Com um beijo, jogador de futebol coloca a homofobia em discussão no Brasil

Uma semana após os protestos contra homofobia realizados por atletas durante o Mundial de Atletismo em Moscou, e das declarações da tricampeã Yelena Isinbayeva em favor da lei antigay russa, foi a vez do Brasil debater a homofobia através dos esportes.

Uma foto compartilhada pelo jogador do Corinthians, Emerson Sheik, acendeu a polêmica nas redes sociais brasileiras. Na imagem, o camisa 10 aparece comemorando a vitória de sua equipe, dando um beijo em um amigo.

Imagem partilhada no instagram com 9.985 likes no momento de publicação deste artigo.

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Na legenda, Sheik escreveu:

Tem que ser muito valente, para celebrar a amizade sem medo do que os preconceituosos vão dizer. Tem que ser muito livre para comemorar uma vitória assim, de cara limpa, com um amigo que te apóia sempre.

Bastou um beijo para que o futebol, um meio notoriamente machista, se tornasse tribuna de debate sobre homofobia.

Críticas à atitude de Sheik não demoraram a aparecer na rede, e logo se articularam fora dela. Um grupo de torcedores, integrantes da torcida organizada Camisa 12, realizou protesto no centro de treinamentos do Corinthians, exigindo um “pedido de desculpas” e retratação do jogador. O grupo carregava faixas com dizeres como “Viado, aqui não” (sic) e “aqui é lugar de homem”.

Em sua conta oficial no Twitter, a Camisa 12 (@Camisa12oficial) se pronunciou dizendo:

Como lembrou Wilson Gomes, o uso de termos que remetem a homossexualidade, em um ambiente como o do futebol, sempre foi uma forma de diminuir o outro. Ele escreve:

Aliás, faço logo uma distinção: não importa “o caso do selinho de Sheik”; o que é interessante é o “o caso da escandalização por causa do selinho de Sheik”. Tenho cá comigo uma regra de antropologia social de que não abro mão: pode-se conhecer, e muito, uma dada cultura pela lista dos fatos com que ela fica escandalizada.

Em apoio a Sheik, artistas lançam beijaço e a campanha #SheikTamoJunto. Foto: Reprodução/ Facebook

Artistas lançam beijaço e a campanha #SheikTamoJunto.

Por outro lado, a rede também se encheu de mensagens em apoio ao jogador.

Não demorou para que uma reedição do “beijaço”, campanha de protesto contra a homofobia na Comissão de Direitos Humanos e Minorias do Brasil realizada em abril na rede, começasse a circular em apoio a Sheik.

O movimento começou com uma foto (à direita) publicada pelos irmãos Fernando e Gustavo Anitelli, integrantes do grupo O Teatro Mágico.

Logo a ideia foi articulada pelo Blog do Rovai e ganhou as redes com as hashtags #Sheiktamojunto e #vaicurintia.

Usuários passaram a postar suas próprias fotos em apoio:

Fotos em apoio circularam pelas redes sociais. Foto: Alex Capuano/Facebook

Fotos em apoio circularam pelas redes sociais. Foto: Alex Capuano/Facebook

O blog Impedimento lembrou os tempos da Democracia Corintiana, considerado “o maior movimento ideológico na história do futebol brasileiro”, liderado por um grupo politizado de jogadores da equipe paulista.

Protesto mesmo, ato de rebeldia, daqueles que nos remetem ao Corinthians da Democracia, foi o beijo de Sheik, mesmo que ele não tivesse qualquer intenção política no gesto. Não é nada, não é nada, mas nunca tínhamos visto algum jogador brasileiro peitar este “preconceito babaca que existe no futebol”, como Sheik afirmou hoje, após a repercussão do gesto de carinho.

A foto e o beijo de Emerson Sheik se tornaram um ato de resistência na luta contra a homofobia, em um mundo onde 76 países ainda criminalizam as relações homossexuais. Ou, o que o blogueiro Fabio Chiorino definiu como “um pequeno beijo para o homem, um grande passo para o futebol brasileiro”.

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