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Mais quantos sírios devem morrer?

Categorias: Oriente Médio e Norte da África, Síria, Mídia Cidadã, Política

Como parte da nossa colaboração com a Syria Deeply [1] estamos sindicando uma série de artigos que capturam as vozes dos civis em meio ao fogo cruzado, somado às perspectivas de escritores do mundo todo sobre o conflito.

Bessma Momani é pesquisadora convidada na CIGI and Brookings Institution e professora adjunta na University of Waterloo. Você pode encontrá-la no Twitter como @b_momani [2]. Momani compartilha sua opinião sobre a crise na Síria aqui:

As a political analyst, I can comprehend the plausible geostrategic and political reasons to explain why, despite international recognition for the Syrian National Coalition, the reality on the ground will change little. And why, despite the over 60,000 Syrians killed, the red line for the international community remains the use of chemical weapons.

The use of chemical weapons sets a dangerous precedent in a region with significant stockpiles and plenty of conflict. By labeling this as the red line, international governments are trying to send a warning signal to all regional players about the boundaries of acceptability.

Como analista de política, posso compreender as razões geoestratégicas e políticas plausíveis para explicar por que, apesar do reconhecimento internacional da Coalizão Nacional Síria, a realidade local vai mudar pouco. E por que, apesar dos mais de 60.000 sírios mortos, o limiar para a comunidade internacional continua a ser o uso de armas químicas.

O uso de armas químicas estabelece um precedente perigoso numa região com estoques significativos e abundância de conflitos. Ao classificá-lo como limiar, os governos internacionais estão tentando enviar um sinal de alerta para todos os atuantes regionais sobre os limites de aceitabilidade.

I can also understand the Obama Administration’s quick move to identify the extremist group, Jabhat al-Nusra, a terrorist organization. At one level, the move can be seen as a strategy to quell a testy Congress that had become obsessed with the government’s failure to predict a blowback of radicals in Libya who took the life of state department employees. Recognizing the Nusra Front as a terrorist organization, before the US government acknowledged the Syrian National Coalition as the recognized representative of the Syrian people, reassured Congress—and the world—that the Obama Administration would not ignore extremist forces.

Também posso entender o rápido movimento da Administração Obama para identificar o grupo extremista Jabhat al-Nusra como uma organização terrorista. De certa maneira, o movimento pode ser visto como uma estratégia para debelar um Congresso irritadiço, que se tornou obcecado pelo fracasso do governo em prever um efeito bumerangue de radicais na Líbia que tiraram a vida de funcionários do Departamento de Estado. Reconhecer a Frente Nusra como uma organização terrorista, antes que o governo dos EUA reconhecesse a Coalizão Nacional Síria como representante legítima do povo sírio, reassegurou ao Congresso – e ao mundo – que a Administração Obama não iria ignorar as forças extremistas.

At the same time, the US has resisted labeling the Assad army as a terrorist organization, a move that has enormous implications if there is a negotiated solution to the end of this crisis. The US government is keenly aware that it failed in Iraq by encouraging de-Baathification following the removal of Iraqi President Saddam Hussein. Keeping the Syrian army off a terrorist list will allow some elements of the brass to play a “legitimate” role in a new Syria and encourage more defections within the armed forces and Assad regime in the coming months.

But, these so-called geopolitical explanations are also excuses for inaction.

Cortesia da Shaam News Network

Ao mesmo tempo, os EUA têm resistido em rotular o exército Assad como uma organização terrorista, um movimento que tem enormes implicações se houver uma solução negociada para o fim desta crise. O governo dos EUA está ciente de que falhou no Iraque ao incentivar a de-baathificação após a remoção do presidente iraquiano Saddam Hussein. Manter o exército sírio fora de uma lista de terroristas vai permitir que alguns indivíduos do alto escalão militar desempenhem um papel “legítimo” numa nova Síria e encorajem mais deserções dentro das Forças Armadas e do regime Assad nos próximos meses.

Mas, essas assim chamadas explicações geopolíticas também são desculpas para a inação.

The sad truth is that many more Syrians will die and the international community, including us analysts, will find plenty of reasons to justify inaction. None of these reasons will comfort Syrians who remain perplexed by why the world ignores their plight, day after day. Over half a million people have fled the country, an average of over 800 a day, with millions of others trapped and internally displaced. There is an unknown number of political prisoners, but estimates of 25,000 are noted [3], being held in Assad army camps. Many Syrians I’ve interviewed estimate that nearly 20 children have been killed nearly every single day in Syria over the past two years.

A triste verdade é que muito mais sírios irão morrer e a comunidade internacional, incluindo nós analistas, vai encontrar várias razões para justificar a inação. Nenhum desses motivos irá confortar os sírios que permanecem perplexos com o porquê do mundo ignorar sua condição, dia após dia. Mais de meio milhão de pessoas fugiram do país, uma média de mais de 800 por dia, com outras milhões presas e internamente demovidas. Há um número desconhecido de prisioneiros políticos, mas são notadas estimativas de 25.000 [3] [en], mantidos em campos militares do Assad. Muitos sírios que eu entrevistei estimam que cerca de 20 crianças foram mortas quase todos os dias na Síria nos últimos dois anos.

But, while the geopolitical considerations for inaction are many, reasons to act are plenty as well. Inaction can lead to long-term consequences. Thirty-six percent of the Syrian population are children under the age of 14, and 24% of the population is between the ages of 14-24, according to the World Bank. Not only is their education interrupted, but they are living without homes and with increased hopelessness. The long-term psychological damage on an entire generation of Syrians has yet to be played out.

Porém, enquanto as considerações geopolíticas para a inação são muitas, as razões para agir também são. A inação pode levar a consequências em longo prazo. Trinta e seis por cento da população da Síria são crianças menores de 14 anos de idade, e 24% da população está entre as idades de 14-24 de acordo com o Banco Mundial. Não só a sua educação está interrompida, mas elas estão vivendo sem teto e em crescente desespero. O dano psicológico de longo prazo em toda uma geração de sírios ainda há que se desenrolar.

Syria is being destroyed, one beautiful city after another, right before our eyes. Schools, hospitals, parks, private businesses, and entire public infrastructure are completely gone. There are fewer homes and places of work for Syrian refugees to return to, with each passing day.

Already, this instability is spilling into Lebanon. Already, this helplessness has taken root in extremism. It’s been too long that we’ve tried to justify our ‘Syria strategy’.

A Síria está sendo destruída, uma bela cidade após a outra, bem diante de nossos olhos. Escolas, hospitais, parques, empresas privadas e infraestruturas públicas completas desapareceram. Há poucas casas e locais de trabalho para onde os refugiados sírios podem voltar a cada dia que passa.

Agora, esta instabilidade está vazando para o Líbano. Agora, esse desamparo criou raízes no extremismo. Já faz muito tempo que nós tentamos justificar nossa “estratégia para a Síria”.

 How many Syrians must die for the world to act?

 Quantos sírios devem morrer para que o mundo aja?