Bolívia: Os 229 anos da imolação do líder andino Tupak Katari

No último 14 de novembro, a Bolívia relembrou um marco na história de suas nações andinas nativas: os 229 anos da imolação de Tupac Katari [en], como era conhecido o líder indígena Julián Apaza.

Entre 1720 e 1730, crescia na região andina um sentimento anti-colonialista em função de exigências impostas pelas autoridades espanholas. Uma série de rebeliões eclodiu no planalto por volta de 1780, demonstrando o descontentamento do povo nativo. Em 1781, Tupac Katari liderou uma grande rebelião que sitiou o centro da cidade de La Paz, na época ainda um povoado espanhol. Tal movimento anti-colonialista significou grande afronta para o poder instituído, e, consequentemente, Katari, após ser capturado, foi condenado à morte.

Estátua de Tupak Katari na praça de Ayo Ayo. Foto da autora Cristina Quisbert

Vários povos diferentes promovem atividades em homenagem a esse líder indígena. No 14 de novembro último, a praça da comunidade de Peñas, no distrito de Batallas, em La Paz, foi palco de um desses eventos. Foi justamente neste local que, em 1781, o líder Tupac Katari teve as quatro extremidades de seu corpo amarradas a quatro cavalos, para assim ser esquartejado. Enquanto isso, em outro município da província de Aroma de La Paz, o blog da Rádio Atipiri relata os eventos do domingo passado da seguinte maneira [es]:

En el municipio de Ayo Ayo, en el ayllu (conjunto de familias) Sullcavi, en la comunidad Lacaya (Lugar de nacimiento de Julián Apaza), los habitantes y las autoridades originarias realizaron actos rituales de agradecimiento a la lucha emancipadora que promovió el líder indígena Tupak Katari.

Levantaron ofrendas hacia los cuatro lados, donde dejaron abandonado sus extremidades los españoles, después de descuartizarlo a Julián Apaza, en la localidad de Peñas.

Na cidade de Ayo Ayo, no ayllu (comunidade familiar da época do Império Inca) Sullcavi, na comunidade de Lacaya (local de nascimento de Tupak Katari), os moradores e autoridades indígenas realizaram rituais de agradecimento à luta pela liberdade encabeçada pelo líder indígena Tupac Katari.

Oferendas foram colocadas nos quatro cantos da cidade de Peñas, onde os espanhóis abandonaram os membros de Katari após esquartejá-lo.

As homenagens na cidade de Ayo Ayo aconteceram de 12 a 15 de novembro. No último dia da programação, logo de manhã cedo, autoridades indígenas e moradores das diferentes comunidades que formam o município começaram a aglomerar-se na praça principal. Após um minuto de silêncio seguido de uma cerimônia ritual, foi aberto o ato preparado especialmente para a ocasião. No meio da manhã, os participantes foram convidados a dirigirem-se para o local escolhido para a concentração da marcha.

Autoridades nativas iniciam a marcha. Foto da autora, Cristina Quisbert.

Na segunda-feira, dia 15, Radio Atipiri [es] ofereceu o seguinte relato em seu blog:

A la localidad de Ayo Ayo, llegaron varias delegaciones de las Centrales Agrarias de las 20 provincias del Departamento La Paz, trayendo consigo la música autóctona y la vestimenta de cada comunidad y ayllu.

Várias delegações chegaram na cidade de Ayo Ayo, provenientes de unidades agrícolas das 20 províncias de La Paz, trazendo música indígena e trajando vestimentas típicas de cada comunidade e ayllu.

Dança original. Foto da autora, Cristina Quisbert

Banda de música nativa. Foto da autora, Cristina Quisbert

Las comunidades se concentraron sobre la carretera La Paz Oruro y el cruce del municipio de Ayo Ayo. Cerca de las 10:50 a.m. partió la marcha de recordación hacia plaza centro de Tupak Katari, donde se desarrolló el desfile de recordación del descuartizamiento y la muerte de Julián Apaza (Tupak Katari).

As comunidades concentraram-se na estrada para La Paz Oruro e no cruzamento do município de Ayo Ayo. Por volta das 10h50, a marcha seguiu em direção ao memorial, de onde saiu o desfile em lembrança do esquartejamento e morte de Julian Apaza (Tupac Katari).

Membros das comunidades marchando. Foto da autora, Cristina Quisbert

Los habitantes de las comunidades llegaron uniformados, por ejemplo las mujeres lucían mantas color café, chompas blancas, sombreros negros, y pollera bayeta color rojo. Los Mallkus (autoridad originaria) llegaron con sus ponchos wayrurus (rojo y negro), el lazo de autoridad, sombrero negro y una chalina café.

Os membros das comunidades chegaram uniformizados, as mulheres vestindo mantas marrom, blusas brancas, chapéus pretos e saias de flanela vermelha. Os Mallkus (uma das autoridades nativa) vieram com seus ponchos wayrurus (vermelho e preto), títulos de autoridade, chapéus pretos e lenços marrons.

Há 229 anos, os executores de Tupac Katari, após esquartejá-lo, exibiram partes de seu corpo em vários locais de La Paz, como um alerta aos rebeldes. Seu coração foi levado para aquela área de El Alto. O jornal Cambio [es] descreve a homenagem feita no local:

La iza de la bandera de los lunes, que tradicionalmente se realiza a las 07:00 de la mañana en la ciudad de El Alto a cargo de autoridades municipales, militares, policiales y vecinos, se convirtió ayer (15 de noviembre) en un emotivo acto de conmemoración del descuartizamiento de Julián Apaza, más conocido como Túpac Katari, donde se presentó el proyecto de Ley por las Rutas de Túpac Katari.

O hasteamento da bandeira às segundas-feiras, tradicionalmente realizado às 7h da manhã na cidade de El Alto, a cargo das autoridades municipais, militares, policiais e comunidade, tornou-se ontem (15 de novembro), um emocionado ato de lembrança do desmembramento do Julian Apaza, mais conhecido como Tupac Katari, com a apresentação do projeto de lei das Rotas Tupac Katari [proposta de um circuito turístico].

Da mesma forma, tivemos no 19 de novembro uma apresentação conjunta de música e dança indígenas nas principais ruas da cidade de El Alto, e para os próximos 26 e 27 de novembro está previsto um encontro de profissionais indígenas, organizado pela Universidade Indígena Tupac Katari.

O tempo passou, mas segue na memória dos povos nativos a mensagem que retumbou na voz de Tupac Katari: “voltarei e seremos milhões!”

Mulheres indígenas presentes na marcha. Foto da autora, Cristina Quisbert

2 comentários

Junte-se à conversa

Colaboradores, favor realizar Entrar »

Por uma boa conversa...

  • Por favor, trate as outras pessoas com respeito. Trate como deseja ser tratado. Comentários que contenham mensagens de ódio, linguagem inadequada ou ataques pessoais não serão aprovados. Seja razoável.