

116 people died in the past few days and that pains us; we lay on the ground to grieve, we lay on the ground out of compassion for human life. None of which is anti-semetic.

Chamando Yaman de anti-semita e assumindo ele vê Haifa e Tel Aviv como ocupadas é uma visão muito reduzida. Não há nada que ele tenha escrito que seja condizente com este tipo de pensamento ou intenção. Se fosse assim, ele estaria envolvido em uma grande demonstração a favor “da liberdade de haifa e Tel Aviv”, onde anunciaria que odeia os judeus. A realidade é que a manifestação era para reconhecer a perda de vidas que aconteceu por causa do excessivo e desigual uso da força por parte de Israel na Palestina. Você só salta para aquelas conclusões na tentativa de desacreditá-lo e mostrar que ele têm intenções violentas. Estas são palavras suas, não dele, ele está falando sobre a ocupação militar sobre uma população civil sancionada pelo governo, não um ódio irracional ou maldição aos judeus.

116 pessoas morreram nos últimos dias e isso dói; deitamos no chão pelo sofrimento, deitamos no chão pela falta de compaixão pela vida humana. Nenhuma dessas atitudes é anti-semita.

Em outro post, Yaman escreve sobre um contra-protesto à “morte” em protesto organizado por HaTikva: Students for Israel. Ele destaca:

Their counter-protest consisted of a sign displayed ahead of our protest that read, “Victims of Palestinian Terror,” meant to confuse passers-by as to the purpose of our action.

O contra-protesto deles consistia de um sinal indicado à frente de nosso protesto que dizia, “Vítimas do Terror Palestino”, com a intenção de confundir transeuntes em relação ao objectivo da nossa ação.

Yaman manifesta a sua preocupação com o discurso de grupo dos alunos quando ignoram as mortes de civis do lado palestiniano, categorizando todos os mortos sob o título de “terroristas”:

According to B’tselem on March 3 (before the death toll rose by another dozen), over half of those killed by the Israeli military in Gaza were civilians. According to Maan News, at least 1/3rd were children. On the other hand, according to Tikvah …Israel “eliminated about 110 terrorists.”

Tikvah’s message is clear: all the Palestinians killed by the Israeli military, be they children, be they unarmed civilians, are terrorists. Further, Tikvah has dehumanized Palestinians to the extent that they do not even die. They are not killed or murdered; they are not even casualties. Like pests, they are “eliminated.”

Segundo B’tselem, no dia 3 de março (antes do número de mortos subir para outra dúzia), mais de metade das pessoas mortas pelos militares israelitas em Gaza eram civis. Segundo Maan News, pelo menos 1/3 eram crianças. Por outro lado, segundo a Tikvah… Israel “eliminou cerca de 110 terroristas”.

A mensagem de Tikvah é clara: todos os palestinos mortos pelos militares israelitas, sejam eles crianças, sejam eles civis desarmados, são terroristas. Além disso, Tikvah tem desumanizado palestinos, na medida em que eles nem mesmo morrem. Eles não são mortos ou assassinados, que nem sequer são vítimas. Tais como pragas, eles são “eliminados”.

Finalmente, Yaman concluiu seu post afirmando que a verdadeira questão não se trata de quais vidas são mais valiosas em ambos os lados, mas com o fim da violência. Ele explica:

To stop the violence, step back from it. Recognize the legitimate grievances of all people in Israel and Palestine. The United States will not solve this issue; there will be no impartial or neutral arbitrator or judge who will issue a verdict that all people will follow. Cheer-leading squads for Israel like Tikvah will do nothing that can even change the status quo, let alone construct a path towards resolution and reconciliation. It is up to us to escape the suffocating influence of state narratives and to create opportunities and possibilities for the future with our own hands.

Para acabar com a violência, recue, dê um passo atrás. Reconheça as legítimas reivindicações de todas as pessoas em Israel e na Palestina. Os Estados Unidos não vão resolver esse problema; não será um árbitro imparcial ou neutro nem um juiz que vai emitir um veredicto que todas as pessoas seguirão. Líderes de esquadrões de Israel, como Tikvah, não farão nada que possa mudar o status quo, nem que possa construir um caminho em direção à resolução e reconciliação. Cabe a nós escapar da sufocante influência das narrativas do estado e criar oportunidades e possibilidades para o futuro com as nossas próprias mãos.

O artigo acima é uma tradução de um artigo original publicado no Global Voices Online. Esta tradução foi feita por um dos voluntários da equipe de tradução do Global Voices em Português, com o objetivo de divulgar diferentes vozes, diferentes pontos de vista. Se você quiser ser um voluntário traduzindo textos para o GV em Português, clique aqui. Se quiser participar traduzindo textos para outras línguas, clique aqui.

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