“My Love” garantem transporte na capital de Moçambique

O aumento da população e da circulação de veículos na cidade de Maputo tem resultado numa crise de transportes que se acentua dia após dia, com longas filas de trânsito e de espera nas horas de ponta.

Crise de Transporte na Cidade de Maputo

Crise de Transporte na Cidade de Maputo

O sistema de transporte público em Maputo é bastante deficiente. Devido à frota limitada de veículos e às condições precárias das vias de acesso, a TPM – Transportes Públicos de Maputo, empresa pública que explora o transporte urbano na região metropolitana de Maputo, não consegue atender a necessidade de muitos bairros.

Para dar resposta à demanda por transporte, existem semi-coletivos particulares, conhecidos como “chapa 100”, e recentemente voltaram à cena os camiões “My Love”, chamados assim pelo facto de as pessoas terem de viajar sempre coladas e juntinhas umas às outras. 

Muitos destes veículos de caixa aberta apresentam-se em más condições de conservação, circulam super lotados (principalmente na hora de ponta), não têm horários e muitas vezes não cumprem sequer o itinerário previsto.

"My love" em circulação em Maputo.

“My love” em circulação em Maputo.

O blogueiro, sociólogo e docente universitário Carlos Serra escreveu sobre o regresso dos “My Love” na plataforma Olho do Cidadão:

Numa fila longa em pleno pico de trânsito, a meio de um Sábado, observo uma viatura de caixa aberta apinhada de pessoas. Pensando, todos estes anos depois, tinha alguma expectativa de que viéssemos a melhorar o nosso sistema de transporte urbano. Na realidade, trata-se de um regresso, afinal chegaram a ser as rainhas da estrada no princípio dos anos noventa, antes que um instrumento legal condicionasse o transporte de passageiros a determinadas características básicas, facto que originou a proliferação das carrinhas minibus (as “chapa 100”). Mas hoje, regressaram à estrada e, devido à fantástica capacidade criativa dos moçambicanos, ganharam a designação de “MY LOVE”, porque lá em cima os passageiros viajam bem apertadinhos e agarrados uns aos outros como forma de evitarem cair borda fora.

A longa fila à espera do tranpsorte

A longa fila à espera do transporte

Um dos factores que está por detrás da exiguidade do transporte é o alto crescimento populacional na Cidade de Maputo. O Perfil Estatístico do Município de Maputo (pdf), apresentado pelo Conselho Municipal em 2010, estimava uma população de 1.233.424 habitantes na Cidade de Maputo em 2013, face aos 1.094.315 habitantes recenseados em 2007. O crescimento populacional resulta da migração da província de Maputo, principalmente para as zonas de expansão habitacional. De acordo com o INE (Instituto Nacional de Estatística), a população da província de Maputo cresceu cerca de 50% entre 1997 e 2007, anos em que foram realizados censos populacionais. O facto de Maputo Cidade concentrar a grande maioria dos serviços e mercados aumenta o fluxo de pessoas que diariamente têm de entrar e sair da capital.

Apontando uma série de recomendações para o “dilema dos transportes públicos e do tráfego rodoviário na cidade de Maputo”, um artigo publicado no website Mozmaníacos em Março de 2013, informava que:

Em Fevereiro de 2008 a frota dos Transportes Públicos de Maputo (TPM) contava com apenas 32 autocarros para uma população de 1.7 milhão de habitantes (Maputo e Matola). Actualmente [2013] os TPM contam com 105 autocarros afectos aos transportes colectivos de passageiros na cidade de Maputo para um número cada vez mais crescente de utentes destes serviços.

"My Love" circulam em todo lado, até em zonas sub-urbanas

Os “My Love” circulam em todo lado, até em zonas sub-urbanas

Para aliviar este cenário de falta de mobilidade, o Conselho Municipal da Cidade de Maputo projectaimplementação de um “Corredor Exclusivo para Transporte” (Bus Rapid Transit, BRT) na Estrada Nacional número 1 – o principal acesso à capital – a entrar em vigor a partir de 2016, “com vista a solucionar a gestão do tráfego e organização do sistema de transporte público urbano.” 

À espera de um espaço no transporte

À espera de um espaço no transporte

A cidade de Maputo foi alvo de greves nos anos 2008 e 2010 devido à subida do preço do transporte, vulgo “chapa 100”, aliada à subida dos preços dos produtos de primeira necessidade e do combustível. Desde Janeiro de 2014, têm-se registado paralisações constantes dos transportes semi-colectivos. Os motoristas reivindicam melhorias no estado das vias de acesso e estradas, e pedem um reajuste das tarifas considerando que estas são insustentáveis para a realidade actual. Uma publicação no Facebook do jornal CanalMoz aponta algumas das queixas:

Os transportadores dizem que o mau estado da via está a contribuir para a degradação dos carros. Os automobilistas questionam para onde vai o dinheiro que é pago ao município em taxas, se as estradas estão esburacadas. Em adição a isso queixam-se também pelo facto de o Governo ter priorizado a inspecção de viaturas para recolher dinheiro, no lugar de reparar as estradas.

Enquanto isso, a sociedade civil de Maputo tem dado passos para a criação da Autoridade Metropolitana de Transporte de Maputo, prevista no Plano Director (pdf) de Mobilidade e Transporte para a área Metropolitana de Maputo (2013-2035). 

A organização sem fins lucrativos RUth (Rede Uthende), uma iniciativa de participação e influência do processo político e políticas públicas com foco particular nos centros urbanos e na questão dos transportes, lançou recentemente uma campanha por “melhor mobilidade, mais qualidade de vida na região do Grande Maputo” e um Manifesto do Cidadão (pdf) que advoga pela criação da tal Autoridade dos transportes. A organização participou nas marchas do Dia Internacional do Trabalhador, 1º de Maio, e resumiu a “tónica das reivindicações difundidas pelos trabalhadores e estudantes utentes de transportes urbanos de passageiros da área metropolitana de Maputo” da seguinte forma: “Não te quero mais, ‘My Love'!“.

Todas as fotografias incluídas neste artigo foram tiradas pelo autor.

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