Este post faz parte da nossa cobertura especial Europa em Crise.
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Desde o início da crise económica, não tem sido possível à casta política tomar medidas que fomentem o crescimento ou que criem emprego. Pelo contrário, são aplicados múltiplos cortes aos orçamentos que põem em risco sectores inteiros da sociedade e que colocam em perigo os direitos sociais dos cidadãos. A situação agrava-se nos países cujas economias estão na corda bamba.
Face à situação actual, há quem decida tomar as rédeas do seu futuro. Em Espanha, continuam a surgir movimentos e fenómenos encorajadores: são muitos os que apostam na geração de alternativas viáveis seja através de redes de partilha de bens e serviços ou da criação de sistemas sustentáveis e de consumo responsável.
Partilhar para poupar
Uma das consequências da crise tem sido o alastramento da pobreza à classe média e o deterioramento das condições para os sectores mais vulneráveis da sociedade, tal como aponta um relatório recente das Nações Unidas sobre o caso espanhol. Enquanto isso, uma parte da população aposta em mecanismos de auto-gestão e de partilha e troca de bens como opções mais solidárias e económicas. Antes do início da crise, alguns destes mecanismos já existiam, porém é agora que estão a ganhar maior importância.
Para que viajar não se torne um luxo, e poder poupar dinheiro nas viagens, uma prática comum é a partilha de boleia. Dessa forma, pessoas que não se conhecem mas que pretendem fazer o mesmo trajecto, podem viajar juntas num só veículo por um preço razoável dado que dividem os gastos do combustível pelo número de passageiros. Seguindo o mesmo modelo, desenvolveu-se o táxi colectivo que consiste na divisão do custo do serviço pelo máximo número possível de pessoas. E também para quem viaja, o couch-surfing é uma alternativa que permite desfrutar de alojamento mais económico no estrangeiro.
A subida do IVA de 18 para 21 porcento em Espanha, medida que não estava incluída no programa eleitoral do actual Presidente Mariano Rajoy, implica um importante encarecimento e um duro golpe na carteira das pessoas. O aumento entrou em efeito em Setembro, mês em que os estudantes voltam à escola e as famílias compram materiais escolares.
Vários colectivos mobilizaram-se em força para coordenar doações de materiais didáctico, entre eles as assembleias de bairros e o movimento 15M. No que diz respeito a livros, sites como Libroscompartidos.com (Livros Partilhados) dedicam-se à troca de livros sem fins lucrativos inclusivamente a partir de cidades diferentes ao contar um serviço de envio e recolha do material.
Gerar um sistema responsável
As novas tecnologias, especialmente a internet, permitem expandir a onda de propostas construtivas bem como criar comunidades virtuais alternativas. É o que faz o site Etruekko, que paralelamente aos protestos e denúncias que tomam lugar em Espanha, pretende transmitir uma mensagem positiva e construir um modelo de sociedade diferente.
É uma rede social de comunidades virtuais, ainda em desenvolvimento, que potencia a responsabilidade social. Oferece o uso de uma moeda social chamada “truekko” que se obtém graças à troca de bens e serviços. Desta forma, consegue-se o empoderamento social, o consumo responsável e a difusão de princípios éticos através da web, mesmo para quem não seja um especialista no uso de novas tecnologias.
O blog Konsumo responsable (Consumo responsável) publicou a seguinte definição de “mercado social”:
El Mercado Social implementa un circuito de moneda complementaria que basa una parte de su funcionamiento en bonificaciones aplicadas a los consumidores con cada compra, y que para el proveedor supone un descuento en la venta. Es algo parecido a los programas de puntos que tienen algunas empresas grandes para fidelizar clientes y aumentar ventas, pero con el objetivo de ampliar la incidencia de la economía solidaria y desarrollar redes amplias que puedan funcionar con una “moneda” basada en criterios económicos no capitalistas.
Ocupações e centros sociais auto-geridos também têm um papel relevante nestas dinâmicas. Em Madrid, destacam-se La Tabacalera, Patio Maravillas e Casablanca. Estes centros nasceram da ocupação pacífica de um edifício devoluto para a criação posterior de espaços organizados e abertos ao público que oferecem actividades culturais e de recreio muito variadas.
Requerem organização constante por parte dos colectivos e associações que frequentam o centro e têm tido um impacto substancial nas comunidades em que se inserem. Para além das intervenções e debates sobre vários tópicos, os centros oferecem habitualmente também actividades como oficinas de dança e de música, concertos, exposições, lojas livres e espaços de encontro.
As hortas urbanas e hortas partilhadas [en], são propostas colectivas para práticas de horticultura em parcelas ou lotes sem uso nas grandes cidades. Favorecem sobretudo o encontro e intercâmbio entre pessoas dispostas a reflectir sobre o modelo económico a que pertencem e procurar alternativas éticas ao mercado vigente. Surgem daí grupos de consumo e cooperativas que permitem a compra de alimentos ecológicos renunciando ao mesmo tempo a conivência com os abusos contra pequenos agricultores cometidos pelas grandes cadeias de produção.
Independentemente de conseguir-se ou não criar um sistema capaz de competir com o mercado vigente, são cada vez mais as pessoas que aderem à auto-gestão, à ética e à responsabilidade social, questionando assim o mercado capitalista a partir da reflexão e da acção solidária. Isto deixa uma mensagem clara à sociedade e àqueles que estão no poder: um outro mundo é possível.
Este post faz parte da nossa cobertura especial Europa em Crise.