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Brasil: O Potencial do Crowdfunding

Categorias: América Latina, Brasil, Arte e Cultura, Ideias, Mídia Cidadã, Tecnologia

Nos últimos meses temos visto uma explosão de sites de crowdfunding no Brasil inspirados pelo Kickstarter [1], site pioneiro dos EUA que vem levantando mais de US$ 40 milhões de dólares para projetos criativos em apenas dois anos [2] [en].

O blog da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro explica o que é aos novatos [3]:

O termo crowdfunding pode ser traduzido literalmente como financiamento da multidão, ou seja, uma versão 2.0 da antiga “vaquinha”, só que agora voltada para a produção cultural.

Movere.me - Move ideas, move people, move the world... and you, what does it move you? [4]

Movere.me – Move ideias, move pessoas, move o mundo… e você, o que te move?

Tati Leite, fundadora da plataforma Benfeitoria [5], diz que o conceito rapidamente ganhou a atenção do público. Ela escreveu recentemente [6] no blog Crowd O quê?:

A impressionante – e emocionante! – explosão das plataformas de crowdfunding no Brasil desde janeiro de 2011 ganhou bastante espaço na mídia e em veículos especializados em negócios


Colaboração e não Competição

O Brasil já tem uma grande plataforma online para angariar fundos para projetos criativos que foi o primeiro a dar as caras no país: o Catarse [7]. Mas websites como Multidão [8], Movere [9]Benfeitoria [10], e outros menores, já começam a ter algum sucesso também.

Screenshot of #Crowd Map, powered by ideias.me [11]

Imagem do Mapa #Crowd, criado por ideias.me

Membros do Google Grupo Crowdfunding Brasil [12] têm colaborado para listar todos os websites existentes [13]. O Ideias.me mapeou as plataformas [11] por localização, revelando mais de uma fora do eixo principal do sudeste, como uma em desenvolvimento no estado do Ceará [14].

Todos adotam a abordagem do “tudo ou nada”, que é, se os projetos não atingirem a meta de captação de recursos, eles não são financiados e o dinheiro prometido não é cobrado dos apoiadores. (Catarse, Multidão e Movere cobram uma taxa administrativa de 5% e as taxas de transação de doações. Outros cobram até 9%).

CatarseMultidão, ambos favorecem projetos criativos baseados em “ação”. Os dois atualmente juntaram forças [15] e, mantendo uma forte cultura de Open Source no Brasil, o Catarse recentemente abriu o código de seu site, demonstrando total compromisso com uma proposta colaborativa.

Alguns sites estão focando no bem comum, incluindo o Senso Incomum [16] e o Benfeitoria [5], que têm um conceito um pouco mais ambicioso que transcende o dinheiro e permite a colaboração. Benfeitoria está tentando diferenciar-se por não cobrar taxa administrativa e não tendo taxas “injustas” – afirmam estarem simplesmente experimentando outro modelo de negócio.

A co-fundadora do Benfeitoria, Tati Leite, cita [6] o que ela chama de uma “convergência de valores e uma postura colaborativa adotada pelos criadores da plataforma”.

Alguns blogs surgiram a partir da ideia do crowdfunding e crowdsourcing, entre eles o blog Crowdfunding Brasil [17], que pretende disseminar a ideia pelo país.

Com um Sotaque Brasileiro

Muitos citam uma iniciativa de um grupo de aficcionados por música no Brasil, criado em agosto de 2010, como o início do crowdfunding no país. Bruno Natal, do blog URBe [18] conta:

Por email, organizamos uma campanha entre amigos para rachar os custos e viabilizar a vinda da banda. Nascia o “Miike Snow no Rio” [19].

Este bem sucedido esforço gerou a criação do site Queremos.com.br [20], que trouxe bandas como Belle and Sebastian [21], entre outras, ao Rio de Janeiro.

Com o lançamento dos websites mencionados anteriormente, já podemos começar a ter uma noção do que parece ser o crowdfunding no Brasil, um país conhecido por sua organização comunitária orgânica e criatividade.

Pequenos projetos de artes (fotografia, cinema, música, dança, vídeos de música) parecem ter maior chance de conseguir financiamento no momento, dentre eles os de até de R$ 5.000 têm mais chances. Por exemplo, “Diário de Bordo [22]“, no site do Catarse, é sobre apoio à primeira viagem de uma ilustradora de 19 anos à São Paulo, e o diário de esboços que irá resultar disso. Ela escreve em seu blog:

Meu nome é Amanda, sou ilustradora, universitária e moro em Natal – RN, local de onde nunca havia saído. Sempre sonhei em conhecer São Paulo, participar do Festival YouPix e concorrer ao prêmio Blog Talent Show. Inquieta, decidi criar um projeto de crowdfunding […] Nas últimas horas, a agência Tboom doou os 40% restantes e, junto com os demais doadores, tornou realidade todas as minhas expectativas.

Dois grandes projetos de jornalismo chamaram a atenção da comunidade online. O Ajude um Repórter [23] é um projeto recém-financiado pelo Catarse, que vai criar uma plataforma de crowdsourcing por e-mail e na web, ajudando jornalistas a se conectarem com “jornalistas-cidadãos” sobre as questões que os afetam. Cidades para pessoas [24] vai financiar uma viagem a 12 cidades ao redor do mundo para trazer de volta ao Brasil pistas sobre como tornar uma cidade mais habitável.

Apenas um pequeno número de projetos bem-sucedidos focavam em mudança social. No Senso Comum, um micro projeto de um móvel com prateleiras para acomodar livros [25] e criar um ponto fixo de trocas de livros na cidade de Campinas conseguiu financiamento. Outro pequeno projeto que conseguiu financiamento foi o Incentivador [26], um projeto de mutirão de limpeza em uma comunidade indígena no estado de São Paulo.

Na Casa de Cultura Digital, em São Paulo, um recente debate com os fundadores do Catarse [27] deu uma ideia geral sobre os números até o momento:

A média do que é solicitado para as propostas está entre 5 e 10 mil reais. O máximo já pedido foi 40 mil reais e o máximo conseguido foi 26 mil.

 

Potencial Internacional

Comum (Common), "a nonprofit group devoted to the promotion of a new economy based on collaboration and emotional relationship between people". [28]

Comum, "um grupo sem fins lucrativos dedicado à promoção de uma nova economia baseada na colaboração e relacionamento emocional entre as pessoas".

Talvez o mais interessante sobre o Brasil seja o potencial duplo do crowdfunding: que parece ter um enorme apetite local e um interesse internacional pela cultura e inovação brasileiras.

A ferramenta de crowdfunding online Ulule [29], baseada em Paris,  começou uma versão em português, junto das já existentes em inglês e francês, e pode reforçar o potencial de conexão internacional de projetos brasileiros.

Catarse/Multidão criaram uma interface em inglês para dar conta do potencial de financiamento internacional, mas a maioria dos projetos não traduziu sua descrição para o público internacional. O site em breve irá oferecer essa possibilidade para os usuários.

E a questão dos pagamentos internacionais ainda está indefinida para a maior parte dos sites, que consideram incorporar o Paypal em breve.

O fórum online The Daily Crowdsource acabou de criar fóruns online sobre inovação e crowdfunding em Inglês, alemão e português [30], o que parece ser um reconhecimento do crescimento da importância do Brasil no setor.