Egito: Online novamente, autor do Global Voices compartilha sua história

Este post é parte de nossa cobertura especial Protestos no Egito em 2011.

Tarek Amr, membro do time do Global Voices no Egito, ficou offline desde o dia 26 de janeiro, quando o governo forçou os provedores de internet a fechar.
Hoje, como a internet de volta, ele compartilha sua história:

I didn't participate in the first day of the revolution. I was a bit scared, a bit not convinced that it will change anything, and also I prefer to follow such events on twitter and facebook instead of participating in them.

Eu não participei no primeiro dia da revolução. Estava com um pouco de medo, e não muito convencido de que alguma coisa iria mudar, por isso preferi seguir os acontecimentos pelo twitter e facebook ao invés de ir para as ruas.

Tarek em recente viagem a Londres

Entretanto, quando o acesso a internet foi bloqueado, Tarek se aventurou. Ele explica:

Two days later, the government switched off the mobile phones, the internet, blackberry, and all other means of communication. They thought that they might prevent people from communicating and arranging for further demonstrations. But the truth is that such information blackout made me – as well as thousands of other people – eager more to get down to the streets and participate in the “Friday of Anger”.

Dois dias depois, o governo o bloqueou o acesso a telefones celulares, internet, blackberrys e outros meios de comunicação. Eles pensaram que assim estariam impedindo pessoas de se comunicar e organizar passeatas. Mas a verdade é que o bloqueio ao acesso fez com que eu – e milhares de outras pessoas – passasse a ter uma enorme vontade de ir para as ruas e participar da “Sexta-Feira da Ira”.

Tarek compartilha sua história sobre o “Dia da Ira”, em 28 de janeiro:

Again, the police brutality didn't stop. Rubber bullets, tear bomb, and even lethal bullets were used in different places in Egypt. They were doing their best to prevent the protesters from crossing the bridges and going to Tahrir square. We tried different bridges in different areas, but we faced the same resistance from the police, till a curfew was announced and I preferred to go back to home, along with many others.

Novamente, a brutalidade da policia não parou. Balas de borracha, bombas de gás lacrimogênio, e até mesmo balas letais foram usadas em diferentes lugares no Egito. Estavam fazendo o que podiam para evitar que os protestantes atravessassem as pontes para chegar na praça de Tahrir. Tentamos por pontes diferentes em locais diferentes, mas enfrentamos a mesma resistência da polícia, até que um toque de recolher foi anunciado e eu preferi ir para casa, assim como outras pessoas.

"Mubarak voe longe!" é o que está escrito neste grafite. Foto por Tarek Amr.

Ele compartilha um sentimento ecoado por muitos egípcios – o sentimento da espera:

In the following three days, all security forces and policemen dissipated from the streets. Protesters stayed in Tahrir Square calling for a million-persons protest/march on Tuesday. People at homes lived in a state of terror, where they carried sticks and knives every night and spent their nights in the streets protecting their homes and businesses. People also cleaned the streets by themselves, and protected some governmental and national buildings. During those three days, every visit you pay to Tahrir Square makes you believe that Mubarak should be now packing his stuff to leave the presidential palace, then a single glance on the national TV makes you believe he is getting himself ready for thirty more years inside the palace.

Nos três dias seguintes, toda a força policial havia sumido das ruas.  Os protestantes permaneceram na praça de Tahrir pedindo para um milhão de pessoas aparecerem para o protesto/marcha na terça. As pessoas em casa estavam em estado de nervos, com facas e pedaços de pau todas as noites, e passavam suas noites nas ruas protegendo suas casas e negócios. A população também ajudou a limpar as ruas, além de proteger alguns prédios nacionais e governamentais. Durante estes três dias, toda ida à praça de Tahrir fazia você crer que Mubarak deveria fazer suas malas e deixar o palácio presidencial, mas ai uma olhadela na TV nacional faz você acreditar que ele está se preparando para mais trinta anos dentro do palácio.

Foto das ruas de Cairo, por Tarek Amr

Tarek expressa a sensação de insegurança após dias de revolta no Cairo:

And once more, I experienced Mubarak's roller coaster. I was happy after his speech. Although he didn't resign, but he promised not to run in the following presidential elections and promised to let the parliament fix the parts of the constitution that limit the presidential candidates to the members of the NDP or the ones approved by the party only. But after a while, I found myself wondering, isn't this just another manoeuvre by the president…

E mais uma vez, experienciei a montanha russa de Mubarak. Fiquei feliz depois de seu discurso. Apesar dele não ter renunciado, ele prometeu não concorrer nas eleições e também fazer com que o Parlamento corrija partes da constituição que limita que os candidatos a presidência sejam membros do NDP ou somente aqueles aprovados pelo partido.

Ele conclui:

I'm still confused. I really can't tell if the revolvers have achieved at least a significant part of their demands, or the revolution was murdered. I am not the only one confused here, many protesters are confused too. Some are saying that they have to stay and calling for another demonstration next Friday, and some others are calling people to get back to their homes end those protests altogether. Nothing is sure yet, but I am just sure of one single thing, Egypt has changed. I still remember that poor lady I met in Tahrir who said something that summed the whole thing in few simple words. She told me, “A couple of days ago I was so scared of every single police soldier, and today I am here protesting against the head of the state”.

Ainda estou confuso. Não sei se conseguiram uma parte significante de suas demandas ou se a revolução morreu. Eu não sou o único confuso aqui, muitos protestantes estão confusos também. Alguns dizem que precisam ficar e convidam outros para mais uma passeata na próxima sexta, e alguns estão telefonando e dizendo para todos voltarem para casa e terminarem o protesto todos juntos. Nada está certo, mas tenho certeza de uma coisa, o Egito mudou. Eu ainda me lembro da pobre senhora que conheci em Tahrir que disse uma coisa que resumiu tudo com poucas palavras. Ela disse, “Alguns dias atrás, eu tinha medo de todos os policiais, mas hoje eu estou aqui protestando contra o cabeça do governo”.

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