Brasil: Estudantes de Ciências Humanas reivindicam mobilidade além-fronteiras

O anúncio da exclusão das Ciências Humanas no novo edital do programa federal de intercâmbio e mobilidade internacional para estudantes de ensino superior no Brasil, Ciência Sem Fronteiras (CsF), lançado no dia 20 de novembro de 2012, revoltou numerosos estudantes que iniciaram uma campanha online pela reversão da decisão.

O novo edital exclui a possibilidade de participação de estudantes de pelo menos 24 cursos, 20 deles de Ciências Humanas: Comunicação social (Publicidade e Propaganda, Jornalismo), Estudos de Mídia, Sistemas e Mídias Digitais, Ciências da Informação, Gestão da Informação e Documentação, entre outros. O programa é focado na área tecnológica, mas a categoria Indústria Criativa era uma ‘brecha’ para alunos de Humanas.

Cristiane Nascimento e Davi Lira relatam no site Estadão:

A justificativa é que esses cursos no Brasil não têm lacunas a serem preenchidas como os de Ciências Exatas, Engenharias e áreas tecnológicas e, portanto, não precisariam ser complementados com o estudo em universidades do exterior.”

Em resposta, a 21 de novembro, os estudantes criaram no Facebook o grupo “Ciência COM Fronteiras”, que conta no momento de publicação deste artigo com mais de 2100 membros. A expectativa dos criadores da página é pressionar o Programa Ciência sem Fronteiras no sentido de reverter a decisão.

Página de Facebook Ciência Com Fronteiras

Página de Facebook Ciência Com Fronteiras

Larissa Goulart escreve no grupo:

Acho que vocês deviam começar um movimento pela inclusão de TODOS os cursos, não só desses que foram excluídos, mas também os das humanas que NUNCA foram incluídos e pela amor de dells não me venham com essa história de que ciências humanas não são ciências.

Kátia Flavia comenta:

Ah gente. Que país maravilhoso. Já não bastasse os sem terras, sem teto, desempregados, os pobres, a periferia, os excluídos digitais, agora mais uma miserável categoria produzida especialmente pelo nosso maravilhoso país: Os excluídos da Ciência. Tem coisas que a gente faz muito bem mesmo.

Fernando Strongren propõe ir além:

Uma página como essa não pode se portar como um point de ‘bebês chorões’, que só reclamam que estão desmamados. É preciso apontar argumentos que mostrem a importância do desenvolvimento do homem – entendido como fim das Ciências Humanas – para o desenvolvimento do país. Só assim deixaremos claro como esse processo de abandono das humanidades é um absurdo!

Uma nota publicada pelo movimento no dia 26 de novembro no Facebook esclarece os seus propósitos:

Foto da capa do grupo Facebook Ciência com Fronteiras

Foto da capa do grupo Facebook Ciência com Fronteiras

O que de fato nos incomodou e nos motivou a recorrer à justiça foram os mais de 1.100 casos de alunos de humanas e saúde homologados nas duas chamadas passadas e a mudança repentina nessa atual, sem que nenhum sinal de alteração tenha sido feito. (…) Assim, centenas de estudantes tiveram gastos com exames de proficiência, cursos preparatórios, passaportes, passagens para outras cidades onde os supracitados exames seriam realizados, etc.

A mesma nota indica ainda que reuniu “cerca de 36 páginas de comprovantes de pessoas que tiveram ônus financeiro para participar do processo seletivo”, e levanta as seguintes questões:

1. Como o governo espera lidar com os estudantes que investiram no idioma para tentarem a bolsa?

2. O que torna os alunos homologados para o início do ano diferentes de nós? Sorte? E onde fica o princípio da isonomia do art. 5?

3. Por que a decisão de nos excluir não foi avisada logo na abertura do edital desse ano (que vale para as duas entradas: janeiro e agosto/setembro de 2013)? É legal alterar dessa forma um edital enquanto ele ainda está em vigor?

E termina:

Vocês podem revolucionar as descobertas na saúde, na robótica, na ecologia e tudo quanto é mais ciência, mas não se esqueçam: nós revolucionamos o pensamento e sem ele, nenhuma sociedade democrática se sustenta.

Os estudantes prometem entregar pessoalmente nesta segunda feira, 26 de novembro, à Capes em Brasília “as assinaturas do abaixo-assinado, a carta aberta assinada pelos estudantes e o comprovante de gastos das pessoas que se preparam para o edital”. Está previsto também o pedido de uma “liminar ou ação cautelar que suspenda o processo seletivo até que se resolva a pendência quanto aos cursos excluídos”. Uma petição lançada no Avaaz, dirigida ao Governo Federal, Ministério da Educação e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), conta já com perto de 2650 assinaturas. Para o final do dia, pelas 19 horas de Brasília, foi agendado um twittaço com a hashtag #CienciaComFronteiras.

 

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