Maputo, capital de Moçambique foi palco de uma marcha que tinha em previsão cerca de 20 mil simpatizantes da Frelimo [1] como forma de saudação dos feitos do Presidente da República Armando Guebuza [2] [pdf] pela sua governação durante os seus dois mandatos, o último a findar este ano. O presidente está no poder desde 2004 e completa 71 anos no próximo dia 20 de Janeiro de 2014.
Essa marcha surge numa altura em que o país atravessa uma instabilidade política na zona Centro e Sul do país, caracterizada por confrontos militares entre homens armados da Renamo [3] e o exército moçambicano.
A marcha foi convocada pelo partido Frelimo, o único partido no poder desde a independência do país, e iniciou no mesmo lugar onde a 31 de Outubro de 2013 decorreu outra marcha contra uma série de raptos e a insegurança crescente no país, convocada pela Liga Moçambicana dos Direitos Humanos [5], Alice Mabota [6], que juntou na altura mais de 20 mil pessoas.
No dia 16 de Janeiro o primeiro secretário do partido Frelimo na cidade de Maputo, Hermenegildo Infante fez oficialmente o lançamento da marcha [7], “que visa resgatar a imagem do actual Presidente da República (…) que caiu no descrédito popular devido à sua má governação”, segundo noticiou o CanalMoz. Infante chamou a atenção aos que criticam o Presidente da República:
Eu tenho a certeza de que estas pessoas depois de cessar o seu mandato hão-de falar bem do presidente Guebuza.
António Jorge, um residente na cidade de Maputo, teve uma opinião [8] diferente:
Pelo contrario iremos sentir a falta de sermos roubados pelo governo, que inventa leis e não cumprem. Sr. Infante não nos chama de ignorantes como Sr esta ser, solução leia a carta da renamo em imprensa e nos diremos onde vocês estão a falhar e onde eles estão a falhar e daremos soluções. O Sr. tem filhos porque não manda um dos seus filhos a guerra para o senhor poder sentir o que e perder um filho por causa da ignorância, ambição de um punhado de dirigentes do partido FRELIMO. Fala de segurança que segurança o sr tem nas ruas de maputo ? Os primeiros a roubarem a população são os trabalhadores do estado junto com os seus dirigentes, hoje temos mais medo da policia do que do ladrão.
Luis Augusto Maraire [10], comentando a foto [11]do Jornal @Verdade sobre a marcha (à direita), referiu que em vez da marcha, a Frelimo devia preocupar-se com a tensão política que se alastra no país:
a frelimo gasta tempo fazendo marcha pra exaltação da credibilidade de Guebuza, em vez de pensarem uma forma de pararem e pensar uma forma de parar o derramamento de sangue das zonas centro,norte e sul
Cesar Eurico Kawawa, [12] cidadão residente em Nacala, elogiou ainda na mesma publicação a iniciativa da marcha tendo dito:
Guebuza Merece muito mais do que esta simples marcha. Guebuza fez muito para Moçambique e pelo povo moçambicano, mesmo que o SUCESSO ALHEIO incomode aos que se recusam a ver os feitos deste Herói da Luta Contra a Pobreza! Bem haja Guebuza!
Outros criticaram [13] o facto de terem sido usados bens do Estado para fins partidários, como um mini bus da Direcção de Educação [14] que serviu para transportar cidadãos para a marcha.
Beto Dias Pikles [15]repudiou o facto de se ter usado a Televisão Pública para a transmissão em directo da marcha:
Os verdadeiros mocambicanos nao aderiram as idiotices cometidas pela Classe Governante pese embora seja um direito constitucional. Algo que deixa-me estupefato eh o porque duma [televisão] publica onde os impostos de milhoes de cidadaos a faz funcionar vai transmitir em directo uma marcha? Habitualmente minhas sobrinhas tem estado em frente ao ecra logo pela manha pra acompanhar programas que elas gostam e hoje a TV foi mais uma vez partidarizada.
A marcha foi relatada no Twitter com a hashtag #MarchaSaudaçãoGuebuza [16]. Ulla Andren [17], embaixadora da Suécia em Moçambique considerou cômica a organização dessa marcha:
Frelimo organiza hoje marcha e cômico em saudação ao Presidente Guebuza em Maputo com lema “Guebuza – os moçambicanos estão contigo”.
— Ulla Andren (@UAndren) 18 janeiro 2014 [18]