- Global Voices em Português - https://pt.globalvoices.org -

Suécia: Ministra da Cultura em Controvérsia de ‘Bolo Racista’

Categorias: Europa Ocidental, Suécia, Arte e Cultura, Etnia e Raça, Governança, Mídia Cidadã

O site de notícias grioo.com [1] informou que, em 15 de abril de 2012, a ministra de Cultura da Suécia, Lena Adelsohn Liljeroth, compareceu à pré-estreia de uma exposição no Museu de Arte Moderna de Estocolmo, para comemorar o ‘Dia Mundial da Arte’.

O destaque do evento parece ter sido a degustação do ‘bolo dolorido’, representando o corpo de uma mulher africana, como mostra o vídeo a seguir postado por Pontus Raud [2] no YouTube:

A peça compõe o trabalho de Makode Linde [3]. O autor publicou uma foto do evento em seu perfil no Facebook e explica:

Documentation from my female genital mutilation cake performance earlier today at stockholm moma. This is After getting my vagaga [vagina] mutilated by the minister of culture, Lena Adelsohn Liljeroth. Before cutting me up she whispered “Your life will be better after this”

Esta é a documentação da performance do meu bolo de mutilação genital feminina, que aconteceu hoje cedo, no Museu de Arte Moderna de Estocolmo. A foto foi tirada depois de eu ter minha vagina mutilada pela ministra da cultura, Lena Adelsohn Liljeroth. Antes de cortar-me ela sussurrou “A sua vida será melhor depois disso”.
Instalação de arte - página do Facebook de Makode Linde

Instalação de arte – página do Facebook de Makode Linde

De acordo com o ‘The Local [4]‘, um portal de notícias online, o vídeo provocou indignação entre os cidadãos suecos, incluindo Kitimbwa Sabuni, o porta-voz da Associação Nacional Afro-Sueca, que pediu a demissão da ministra.

No Facebook, a usuária Lyly Souris [5] [fr] quer saber:

Pardon, quel est le nom de l'artiste car j'aimerais comprendre sa démarche?
Cette recherche de compréhension n'annule pas mon sentiment d'indignation. Je ne veux pas me réfugier derrière l'idée qu'au nom de l'art on aurait le droit de tout faire. Je ne pense pas que c'est une polémique inutile qui est en train de se créer mais juste faire prendre conscient à cet artiste, à cette ministre de la culture et à tous les autres, qu'il est fini le temps où on laissait faire pour ne pas se faire remarquer et pour être accepté dans la société. Aujourd'hui nous sommes plutôt dans un mouvement : respectons nous!

Desculpe, qual é o nome do artista, porque eu quero entender a abordagem dele?
No entato, esta busca pelo entendimento não nega a minha indignação. Não dá para entender que por trás da idéia de que em nome da arte, temos o direito de fazer qualquer coisa. Eu não acho que isso é uma polêmica desnecessária que está sendo criada, mas apenas gostaria de sensibilizar este artista, esta ministra da cultura e todas as outras pessoas. Já se foi o tempo em que não se dizia nada para não ser notado e para ser aceito na sociedade. Hoje, estamos mais em um movimento: vamos respeitar a nós mesmos!

theddyralf comenta no YouTube [6] [fr]:

Des blancs bouffant du negre a Stockholm. Jusqu ou les leucodermes vont-ils pousser leur haine contre le negre et la chosification du negre. Le comble est qu il y a toujours les negres de services qui se prettent a se jeu, en mettant leurs …service a la disposition de ces sales besognes.

Pessoas brancas comendo um pedaço de negro em Estocolmo. Até que ponto pessoas de pele branca vão incitar o ódio contra os negros e mercantilizar-los? A ironia é que há sempre pessoas negras que jogam este jogo, colocando seus… serviços à disposição deste trabalho sujo.

Linde também recebeu mensagens públicas em um de seus perfis no Facebook [3], como Damone Moore [7] que incentiva o artista:

I love your last work. It makes people think and talk about what happened to slaves in a VERY LITERAL sense….

Eu amei o seu último trabalho. Isso faz com que as pessoas pensem e falem sobre o que aconteceu com os escravos em um sentido bem literal….

Um artigo de 2009 publicado no UrbanLife.se [8], um site sobre cultura afro-caribenha, evocou o aspecto provocador do trabalho de Linde:

With deceptive ease and humour, Makode Linde's work shows western conceptions of the good man and the good life in junction with the perception of the Other. A whole army of small mutations are formed that demonstrates a totally romanticized vision of the part of western history that is characterized by violence, slavery and racism.

Com uma facilidade ilusória e humor, o trabalho de Makode Linde mostra concepções ocidentais do homem bom e uma vida boa, em conexão com a percepção do outro. Um exército de pequenas mutações é formado, demonstrando uma visão totalmente romantizada de parte da história ocidental, que é caracterizada pela escravidão, violência e racismo.

Para Maxette Olson [9] [fr], um cidadão de Guadalupe basedo na Suécia, tal justificativa não inocenta o artista:

Makode est un jeune homme noir. Il n´a peut-être rien contre les noirs mais est un noir suédois qui se croit immunisé contre le racisme comme beaucoup de noirs ici.

Makode é um jovem negro. Ele talvez não tenha nada contra negros, mas ele é um negro sueco, que acha que está imunizado contra o racismo, como muitos outros negros daqui.