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Yoani Sánchez visita o Brasil dividindo opiniões

Categorias: América Latina, Brasil, Cuba, Ativismo Digital, Liberdade de Expressão, Mídia Cidadã, Política, Protesto, Relações Internacionais

Ela finalmente conseguiu. Depois de sucessivas tentativas para deixar Cuba, Yoani Sánchez desembarcou em Recife [1] na madrugada do dia 18 de fevereiro. Com uma agenda cheia no país, que inclui estados como a Bahia e São Paulo, a sua digressão também deve passar por México, Estados Unidos, Argentina, Canadá, Peru, Espanha, Itália, Polônia, Alemanha, República Tcheca, Países Baixos e Suíça, onde morou entre 2002 e 2004. A recepção no Brasil teve protestos de simpatizantes do governo cubano [2].

Em um de seus primeiros tweets em solo brasileiro, Yoani (@yoanisanchez [3]) observou [4] boa qualidade na conexão:

#Cuba [5] Mi primer tweet conectada a #Internet [6] en #Brasil [7]… waooo que conexión más rápida :-)

#Cuba [5] Meu primeiro tweet conectada a #Internet [6] no #Brasil [7]…uau, que conexão rápida :-)
Yoani morou na Suiça entre 2002 e 2004 (Foto: Cristian Eslava, no Flickr) [8]

Yoani morou na Suiça entre 2002 e 2004. Foto: Cristian Eslava, no Flickr (CC BY-SA 2.0)

Ainda no microblog, se disse impressionada [9] ao ver, ainda no aeroporto, pessoas falando abertamente sobre política:

Me asombró ver a varios empleados aeropuertarios de #Brasil [7] hablar en voz alta y francamente de política. En #Cuba [5] hablan en un murmullo

Me impressionou ver vários empregados do aeroporto no #Brasil [7] falarem sobre política em voz alta e francamente de política. Em #Cuba [5] falam murmurando

Em Feira de Santana, no estado da Bahia, o documentário Conexão Cuba-Honduras [10], no qual ela é uma das entrevistadas, seria apresentado na noite de segunda-feira (18/02).

No entanto, devido a manifestações promovidas por militantes do Partido dos Trabalhadores (PT) e do Partido Comunista do Brasil (PC do B), a projeção não ocorreu [11].

http://youtu.be/HTcpoo1uqs4 [12]

Pelo Twitter, o jornalista Marcos Rolim (@RolimMarcos [13]), no dia 18 de fevereiro, vociferou [14] contra o ato:

O que Yoani fez para merecer este ódio? Pensar diferente do partido único de Cuba? Exigir que todos os cubanos tenham acesso à internet?

Rolim ainda disse [15]:

A imbecilidade dos protestos é tamanha que só o que esses militontos irão conseguir é mais isolamento para suas ideias do séc. XIX.

A dissidente ficou conhecida em 2007, quando o correspondente da Agência Reuters em Cuba, Esteban Israel, publicou uma matéria [16] sobre seu blog, Generación Y [17]. Ela também mostra bastante atividade no Twitter [18] [en], com mais de 417.000 seguidores.

O blog Jornalismo B [19], de Alexandre Haubrich (@alexhaubrich [20]) fala, em artigo publicado no dia 27 de janeiro, que “a blogueira cubana é, há anos, estrela internacional da luta imperialista contra a Revolução Cubana”. O texto relata:

Yoani é uma peça interessante no tabuleiro que sedia a luta entre a Revolução Cubana e o imperialismo capitalista. Ela usa a mídia internacional para se promover e ganhar dinheiro – muito dinheiro, como indicam ao menos as premiações que recebe – ao mesmo tempo em que é usada como fonte principal de tudo o que se fala sobre Cuba, sempre com o direcionamento de ataques frontais ao governo cubano.

Yoani Sánchez conseguiu autorização para sair de Cuba (Foto: Andre Deak, no Flickr) [21]

Yoani Sánchez conseguiu autorização para sair de Cuba Foto: Andre Deak, no Flickr [22] (CC BY 2.0)

De acordo com o Portal Imprensa [23], a viagem é uma chance para que ela rebata as acusações “de receber dinheiro do governo dos Estados Unidos e ser uma agente da CIA”.

Crítico das atividades de Yoani Sánchez, o jornalista francês Salim Lamrani condena as distinções financeiramente remuneradas recebidas por Yoani no período de alguns anos, num total de 250 mil euros. O artigo do Opera Mundi [24] republicado no dia 18 de fevereiro no Portal Vermelho [25] indica:

isto é, um montante equivalente a mais de 20 anos de salário mínimo em um país como a França, quinta potência mundial, e a 1.488 anos de salário mínimo em Cuba.

No texto, ainda são indicados outros pagamentos:

A isso se soma o salário mensal de seis mil dólares concedido pela Sociedade Interamericana de Imprensa, que agrupa os grandes conglomerados midiáticos privados do continente, e que decidiu nomeá-la vice-presidente regional por Cuba de sua Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação5. O jornal espanhol El País também decidiu nomeá-la correspondente em Havana, e lhe paga um bom salário.

Em determinado momento [26], Yoani afirmou ser contra o bloqueio dos Estados Unidos a Cuba:

É uma atrocidade impedir que os cidadãos norte-americanos viajem a Cuba, do mesmo modo que o governo cubano me impede de sair de meu país.

Os que apoiam as ações da dissidente, acusam o governo brasileiro de colaborar com o governo cubano na repressão. Texto publicado no Blog do Coronel [27], diz que um plano de espionagem teria o apoio logístico do governo brasileiro, comandado pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

O que Yoani não sabe é que, apesar da distância que separa o Brasil de Cuba – 5 000 quilômetros -, ela não estará livre dos olhos e muito menos dos tentáculos do regime autoritário. Para os sete dias em que permanecerá no Brasil, o governo cubano escalou um grupo de agentes para vigiá-la e recrutou outro com a missão de desqualificá-la a partir de um patético dossiê. Uma conspirata oficial em território estrangeiro contra quem quer que seja é uma monumental afronta à soberania de qualquer nação.

Conforme o portal Brasil 247 [28], o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, emitiu, no dia 17 de fevereiro, uma nota na qual nega qualquer contato com Havana.

A Secretaria-Geral ressalta que não tratou, nem autorizou nenhum servidor a tratar, da visita da cubana Yoani Sánchez ao Brasil. A Secretaria-Geral não foi informada de reunião na embaixada cubana nos termos relatados pela revista. A suposta participação do servidor Ricardo Augusto Poppi Martins será devidamente apurada quando de seu retorno ao Brasil.

O Blog do Edson Sombra [29] relata que Alvaro Dias (PSDB), senador da bancada de oposição ao governo de Dilma Rouseff (PT), convocará o Ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, e o secretário-geral, Gilberto Carvalho, para prestar esclarecimentos.

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) disse, neste sábado (16), que pretende convocar os ministros Antonio Patriota (Relações Exteriores) e Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência), bem como fazer um convite ao embaixador de Cuba no Brasil, Carlos Zamora Rodríguez, para que compareçam ao Senado para falar sobre a suposta mobilização capitaneada pelo embaixador contra a blogueira cubana Yaoni Sánchez, conforme revelado pela revista “Veja”. Segundo a publicação, o embaixador de Cuba teria organizado uma reunião no dia 6 de fevereiro com militantes de partidos de esquerda brasileiros na tentativa de montar uma estratégia para denegrir a imagem da bloqueira cubana Yoani Sánchez.