Moçambique: Todos a Bordo do Comboio Musical da Marrabenta!

Após uma temporada de eleições e ciclones em Moçambique, o país merecia alguma diversão e boas notícias. Um dos destaques do calendário cultural moçambicano, o Festival da Marrabenta (celebrando seu 5º ano), veio na hora certa.

O Festival é composto de eventos musicais na capital, Maputo, e o seu ponto alto é uma viagem musical em comboio para Marracuene. O comboio recebe fãs de música ao longo de seu percurso, conduzindo-os ao encerramento do Festival: um animado concerto a céu aberto que se estende até o amanhecer.

Marracuene, em 2011. Foto por cortesia de D J Clark (www.djclark.com)

A viagem de comboio deste ano foi documentada pela usuária do YouTube Charline Van Deth:

O Website MozambiqueTV partilhou um vídeo do canal pago STV na plataforma da histórica estação de comboios de Maputo [en] antes de o comboio partir. O vídeo exibe uma entrevista com Lito, o sorridente produtor do Festival:

Marrabenta é um gênero musical intimamente ligado à vida africana urbana e à modernidade, o que torna a viagem de comboio uma combinação interessante. A marrabenta despontou ao sul do país nos anos 1930 e 1940, e a palavra deriva do verbo rebentar (quebrar), que se refere à forma com que as pessoas dançam.  Uma teoria urbana diz que a palavra originalmente descrevia a quebra de cordas de violões baratos, ao toque enérgico dos músicos.

O gênero é um híbrido de ritmos moçambicanos tradicionais e novos arranjos de guitarra, inspirados, à época, pela explosão global de música popular nas ondas do rádio. Artistas pioneiros, como Dilon Djindji, Fany Mpfumo e Wazimbo (e a Orchestra Marrabenta Star) imprimiram uma marca duradoura na música moçambicana.

Guitar is a key feature of Marrabenta, photo courtesy of D J Clark (www.djclark.com)

A guitarra é uma peça chave da marrabenta. Foto por cortesia de D J Clark (www.djclark.com)

Escreve o nostálgico website Xirico que, desde o seu início, na cidade colonial de Lourenço Marques (atual Maputo):

A música é um dos atributos culturais mais marcantes do povo moçambicano. O primeiro acorde provoca o primeiro movimento que ninguém ensinou. Depois não há força para resistir ao chicuembo da marrabenta. O requebro sincopado das ancas, uma mão na nuca outra atrás das costas, movimentos sensuais…

Artistas no palco principal em 2011. Foto por cortesia de D J Clark (www.djclark.com)

O fotógrafo DJ Clark capturou a essência do festival de 2011 em um álbum de fotos espetacular. Este vídeo do Festival Marrabenta de 2010, do usuário do YouTube TheMarrabenta, mostra como o Festival é uma prova viva do poder que a marrabenta tem de encantar gerações:

O Festival é como um sopro de ar fresco em Moçambique e é crucial para manter suas raízes musicais,  tal como apontam os críticos, como Fortunato, do blog Matapa [en], que não poupa os representantes da música contemporânea:

Local music does get its share of airplay here, but the thing, is, most of the current Mozambican (popular) music is nowhere near as interesting as the echos from its past. On Radio Maputo, you can hear a lot of local classics from the 70ies: they sound totally amazing, a diverse and experimental blend of tradition with pop influences. But nowadays about half of the musicians seem busy vocalizing the fact that Mozambican musicians need to find their own style. The other half seems more than happy selling whatever suits the mobile phone operators or the governing party.

Existe um equilíbrio na transmissão de música local, mas acontece que boa parte da atual música popular moçambicana não chega nem perto de ser interessante como as do passado. Na Rádio Maputo, é possível escutar muitos clássicos locais dos anos 1970: e são totalmente incríveis, numa mistura diversa e experimental do tradicional com influências pop. Mas, hoje, quase metade dos músicos está ocupada em verbalizar o fato de que músicos moçambicanos precisam encontrar seu próprio estilo. A outra metade parece mais feliz em vender o que quer que satisfaça as operadoras de telefonia móvel ou o partido do governo.

Em claro contraste com esse tipo de música estavam os destaques do festiva, como o grupo sul-africano Mahotella Queens [en], que seguem em seu 30º ano. Eles reforçaram as ligações entre música sul-africana e música moçambicana, que têm se cruzado desde antes de as estradas de ferro ligarem Johannesburgo à então capital moçambicana Lourenço Marques. Grupos linguísticos transcendem fronteiras coloniais, e as línguas musicais da vizinha África do Sul e do sul de Moçambique têm muito em comum.

Neste ano de 2012, o jornal @Verdade reportou que é cada vez maior o número de estrangeiros que viajam a Moçambique para prestigiar esse momento musical único. Mas, mesmo sem os visitantes estrangeiros, o Festival causa um impacto econômico em Marracuene por conta dos visitantes de Maputo, que injetam dinheiro na economia local de bares informais e barracas de comida armadas para vender vinho de palma, frango grelhado e peixe frito.

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