Lusosfera reporta sobre o primeiro turno das eleições em Timor Leste

Timor Elections

Timor-Leste está realizando sua primeira eleição nacional como nação independente, e a contagem de votos indica neste momento que haverá necessidade de segundo turno para decidir quem será o novo presidente. A votação ocorreu no dia 9 de abril e o processo apuração tem gerado notícias que deixaram os observadores perplexos, o que poderia até ser esperado em um país sem nenhuma experiência eleitoral prévia. O que talvez fosse menos esperado é que o porta-voz da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), padre Martinho Gusmão, viesse a realizar suas conferências com a imprensa em 4 idiomas, um após o outro — Tétum, Português, Indonésio e Inglês. Após suscitar um início de crise ao pessoalmente expressar dúvidas sobre alguns resultados ‘ilógicos’ na apuração, padre Gusmão foi afastado e explicações foram apresentadas por outros oficiais da comissão. Veja a reportagem da lusosfera:

A Comissão Nacional Eleitoral (CNE) de Timor-Leste só hoje deverá anunciar os resultados provisórios das presidenciais de dia 9, depois de ter concluído a análise das actas eleitorais e dos votos nulos. O excesso de votos contabilizados no distrito de Baucau foi atribuído a um erro técnico no escrutínio da pequena secção eleitoral de Vae-Gae. Um dia depois de o porta-voz da CNE, padre Martinho Gusmão, ter aludido à existência de situações “ilógicas” e “inexplicáveis”, Faustino Cardoso, presidente da entidade, explicou que o processo de revisão das actas e de decisão sobre os votos nulos e reclamados das 705 secções terminou cerca das 04h30 locais de ontem (20h30 de sábado em Lisboa). Foi um processo “meticuloso e demorado”, face à constatação de erros técnicos na forma como foram escrutinados e registados os votos em várias secções… A contagem dos votos da primeira volta das presidenciais deverá ser oficializada até sexta-feira. A segunda volta está marcada para dia 8 de Maio.
Timor-Leste anuncia hoje resultados provisóriosTimor Online – Em directo de Timor-Leste

Timor-Leste vive momentos complicados. O milagre da multiplicação dos votos tem agora uma nova versão neste país (ainda) da Lusofonia. Ninguém se entende. Observadores internacionais, sejam da CPLP ou da União Europeia, dizem às segundas, quartas e sextas uma coisa; às terças, quintas e sábados outras. Por coincidência os problemas só começaram quando se descobriu que Lu Olo, candidato da Fretilin, ia ser o vencedor da primeira volta. Coincidências… É que, com o desenrolar da contagem dos votos, ficou a perceber-se que objectivo primordial de Xanana Gusmão e de Ramos-Horta, que era dar o golpe fatal na Fretilin, falhou totalmente. Não sei se isso é bom para a democracia timorense. Sei, contudo, que a eventual vitória de Lu Olo é uma espinha na garganta australiana. E isso é algo que Camberra nunca aceitará. Por mim, permitam-me a sinceridade, quantas mais espinhas os timorenses enfiarem na goela dos australianos, melhor.
Confusão made in Austrália abalroa Timor-LesteAlto Hama

Ao contrário do que se especulou afinal não houve fraude eleitoral em Baucau. Afinal não houve mais de 300 mil votos onde só estavam registados cerca de 61 mil eleitores; não compreendo esta dúvida dado que os eleitores timorenses podem estar registados num sítio mas são livres de votarem onde bem desejam. Afinal o que se passou foi só um erro da logística. O escrutinador em vez de colocar o número identificador da secção de voto no local certo colocou no lugar de votantes. Um erro, “inconsistências aritméticas por falta de formação de recursos humanos”. Mas, que é um erro gigantesco que pode bem assustar os seus vizinhos do sul pode. E quando estes se assustam… Entretanto, o escrutínio já acabou mas ainda não há resultados finais. Será que esperam a formalização das eventuais denúncias que os 5 candidatos possam fazer ao Tribunal de Recurso? Ou esperam autorização dos aussies? da CPLP não deve ser de certeza…
Afinal não havia fraude…Pululu


De fato, a ‘mais nova nação do mundo’
deveria ter se preparado melhor para esta experiência eleitoral inaugural. Em um país sacudido por profundas divisões culturais, linguísticas e políticas, incertezas em torno dos procedimentos de votação e apuração são igredientes especiais para a precipitação de instabilidade e incertezas no processo.

Há quem considere as eleições de segunda-feira passada um sucesso. A sê-lo, talvez só pela relativa tranquilidade em que decorreram. Porque, quanto ao resto, quer-me parecer que não será exagerado se a elas nos referirmos como sendo um autêntico fracasso. São tantas as irregularidades, as falhas, as discrepâncias, as queixas e os protestos que surgem de todos os quadrantes que não há volta a dar-lhe: as eleições presidenciais, apesar da presença de muitos observadores internacionais, não deveram nada à transparência e não dignificam nenhum órgão de soberania, nem governantes, nem povo, nem líderes partidários, nem observadores. Ninguém. Sabendo-se que as eleições de 2001 não primaram pela transparência, não seria de esperar que nos preparássemos para que as primeiras eleições a serem totalmente organizadas pelos timorenses fossem diferentes?
Para onde vamos nós?Timor 2006

Boletim 2. Volta
À mistura com lixo vário, Ramos Horta e Lu Olo, sorridentes, no exemplar de um boletim de voto da 2ª volta das eleições presidenciais displicentemente colocado do lado de fora do reservatório cheio de outro lixo ; sim, literalmente no lixo, bem à vista de quem passasse a pé.
O outro lado das presidenciaisTimor 2006


De acordo com os últimos resultados apurados
, a Fretilin
do candidato Francisco Guterres (Lu Olu) recebeu cerca de 26% dos votos, o candidato independente José Ramos Horta (que se presume seja na verdade filiado ao CNRT) tem 22% e o candidato do partido Democrata Ferdinand de Araujo “Lasama” vem em terceiro com 19%. Neste momento, ninguém duvida do fato que Lu Olu e Ramos Horta irão enfrentar-se no segundo turno em Maio. Neste contexto, os que blogam em português em Portugal e no Timor tendem a ver o candidato Ramos Horta e seu aliado o atual presidente Xanana Gusmão, que é casado com uma australiana, como inimigos da causa lusófona no país. As campanhas certamente irão refletir e avivar esta divisão cultural e lingüística.

Uma coisa é certa: a Austrália tem sido a representante, na região, dos USA e das elites financeiras mundiais, que esperam de Xanana e Horta a entrega do país. Isso é aquilo que eles estão a procurar cumprir… Se deixarem, devagarinho vão lá – por cima de muitos cadáveres, mas vão indo. A isso chama-se vende pátrias! Se parece é porque é. Quanto a Alkatiri… quer vender interesses timorenses a quem, à China? Olhem, também vai vender a uns bons filhos da mãe… que exploram o povo chinês à laia de escravatura medieval! Nããã… Alkatiri tem um plano próprio do modelo de sociedade que gostaria de implantar em Timor-Leste, que talvez resulte. Convém é que expurgue o partido dos maus militantes e das práticas inimigas do seu projecto.
Do Minho a Timor por Terras de “O que parece é”Página Um (António Veríssimo)

Lu Olo afirmou que Cidália será uma maravilhosa primeira dama para o país. “Cidália é uma buibere, uma mulher de Timor-Leste, e ela será uma primeira dama que está consciente e conhece a nossa história, os nossos valores culturais e tradições. Cidália é uma mulher carinhosa, cheia de amor, inteligente, e com uma mente aberta, e usará a sua sabedoria e orientação para fortalecer o meu papel como Presidente da República,” disse Lu Olo.
Homem de família promoverá valores familiaresLu Olo para Presidente


Blogueiros lusófonos em Timor
expressam também palavras de promoção da diversidade cultural e linguística, e em favor da coexistência pacífica entre as diferentes heranças de sua configuração demográfica. São eles que podem falar das cicatrizes deixadas pela conturbada história recente do país — feridas que devem ser curadas pela tolerância e pelo respeito mútuo.

Na nossa geração, ninguém aprendeu português, porque nascemos durante a ocupação Indonésia. A língua portuguesa era utilizada apenas em algumas liturgias da Igreja Católica – a maioria dos timorenses são católicos. Na escola estudava-se na língua indonésia (Bahasa Indonésia significa “língua indonésia”) e em casa falava-se Tétum, que é a nossa língua materna. Para nós, timorenses, aprender uma língua europeia, sobretudo latina, como a língua portuguesa, é necessário muito esforço e dedicação, pois estamos habituados a regras gramaticais bastante mais simples… Espero que aprendamos com os erros e falhanços que cometemos no passado, para resolvermos melhor os problemas, e enfrentar os novos desafios que virão no futuro, com mais maturidade… O povo timorense é um povo simples, humilde e preserva com muito orgulho a cultura e tradição que herdou dos seus antepassados. As pessoas são simpáticas e têm um espírito de vida mais comunitário, social. Apesar de estar a milhares de quilómetros da terra lusitana, Timor-Leste partilha com Portugal muitas coisas em comum devido à presença portuguesa durante quatro séculos e meio na ilha, também conhecida (por lenda) como a “Ilha do Crocodilo”.
Conversas de HerbárioArea de Projectos 2007 ESSPS

Que herdamos do nosso passado longínquo como povo colonizado pelos portugueses e ocupado pelos indonésios? De Portugal herdamos a religião católica, o nome como Paulo, Maria, António, a língua portuguesa dominada por uma pequena parte que hoje constitui a elite política do nosso país. Da Indonésia, o pior que herdamos foi uma mentalidade de corrupção da administração estatal (a única estrutura que oferece melhor condição em termos de prestígio social). Basta olhar para a chamada concepção de “proyek” aos “CV's”. Mas em termos de formação dos recursos humanos a Indonésia levou a melhor. Isso, ninguém duvida. Nestes últimos cinco anos temos assistido a declarações infelizes por parte de alguns líderes no nosso país, em chamar “Sarjana Supermi” aos que tiraram os seus cursos na Indonésia. Este tipo de declaração, indirectamente, quer dizer que eles não são necessários para o país. É quase uma bofetada para uma geração que não tinha possibilidade de escolher o melhor para si e para o seu país. Queremos ou não, temos que admitir que a distância que separa as duas gerações, os formados da Indonésia e os líderes que viveram no exílio, é enorme. Basta ver a criação e a formação dos novos partidos que concorreram às eleições de Assembleia Constituinte. A fricção e a diferença existem mas, tendo em conta tudo que herdamos do passado, a disputa política no presente entre os partidos políticos e os políticos das duas gerações, devem ser pautadas pelo respeito mútuo para que o percurso da nossa democracia emergente possa prosseguir o seu rumo sem sobressaltos.

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