Anúncio dos Beneficiados pelo Rising Voices em 2012

O Rising Voices tem o prazer de anunciar seis novos membros para se juntar à sua comunidade global de beneficiados em mídia cidadã. Cada um dos projetos selecionados receberá microfinanciamento para implementar o projeto proposto de ensinar como usar diversas ferramentas de mídia cidadã. Esta competição mais recente resultou num interesse impressionante do mundo todo. No total, o Rising Voices recebeu mais de 1,178 candidaturas de mais de 122 países, e foi uma decisão difícil selecionar apenas seis projetos beneficiados. Houve muitos projetos merecedores, com grandes ideias, que abordavam necessidades específicas em pequenas comunidades locais, que infelizmente fomos incapazes de financiar. Os seis projetos selecionados são diversos em abordagem, cada um trabalhando em seu contexto único, e achamos que vai acrescentar em muito para a nossa comunidade.

Guatemala: Participação Cidadã em Bibliotecas Rurais

Bibliotecas comunitárias têm desempenhado um papel importante na vida diária de comunidades rurais da América Central, oferecendo acesso a livros e a outros recursos para ajudar a incentivar hábitos de leitura e outras oportunidades de aprendizagem. No entanto, existe uma tendência mundial de repensar a função tradicional dessas bibliotecas, transformando-as em espaços que possam ajudar a promover uma maior participação cidadã. Esta reflexão também ocorre na Guatemala, com as bibliotecas filiadas à rede regional Riecken de bibliotecas [en], que são locais privilegiados para explorar essas novas possibilidades cívicas.

Biblioteca rural na Guatemala. Foto por Carlos Reis e usada com CC BY-NC-SA 2.0

Três bibliotecas rurais localizadas nos vilarejos de Huitán, San Carlos Sija e Cabricán, no departamento de Quetzaltenango, na Guatemala, vão lançar um projeto em parceria com a ONG guatemalteca Acción Ciudadana, que defende uma maior participação dos cidadãos e a transparência no setor público. Agora que o Congresso guatemalteca aprovou a Lei de Livre Acesso à Informação Pública e se comprometeu a aderir à parceria Open Government [en], há uma enorme oportunidade para todos, mas acesso e formação são necessários para garantir que estas iniciativas vão beneficiar as comunidades rurais.

Agora, que muitas dessas bibliotecas rurais na Guatemala estão conectadas à internet, os formadores da Acción Ciudadana vão ajudar a orientar essas comunidades sobre como podem tirar o melhor proveito do acesso às políticas de informação. O projeto também irá oferecer treinamento em mídia cidadã para os usuários das três bibliotecas para que possam contar as histórias de alguns dos problemas atualmente enfrentados em suas comunidades e documentar o processo de como eles podem solicitar informações que possam potencialmente resolver suas questões. Todas as informações serão enviadas para o blog da biblioteca, que será um modelo para dezenas de outras bibliotecas rurais dessa rede.

Estados Unidos: Projeto de Revitalização da Língua Powhatan

No filme de 2005 “O Novo Mundo“, que mostrava a fundação do povoamento de Jamestown, no estado da Virgínia, EUA, no século 17, os cineastas se deparatam com o problema de encontrar falantes da língua dos indígenas nativos que era falada na época. Descobriu-se que o Powhatan [en], ou a língua Algonquiana da Virgínia, havia sido extinta há mais de dois séculos. Com base em trabalhos acadêmicos recentes e uma lista de vocabulário, linguistas tentaram recompor a língua para assemelhar o máximo possível à língua para ser usada no filme.

Uma das principais razões para o desaparecimento dessa língua é que, durante muitos anos, ela foi proibida por lei, mas ultimamente tem havido um ressurgimento e um maior interesse na sua revitalização. O trabalho feito para o filme de Hollywood é apenas um pequeno passo nesse processo. É então que entra Ian Custalow [en], um membro da Tribo Mattaponi que tem trabalhado com o ambicioso objetivo de tirar a língua da extinção e colocá-la em status de ameaçada. Ele está a construir uma base de documentos, e é possível que seja um dos falantes mais ativos da língua. Para ajudar a formar mais falantes, ele ofereceu aulas para estudantes de todas as idades entre as tribos que compõem a Confederação Powhatan através de visitas regulares às várias comunidades em todo o estado.

Agora, ele quer ver como a mídia cidadã e outras tecnologias podem ajudar a complementar estas classes, como uma forma de atingir o objetivo da comunidade em revitalizar esaa língua. Além de criar dicionários eletrônicos e teclados de smartphones e computadores, ele acredita que a mídia cidadã e outras ferramentas de redes sociais podem ser grandes motivadores e uma maneira de conectar novos aprendizes dessa língua [en] entre as várias tribos, como o Mattaponi, Pamunkey, Mattaponi Superior, Patawomeck, Rappahannock, Chickahominy, Chickahominy Oriental e Nansemond. A esperança é, de acordo com Custalow, que “o projeto permitirá que uma língua de uma comunidade indígena suprimida e sub-representada possa viver de novo.”

Paraguai: Comunidade Digital de Aché

O povo indígena Aché do Paraguai [conhecido como Guayaki no Brasil] vivenciou desafios no passado, assim como no presente, com muito dessa história difícil decorrente de problemas fundiários. Durante o século 20, os Aché sofreram um trágico genocídio [en] e enfrentaram um processo de remoção de suas terras que resultou em milhares de mortes, refugiados e sequestros, reduzindo sua população para apenas 350. No entanto, eles têm lentamente reconstruído e continuado seus esforços para proteger seu território. Atualmente cerca de 1,500 membros em seis comunidades no norte e no leste do Paraguai oriental, sua rica história e sua cultura são frequentemente ofuscadas pelos dias sombrios da história recente dos Aché.

Comunidade de Puerto Barra - Foto de Francisco Kandegi

Comunidade de Puerto Barra – Foto de Francisco Kandegi

Nos últimos cinco anos, Tamara Migelson e outros artistas locais de multimídia, cineastas e designers têm acompanhado essas comunidades Aché, documentando seus estilos de vida e os costumes tradicionais. Eles ajudaram a estabelecer o Centro de Cultura e Comunicação, que produziu uma série de filmes documentários, livros e exposições fotográficas que ajudaram a mostrar um lado diferente das pessoas Aché para o resto do país. Os membros dessas comunidades tiveram grande interesse em contar suas histórias, e agora que têm a disponibilidade de internet em cada uma das seis comunidades – Chupa Pou, Kuetuvy, Arroyo Bandera, Ypetimi, Puerto Barra e Cerro Morotí – há uma oportunidade para que os Aché participem mais na elaboração deste material para uma audiência nacional, regional e global.

O projeto vai identificar vários jovens de cada uma das seis comunidades para participarem de intensas oficinas de capacitação para o uso de blogs, fotografia e vídeo digital, assim como rede social. As oficinas terão lugar na capital de Assunção, e a esperança é que esses jovens se tornem recursos locais para os outros quando eles voltarem para casa. Eles vão contar histórias de suas comunidades, registrar histórias de seus antepassados e oferecer notícias sobre alguns dos atuais desafios sociais que seus povos enfrentam. Além de serem capazes de se comunicar com um público mais amplo através da mídia digital, essas seis comunidades também serão capazes de se conectar entre si, apesar dos kilômetros que as separam, para a partilha de suas lutas e a celebração de seus sucessos.

Palestina: Contos gastronômicos de Nablus

No coração da cidade velha de Nablus, na Palestina, o novo centro Bait al Karama [en] foi aberto para mulheres no outono de 2011. A iniciativa foi resultado de uma parceria singular entre Fátima Kadoumy, representante de uma obra de caridade local para assuntos que dizem respeito à mulher, e a artista visual Beatriz Catanzaroto. O centro tem oferecido oportunidades artístico-culturais para mulheres que vivem no local e nas redondezas. No entanto, o foco principal do centro é oferecer oportunidades de empreendimentos através da culinária. Um dos componentes principais do projeto será uma escola de culinária para visitantes estrangeiros, que irá empregar mulheres da região como chefs e instrutoras.

A razão pela qual a culinária desempenha um papel importante no centro é devido à vida diária na Palestina ser bastante centrada em torno da comida, o que leva à construção de grandes laços de amizade entre os residentes. Como Catanzaro escreveu na ficha de inscrição: “Convivência representa um espaço fundamental na vida das mulheres palestinianas e na vida social como um todo, mesmo em tempos de bombardeios e toques de recolher.” Muitas das mulheres envolvidas com o centro tem convido com a realidade da ocupação, como também dificuldades econômicas ou pessoais. Algumas das mulheres são viúvas, vítimas de violência doméstica, ou estão com os maridos na prisão. Mas, através da Bait al Karama, as mulheres podem se dar as mãos e serem capazes de participar mais plenamente na criação de um novo futuro para si e suas famílias.

Usando a culinária como ponto de partida, o projeto pretende ensinar mulheres locais a usar a mídia cidadã para documentar e registrar histórias pessoais e familiares sobre as origens e as tradições da cozinha local. Essas narrativas irão fornecer uma importante ‘janela’ para entender melhor a família e a vida dessas mulheres através das próprias palavras delas. As histórias e as imagens serão totalmente incorporadas ao blog de Bait al Karama. Catanazaro acrescenta que “as mulheres estarão recordando memórias pessoais e familiares e irão retratar a cultura e tradição muito além do estereótipo habitual de um país em conflito”.

Peru: Llaqtaypa Riymaynin

A situação é muito comum em todo o Peru. Moradores de cidades rurais migram para cidades maiores em busca de melhores oportunidades de educação e de emprego. No caso dos moradores do Distrito Haquira de Apurimac, no Peru, o conflito armado interno também contribui fortemente para este fluxo constante de migrantes que deixam as próprias cidades natais. A adaptação a um novo modo de vida muitas vezes pode ter um forte impacto sobre os costumes e tradições locais. Enquanto cerca de 1,000 moradores desta região, que agora vivem na capital Lima, fizeram um esforço para preservar alguns dos costumes locais, mantendo festas tradicionais e a prática do trabalho comunitário, a preservação da língua nativa do Quéchua em um ambiente urbano não tem sido muito bem sucedida.

O projeto Llaqtaypa Riymaynin (Vozes da minha comunidade), liderado por Irma Alvarez Ccoscco [es] pretende usar tecnologia e mídia cidadã para revitalizar a língua nessa comunidade urbana. Como ela escreveu na ficha de inscrição, “eu aprendi que a língua quechua é de vital importância para os falantes do idioma em um contexto urbano, pois é uma forma de identidade sustentável”. Alvarez, além de trabalhar incansavelmente com a tradução de aplicativos de software livre na língua quechua [es], foi um das criadoras da conta no Twitter, Quechua Hablemos (@ hablemosquechua).

Em parceria com a Escuelab [es], um centro colaborativo de aprendizado em tecnologia, em Lima, o projeto irá identificar jovens dessas comunidades que tenham interesse em fortalecer vínculos com a língua quechua usando a mídia participativa. Através do software livre Audacity, um editor digital de áudio gratuito e de código aberto com aplicativo para gravação, os participantes irão gravar programas e contos na língua quechua. Estes podcasts serão enviados on-line, assim como compartilhados com rádios comunitárias que atendam esta comunidade.

Um dos objetivos finais é o retorno de exemplos desses esforços de revitalização da língua para as aldeias, apesar das comunidades estarem a centenas de quilômetros de distância do Peru. Alvarez acrescenta que a esperança é que “os migrantes irão encontrar sua identidade e primeira língua em meios de informação e tecnologia (TIC) e nada será melhor do que facilitar as coisas para eles falarem por si mesmos.”

Mianmar: Podcasts da língua Karen nas fronteiras

O estado de Karen está aos pouco saindo de um período de seis décadas de guerra civil, após o acordo de cessar-fogo entre o governo birmanês e a União Nacional Karen [en]. Além de monitorarem a complicada situação dos direitos humanos ao longo da fronteira entre o Mianmar (também conhecido como Birmânia) e a Tailândia, jornalistas cidadãos do estado de Karen são um elo crucial para a comunidade off-line local obter uma compreensão básica do acordo de cessar-fogo provisório, o qual tem sido visto com muito ceticismo pela comunidade de Karen.

O Grupo da Rede de Estudantes de Karen (KSNG, por sua sigla em inglês) tem sido responsável pela única transmissão regular de notícias no idioma karen (atualmente transmitindo em baixa potência de rádio FM pra 5 campos de refugiados na fronteira entre Tailândia e Mianmar). O programa semanal de rádio da KSNG fornece notícias, programas educativos, informação e entretenimento para pelo menos 30.000 ouvintes que estão refugiados nestes campos. Além de produzir programas de rádio semanais, KSNG também produz programas sobre saúde e outros assuntos importantes, além de conduzir treinamentos em liderança e gestão e de ajudar estudantes a encontrarem oportunidades educacionais.

Este projeto irá expandir o serviço de notícias, ensinando jornalistas cidadãos a usarem podcasts, a fim de conectar as vozes internas deslocadas do estado de Karen com a da comunidade de Karen, que tem refugiados na Tailândia, como também uma crescente diáspora de refugiados que vivem no Canadá, Austrália, EUA e Reino Unido. Ao tornar a informação sobre estes temas disponível, tanto localmente como on-line, o projeto pretende manter a comunidade de Karen, a qual está sendo rapidamente realocada para países estrangeiros, ligada à cultura e à história da própria pátria.

Junte-se a nós para parabenizar e saudar os novos seis projetos selecionados pelo Rising Voices!

A tradução deste post foi partilhada com Thiana Biondo.

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