Ativista saudita: “Isto é uma inquisição, processam-nos por nossas opiniões”

Foi realizada em 1º de dezembro de 2012 a sétima sessão de audiência do julgamento em andamento de dois ativistas proeminentes de direitos humanos, Mohammad Al-Qahtani e Abdullah Al-Hamid, no Tribunal Penal de Riade. Na última sessão de audiência [en], os réus responderam às acusações e, hoje, o Ministério Público apresentou mais ‘esclarecimentos’. Setenta e nove defensores da causa assistiram à sessão, incluindo três mulheres. Além disso, encontravam-se presentes os correspondentes da Al Jazeera, Sky News e AFP.

O representante do Ministério Público começou a expor que os dois ativistas, na verdade, não estavam sendo acusados de “impedir o desenvolvimento do país”, mas sim de “tentar impedir o desenvolvimento do país.” Afirmou que “a diferença entre os dois é bem óbvia para aqueles que tem cérebro”, e que as demandas deles com relação às manifestações pacíficas e partidos políticos são fortes evidências. Declarou ainda que: “aquele que buscar o que os dois escrevem, não encontra nenhuma menção de aspecto positivo. Isso prova que eles estão somente em busca de lacunas.”

O Ministério Público adicionou novas evidências para provar o desrespeito do Dr. al-Hamid ao clérigo do Estado: o erro de soletração do último nome de Muhammad ibn al Uthaymeen [en], que é um clérigo ultraconservador muito respeitado. Em um de seus tweets, al-Hamid foi acusado de soletrar o sobrenome de Uthaymeen de uma maneira que faz soar como “Muhammad, o filho do estéril”. Um usuário saudita do Twitter mostrou que o iPhone fez uma correção automática da ortografia árabe do nome ‘Uthaymeen’, tornando sua leitura como ‘estéril’ [en]. O ativista saudita Sultan al-Fifi expressou sua surpresa:

لم أكن أعلم أن ملاحقة مرتكبي الأخطاء المطبعية من صلاحيات هيئة التحقيق والادعاء العام :) #محاكمة_حسم

@SultanAlfifi: Não sabia que rastrear erros de soletração era uma das obrigações do Departamento de Investigação e do Ministério Público :)

Os participantes, após o fim da sessão. via @alajmi01

Na sessão anterior, o juiz afirmou que possuía CDs de gravações de vídeo dos dois ativistas, bem como leu alguns tweets escritos pelo Dr. al-Qahtani, o qual demonstrou sua preocupação no tocante ao juiz poder estar tendo conversas com o promotor de justiça fora do tribunal, o que viola a neutralidade. O juiz declarou que havia obtido esses tweets e os CDs por intermédio de “vias oficiais”. O Dr. al-Qahtani respondeu: “Todas as provas devem ser apresentadas aqui, diante de nós.” O juiz afirmou que eles somente desejavam desperdiçar tempo com tais acusações. O Dr. al-Hamid disse: “Não estamos tentando influenciar vossa decisão, porém há procedimentos que devem ser seguidos”, e, então, perguntou:

To those who say that demonstrations are prohibited, what have you achieved? Have you been able to restore stolen lands? Peaceful struggle is the way… This is an inquisition, prosecuting us for our opinion. You are prosecuting us because we believe in peaceful struggle.

Para aqueles que dizem que manifestações são proibidas, o que vocês tem feito? Vocês foram capazes de recuperar terras roubadas? Luta pacífica é o caminho … Isto é uma inquisição, processar-nos por nossa opinião. Estamos sendo processados porque acreditamos na luta pacífica.

Quando o juiz afirmou que os dois ativistas não conseguiram provar a detenção arbitrária de mais de 30.000 pessoas, eles disseram, uma vez mais, “abra as prisões e Vossa Excelência descobrirá”. “É como pedir a alguém para contar pêlos de camêlo”, acrescentaram.

O juiz perguntou a al-Hamid, “o que você quer dizer com luta pacífica?”, e al-Hamid respondeu:

هذه محاكم تفتيش تحاكما على آرائنا. تحاكمنا لأننا نؤمن بالجهاد السلمي. أقسم بالله أنك إن سجنتنا 3 أشهر أو 30 سنة فلن نبالي وسنحتسبه جهادا سلميا وسيكمل الشباب من بعدنا المشروع.

>Isto é uma inquisição, processar-nos por nossa opinião. Estamos sendo processados porque acreditamos na luta pacífica. Pode nos sentenciar a três meses ou a 30 anos de prisão que, eu juro por Deus, prosseguiremos com nossa luta pacífica, e os jovens nos seguirão.

O tribunal, lotado de homens jovens, foi irrompido por aplausos, o que tornou o juiz muito frustrado. Ele, então, ordenou os policiais a retirarem todos os participantes do tribunal e ordenou a detenção de um deles por 24 horas; contudo, cancelou a ordem após solicitação feita pela do Dr. al-Qahtani. Al-Qahtani tuita:

@MFQahtani: #ACPRA_trial ended @ 10:30 am, after audience violated court order by clapping &chanting during hearing, details are latter. #Saudi #acprahr

@MFQahtani: o julgamento ACPRA terminou às 10:30, após a platéia ter violado ordem judicial, ao bater palmas e cantar durante a audiência, esses detalhes são os últimos. #Saudi #acprahr

A sessão seguinte de audiência foi realizada no sábado, dia 8 de dezembro.

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