Com a tragédia de Ayotzinapa, estará a história a repetir-se no México?

15,000 march against disappearance of Ayotzinapa students, Mexico City, October 8, 2014, by Enrique Perez Huerta. Demotix.

15.000 pessoas marcharam contra o desaparecimento dos estudantes de Ayotzinapa, Cidade do México, 8 de Outubro de 2014, por Enrique Perez Huerta. Demotix.

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Tal como acontece todos os anos, o México relembrou a 2 de Outubro aqueles que morreram no trágico massacre de estudantes na Plaza de Tres Culturas (Praça das Três Culturas), em Tlatelolco em 1968. Fazendo eco das cerimónias fúnebres na data do aniversário da tragédia, os utilizadores do Twitter passaram a semana a promover a hashtag #2DeOctubreNoSeOlvida (“2 de Outubro Não Será Esquecido”), mantendo vivo o tema sobre a tragédia. Para os mexicanos, mesmo depois de 46 anos, esta parece assustadoramente recente, após o misterioso desaparecimento de quase cinco dúzias de estudantes em Guerrero. 

Passaram-se 46 anos desde 1968. Será que as balas nunca irão cessar?

Ainda no mês passado, a 26 de Setembro, a polícia local em Iguala atacou um grupo de estudantes da Escola Rural em Ayotzinapa, matando seis e ferindo dezassete. Outras 25 pessoas (talvez mais), simplesmente desapareceram. Ironicamente, os jovens estavam supostamente a reunir recursos para a marcha em comemoração do 46.º aniversário do massacre de Tlatelolco quando foram agredidos. Os estudantes estavam desarmados e a caminho de uma manifestação pacífica contra a discriminação laboral em relação aos professores de áreas rurais.  

Mais um caso de execução extrajudicial: polícias disparam contra estudantes de Ayotzinapa em Iguala; 5 mortos.

Desde então, organizações civis por todo o México têm denunciado repetidamente tais execuções extrajudiciais, defendendo uma busca pelos mais de 50 estudantes que continuam desaparecidos.

Fotos de 43 estudantes de Ayotzinapa que continuam desaparecidos em Iguala.

É importante lembrar que Ayotzinapa não é um caso isolado: o estado de Guerrero é apenas um dos muitos estados Mexicanos em que o crime organizado trava uma guerra territorial. Além disso, o governo de Iguala não é o único sistema burocrático do México paralisado pela corrupção. A brutalidade policial também não se restringe a este caso. Assassinatos, desaparecimentos, tortura: estas são as armas que as forças da lei no México usam contra manifestantes pacíficos. Ayotzinapa faz lembrar casos semelhantes, incluindo Aguas Blancas, Acteal e Tlataya, em que a polícia corrupta em conluio com a mafia conseguiu efectivamente criminalizar protestos sociais. 

Anunciado oficialmente pelo governo de #Guerrero: 58 estudantes de #Ayotzinapa desapareceram. Queremo-los de volta vivos.

A Escola Rural Raúl Isidro Burgos de Ayotzinapa foi fundada a 2 de Março de 1926 para oferecer acesso à educação aos filhos dos trabalhadores agrícolas. Tanto Lucio Cabañas como Genaro Vázquez, líderes da guerrilha que se opôs à desapropriação de terras nas décadas de 1960 e 1970, passaram pelas salas de aula da escola. O corpo estudantil é bastante conhecido pelo seu activismo, defendendo uma melhor educação e estendendo as matrículas aos filhos dos trabalhadores agrícolas.

Hoje Ayotzinapa olha para o passado. Nós exigimos Justiça!

Tanto o governador de Jalisco como o Presidente do México abordaram a recente tragédia em declarações formais. Para além disso, o governo federal resolveu enviar forças policiais para supervisionar a segurança em Iguala, depois da descoberta de seis valas comuns na povoação de Pueblo Viejo, incluindo os restos mortais mutilados de um jovem identificado como sendo um estudante de uma zona industrial vizinha. Os restantes corpos ainda estão por identificar.

El Universal – Los Estados – Corpo esfolado identificado como sendo um dos estudantes de Ayotzinapa.

Descobertos 28 corpos numa vala comum em Iguala e irão ser feitos testes para se determinar a identidade.

Organizações nacionais e internacionais, incluindo o Comité Cerezo, argumentam que estes ataques, execuções extrajudiciais e desaparecimentos forçados são tácticas de uma campanha maior para reprimir os movimentos sociais organizados do México.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, a Comissão Nacional de Direitos Humanos e o Gabinete do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos no México pronunciaram-se sobre os recentes acontecimentos. 

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, @CIDH, faz quatro recomendações ao México em relação ao rapto dos estudantes (relatório incluído).

O Gabinete das Nações Unidas #ONU no México pede ao governo que conduza uma “busca eficiente” pelos 43 estudantes raptados.

Execuções extrajudiciais e desaparecimentos forçados: as mais sérias violações aos DH (direitos humanos) que se podem cometer.

O desaparecimento destes 43 estudantes de Ayotizinapa é uma triste lembrança para todos os mexicanos de tragédias do passado semelhantes. Familiares dos estudantes desaparecidos, juntamente com organizações civis, prepararam uma manifestação nacional na quarta-feira, 8 de Outubro, para apelar à solidariedade internacional e à consciencialização pública sobre o esforço das buscas.

Não só as escolas, mas todo o mexicano com um mínimo de consciência devia condenar a chacina dos estudantes de Ayotzinapa…

Os estudantes desaparecidos da Escola Rural de Ayotzinapa foram os últimos a ser adicionados a uma lista crescente de civis desaparecidos no México, que também inclui mulheres que desapareceram misteriosamente na Cidade de Juárez, os trabalhadores migrantes que desapareceram enquanto transitavam pelo país e mais de 26.000 pessoas raptadas ou desaparecidas entre 2006 e 2012, durante a guerra às drogas.

Tradução editada por Lú Sampaio como parte do projecto Global Voices Lingua

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