Brasil: “Massacre do Pinheirinho”, um ano depois

O dia 22 de janeiro de 2013 marcou o primeiro ano da violenta desocupação da ocupação Pinheirinho na cidade de São José dos Campos, Brasil. Como o Global Voices relatou na época:

On January 22, the Military Police of São Paulo (PMSP) and the Metropolitan Civil Guard (GCM) of the city of São José dos Campos, in the state of São Paulo, invaded the settlement known as Pinheirinho to comply with an order of repossession issued by the state court. The violent eviction of the community became known as “Massacre do Pinheirinho” (Massacre of Pinherinho) after a demonstration of violence and brutality by the police in the expulsion and intimidation of residents dumped in the midst of a huge legal mess.

No dia 22 de janeiro, a Polícia Militar de São Paulo (PMSP) e a Guarda Civil Metropolitana (GCM) da cidade de São José dos Campos, no estado de São Paulo, invadiram a ocupação conhecida como Pinheirinho para cumprir uma ordem de reintegração de posse expedida pela justiça estadual. A violenta desocupação da comunidade ficou conhecida como “Massacre do Pinheirinho” após demonstração de violência e brutalidade por parte das forças policiais na expulsão e intimidação dos moradores despejados em meio a uma imensa confusão judicial.

"No more runaround, we want a solution". Photo taken during the political act recalling the one year of eviction. Photo by Beatriz Bevilaqua. (Used with permission.)

Foto tirada durante manifestação marcando o aniversário de um ano da descocupação. Foto de Beatriz Bevilaqua. (Usada com permissão.)

Uma manifestação para celebrar a data teve lugar na entrada do terreno do Pinheirinho – agora vazio – em São José dos Campos. O historiador Rogério Beier, que participa da filmagem de um documentário sobre o caso, comentou sobre a situação das mais de 1500 famílias expulsas de suas casas, “causando muita dor e sofrimento a mais de oito mil pessoas que viviam no terreno”:

Passado um ano desde a desocupação, essas pessoas seguem sem uma solução definitiva com relação a moradia adequada e, pior, continuam sofrendo diversos tipos de violências como preconceito e discriminação, desintegração da família, péssimas condições de moradia e dificuldades para encontrar emprego, dentre outras.

[…]

O ato foi muito importante para marcar um ano desde a reintegração de posse do Pinheirinho. O terreno, desde então, continua vazio e as pessoas que ali moravam, seguem desabrigadas. A data não podia passar em branco e a organização do evento está de parabéns por relembrar ao Brasil que a luta do Pinheirinho ainda continua. Também entendemos que é bastante importante saber que os políticos que participaram do ato, se posicionam claramente ao lado dos ex-moradores do Pinheirinho na luta por uma solução definitiva para a moradia dessas mais de 8 mil pessoas. Apesar disso, esperávamos que o ato fosse marcado pela participação dos ex-moradores como personagens principais das atividades que ali se desenrolariam, o que infelizmente não aconteceu. Foi impossível não sair com uma sensação de desapontamento ao constatar que, tal como alguns moradores haviam nos adiantado, o ato do Pinheirinho no Poliesportivo acabou dando muito mais um espaço aos políticos do que aos ex-moradores.

Photo taken during the political act recalling the one year of eviction. Photo by Beatriz Bevilaqua. Used under permission.

Foto tirada durante manifestação marcando o aniversário de um ano da descocupação. Foto de Beatriz Bevilaqua. (Usada com permissão.)

O COADE – Coletivo de Advogados para a Democracia descreveu em seu blog o que mudou em um ano:

Um ano se passou e lamentavelmente a violência ainda permanece. Os moradores ainda não tem um teto para morar, ainda estão lutando por justiça e a justiça parece estar mais lenta do que de costume.

Por outro lado, estes cidadãos resistiram e resistem até hoje e não estão sozinhos. Temos o dever de exigir do poder público a devida reparação dos danos morais e patrimoniais causados àquela população.

Moradia é uma necessidade básica de sobrevivência. Trata-se de dignidade humana. É por isso que este Coletivo apoia incondicionalmente a luta das famílias do Pinheirinho.

Photo taken during the political act recalling the one year of eviction. Photo by Beatriz Bevilaqua. Used under permission.

Foto tirada durante manifestação marcando o aniversário de um ano da descocupação. Foto de Beatriz Bevilaqua. (Usada com permissão.)

A blogueira Conceição Oliveira (Maria Frô) comentou sobre a violência policial contra a população, especialmente contra o idoso Ivo Teles, que morreu em decorrência dos ferimentos sofridos durante a desocupação:

O senhor Ivo Teles dos Santos que aparece no vídeo abaixo com seu corpo frágil de  mais de setenta anos e que foi brutalmente espancado pelos PMs durante a invasão da tropa de choque no Pinheirinho e que após internação veio a falecer  é o símbolo da covardia e a violência do Estado contra seus cidadãos.

Militares da tropa de choque que espancaram idosos,  jogaram bombas de gás em mulheres e crianças e são acusados de violência sexual  foram parte do espetáculo grotesco do dia 22 de janeiro de 2012.

Ela também postou um vídeo do YouTube do usuário Wilian Cesar mostrando Ivo Teles discutindo com policiais e mostrando as marcas da violência sofrida:

A mensagme final de luta vem do blog da Rede Extremo Sul, que representa a população empobrecida e vítima de violência do extremo sul da cidade de São Paulo:

Enquanto esse sofrimento, tão disseminado, não cimentar nossa união, e enquanto ele não for canalizado para o combate desse sistema que nos massacra, a cada ano teremos mais massacres para lembrar e lamentar. Que os lutadores e as lutadoras não demoremos a decidir e a dizer numa só voz: este foi o último! A dor desses massacrados é a nossa dor!

Photo taken during the political act recalling the one year of eviction. Photo by Beatriz Bevilaqua. Used under permission.

Foto tirada durante manifestação marcando o aniversário de um ano da descocupação. Foto de Beatriz Bevilaqua. (Usada com permissão.)

A terra onde se localizava a ocupação Pinheirinho continua vazia. O especulador de origem libanesa Naji Nahas, que se declara dono da terra, não a usou para nada até o momento.O prefeito recém-eleito da cidade de São José dos Campos, Carlinhos Almeida, do Partido dos TRabalhadores (PT) – mesmo partido da presidente Dilma Rousseff – falhou até o momento em apresentar um plano para a terra e para aqueles que de lá foram expulsos pelo governo anterior, do oposicionista PSDB. Ao mesmo tempo, o governo federal também falhou em encontrar uma solução para as 6-9 mil famílias que perderam tudo.

O usuário do Youtube Fabiano Amorim postou um documentário onde inclui entrevistas com as vítimas da desocupação violenta do Pinheirinho:

E um documentário chamado “Pinheirinho: One year later” está sendo gravado com recursos conseguidos via Catarse, aum site de crowdfunding.

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