- Global Voices em Português - https://pt.globalvoices.org -

Portugal: Mais Austeridade, Porque Tarda a Revolução?

Categorias: Europa Ocidental, Portugal, Mídia Cidadã, Política, Protesto

Este post faz parte da cobertura especial Europa em Crise [1]

O governo português liderado por Pedro Passos Coelho afasta-se, cada vez mais, das promessas eleitorais e do caminho que prometeu seguir no período eleitoral, o que está a gerar uma onda de descontentamento manifestada, sobretudo, nas redes sociais.

Na noite de 7 de Setembro de 2012, o Primeiro-Ministro, fez uma comunicação [2] ao país, transmitida em directo na televisão pública [3], pouco tempo antes da transmissão de um jogo de futebol, anunciando mais medidas de austeridade que foram de imediato discutidas por alguns utilizadores do Twitter através das hashtags #Passos [4] e #Austeridade [5]. Ângelo Fernandes (@angelofernandes [6]), por exemplo, escrevia:

Basicamente aquele senhor acabou de me dizer que na minha casa vamos ter um decréscimo de 14% no orçamento. Felicidade ao rubro. #passos [4]

Sátira à medida anunciada da subida de 11% para 18% da contribuição para a Segurança Social, alargada ao sector privado. Cartoon de Zouzacomics [7]

Sátira à medida anunciada da subida da contribuição para a Segurança Social de 11% para 18% , alargada ao sector privado. Cartoon de Zouzacomics

José Guilherme M. (@guilherme_m [8]) lamentava:

Vou perder o equivalente a um mês de ordenado por ano. Que dizer. #austeridade [5]

Durante a tarde, o momento [9] escolhido pelo Primeiro-Ministro para fazer a comunicação, antes do “futebol e tourada” na televisão pública [3], em vias de privatização, tinha já sido alvo de críticas. Sílvia Vaz Guedes (@SilviaGuedes [10]) previa que a comunicação de Passos Coelho fosse “abafada” pelo jogo de futebol:

Isto de dar as más notícias antes do jogo foi bem pensado, ó Passos. Só se vai falar de futebol nas redes sociais.

Porém, as previsões de que o futebol iria fazer esquecer a comunicação ao país, não se confirmaram. Minutos depois de o anúncio ter sido feito, as críticas começaram a invadir a página oficial [11] de Passos Coelho, no Facebook, com claras referências às suas promessas eleitorais.

As redes sociais, muito usadas pelo actual líder do Governo (@passoscoelho [12]) durante o período eleitoral e pré-eleitoral, sobretudo o Twitter [12] onde ainda figuram algumas dessas promessas, pareciam ter sido abandonadas:

Pedro Passos Coelho e a esposa, na noite em que anunciou as novas medidas de austeridade. Imagem partilhada na página de Facebook "Tugaleaks" [13]

Pedro Passos Coelho e a esposa, na noite em que anunciou as novas medidas de austeridade. Imagem no Facebook de “Tugaleaks” (aqui reproduzida com permissão)

A pior coisa é ter um Governo fraco. Um Governo mais forte imporá menos sacrifícios aos contribuintes e aos cidadãos. (24 de Março de 2011 [14])

A ideia que se foi gerando de que o PSD [Partido Social Democrata [15], actualmente no poder] vai aumentar o IVA não tem fundamento. (30 de Março de 2011 [16])

Já ouvi o primeiro-ministro [José Sócrates [17]] dizer que o PSD quer acabar com o 13.º mês, mas nós nunca falámos disso e é um disparate. (1 de Abril de 2011 [18])

O PSD chumbou o PEC 4 [Pacto de Estabilidade e Crescimento [19]] porque tem de se dizer basta: a austeridade não pode incidir sempre no aumento de impostos e no corte de rendimento. (12 de Abril de 2011 [20])

Se formos Governo, posso garantir que não será necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema português. (2 de Maio de 2011 [21])

Todavia, um dia depois de ter anunciado as novas medidas de austeridade, Passos Coelho voltou a utilizar o Facebook [11] para fazer um comunicado ao país, referindo-se aos utilizadores como “amigos” e assinando apenas como “Pedro”.

Queria escrever-vos hoje, nesta página pessoal, não como Primeiro-Ministro mas como cidadão e como pai, para vos dizer apenas isto: esta história não acaba assim. Não baixaremos os braços até o trabalho estar feito, e nunca esqueceremos que os nossos filhos nos estão a ver, e que é por eles e para eles que continuaremos, hoje, amanhã e enquanto for necessário, a sacrificar tanto para recuperar um Portugal onde eles não precisarão de o fazer. Obrigado a todos. Pedro

As críticas voltaram a inundar o mural do Primeiro-Ministro, passando já de 35.000 comentários (na altura da publicação deste artigo), e a revolta inclui mesmo algumas pessoas que confessam ter votado nele.

Imagem partilhada na página do Facebook relativa ao evento "Que se Lixe a Troika! Queremos as nossas vidas" [22]

Imagem partilhada na página do Facebook relativa ao evento “Que se Lixe a Troika! Queremos as nossas vidas”

Apesar das críticas e do tom agressivo e insultuoso usado por alguns internautas, os ânimos parecem estar inflamados apenas nas plataformas online. Nas ruas, ainda não há protestos e os militantes de um dos partidos historicamente mais mobilizadores, o Partido Comunista Português, trocaram os protestos por um fim-de-semana de confraternização na festa do partido [23], que se realiza todos os anos, desde 1976.

Ao contrário de outros países que atravessam uma situação semelhante, as pessoas tardam em sair à rua para mostrar a sua insatisfação e são poucas as alternativas e soluções apontadas. As publicações da maior parte dos utilizadores do Facebook e do Twitter, revelam insatisfação, mas são pouco mais do que isso. Um bom exemplo é a publicação de André Garcia (@andrefgarcia [24]) que escreveu:

aguardo serenamente por um golpe de estado em Portugal

Para já, estão marcadas  mais de uma dezena de manifestações [25] de norte a sul do país para o dia 15 de Setembro com o mote “Que se lixe a Troika! Queremos as nossas vidas”, incluindo as maiores cidades de Portugal continental: Lisboa [26], Porto [27]Coimbra [28]Braga [29] e a cidade do Funchal [30], na ilha da Madeira, (que contam com cerca de 20.000 intenções de participação, no total, no momento de publicação deste artigo).

Foi através das redes sociais que, em 2010, ganhou força a manifestação da Geração à Rasca [31] que estaria na origem da queda do Governo [32] de José Sócrates.

Este post faz parte da cobertura especial Europa em Crise [1]