Caribe: Ajudando o Haiti

Após algumas horas do terremoto catastrófico do dia 12 de janeiro que devastou Porto Príncipe e outras partes do Haiti, os blogueiros de outros lugares no Caribe começaram a responder e a comentar a situação. No dia seguinte, na medida em que a dimensão do desastre se tornou mais clara – uma estimativa sugere que 1/3 da população do país de 10 milhões de habitantes foram afetados, com dezenas de milhares de vítimas – blogueiros caribenhos estavam ocupados enviando atualizações e fazendo apelos a seus leitores para apoiarem os esforços de socorro.

Em muitos territórios do Caribe, ONGs, grupos da sociedade civil e cidadãos rapidamente se esforçaram para aumentar a ajuda humanitária. Na Jamaica, o Silicon Caribe publicou uma lista de agências internacionais aceitando doações em dinheiro, bem como informações relativas aos pontos de recolhimento de outros donativos em Kingston. O blog MEP Caribbean Publishers publicou informações similares para os leitores de Trinidad e Tobago. O blogueiro jamaicano Long Bench sugeriu seis coisas que os “jamaicanos podem fazer além de rezar”. O escritor jamaicano Geoffrey Philp, que atualmente mora em Miami, nota que “Algumas coisas são maiores que a literatura”, e também sugere maneiras as quais os leitores interessados poderiam ajudar. E em Barbados, o blog Cheese-on-bread postou notícias a respeito de uma maratona de arrecadação no rádio, junto com o texto da declaração do Primeiro-ministro David Thompson no Haiti. Live in Guiana publicou um comunicado semelhante do presidente da Guiana Bharrat Jagdeo. Repeating Islands fez um resumo de medidas de socorro anunciadas por outras nações do Caribe.

Outros blogueiros do Caribe analisaram as reações de seus respectivos governos sobre a tragédia em curso. O governo de Trinidad e Tobago, em particular, esteve no centro das expressões irritadas de blogueiros que notaram a demora do Primeiro-ministro Patrick Manning desde que ele fizera qualquer comentário sobre a situação – quase um dia inteiro – e sugeriram que a quantia inicial de US$ 1 milhão (aproximadamente R$ 1,7 milhões) para o Haiti foi uma resposta inadequada, considerando a magnitude do desastre e a relativa riqueza de Trinidad e Tobago. “Tudo que soubemos foi que Trinidad e Tobago, um país cujo Produto Nacional Bruto per capita é superior a TT$ 25.000,00 (aproximadamente R$6.900), somente doou TT$4,67 (aproximadamente R$1,29) per capita para ajudar”, escreveu kid5rivers. Ele acrescentou:

In T&T, we consume at least TT$1m per day in carbonated “sweet drinks”; TT$5.5m per day on subsidising vehicle fuel; and, TT$1m per day on unnecessary cellular phone text messaging and calls.

For the time being, then, could we not set aside some of the money we gladly expend on such superfluous luxuries to divert same, instead, to our devastated neighbours?

Em Trinidad e Tobago consumimos pelo menos TT$1 milhão por dia em “energéticos”; TT$5.5 milhões por dia no subsídio de combustível para carros; e TT$1 milhão por dia em mensagens de textos e ligações desnecessárias no celular.

Portanto, por enquanto, será que não podemos pôr à parte um pouco do dinheiro que nós alegremente gastamos em luxos supérfluos e desviar um pouco, em vez disso, para os nossos vizinhos devastados?

“Como podemos dançar enquanto suas camas estão queimando?” perguntou Guanaguanare. Ele também postou um vídeo com letras da música “Haiti” (1988), do cantor de calypso David Rudder, que tem sido um clamor propagado por muitos caribenhos nos últimos dois dias:

Haiti, I'm sorry
We misunderstood you
One day we'll turn our heads
And look inside you

Haiti, me perdoe
Nós lhe mal-interpretamos
Um dia viraremos nossos rostos
E olharemos para dentro de você

Alguns usuários do Twitter de Trinidad e Tobago também expressaram frustração com a resposta de seu governo. @basantam escreveu:

Every int'l news report says that Haiti needs Search & rescue, heavy machinery & helicopters NOW. PM Manning says “We will see what happens”

Todas as notícias internacionais dizem que o Haiti precisa de Busca & Resgate, maquinaria pesada e helicópteros AGORA. O Primeiro-ministro Manning diz que “Veremos o que acontece”

@blahblohblog respondeu:

Please remember, it's the quality of the relief assistance, not the quantity or speed that will matter.

Por favor se lembrem: é a qualidade da ajuda humanitária, não a quantidade ou velocidade, que importará.

Enquanto isso, o jornalista e blogueiro André Bagoo postou uma digitalização de uma nota à imprensa emitida pelo gabinete do Primeiro-ministro de Trinidad e Tobago na tarde de 13 de janeiro, com informações sobre uma festa a ser realizada naquela noite na residência do Primeiro-ministro. “Nenhuma nota oficial foi emitida neste dia pelo Governo em relação ao desastre haitiano”, Bagoo sarcasticamente observou. Ele sugeriu que os seus leitores contribuam para uma unidade de socorro do YMCA.

Nas Bahamas, Nicolette Bethel expressou revolta com o modo o qual a tragédia no Haiti é noticiada pelos jornais do país:

the headlines of our foremost newspapers … rather than forcing us Bahamians to shake our deep, deep prejudices against our closest neighbours, against our cousins and brothers and sisters to the south, instead reinforce our prejudices and our fears. “PANIC, LOOTING AND TRIAGE AFTER MAJOR HAITI QUAKE”, screams the Tribune; the Guardian warns, “GOVT BRACES FOR HAITIAN INFLUX”.
…the messages being given to our public are messages that reinforce our ideas that the citizens of Haiti are degenerate and lawless, helpless people who come and tief the wealth of others (=Bahamians), and messages that we need to brace for an influx of more of these people that we don’t want or need. And these messages are having their effect. The natural responses of ordinary Bahamians grow mixed. Some of us express sorrow for the tragedy while worrying about our safety, concerned that we will have to house more refugees.

as notícias de nossos melhores jornais… em vez de forçar nós baamianos a sacudir nosso profundo preconceito contra nossos vizinhos mais próximos, contra nossos primos e irmãos e irmãs ao sul, reforça estes preconceitos e nossos medos. “PÂNICO, SAQUES E TRIAGEM APÓS O MAIOR TERREMOTO DO HAITI”, grita o jornal Tribune; o Guardian adverte, “GOVERNO SE PREPARA PARA FLUXO DE HAITIANOS”.

… as mensagens dadas ao nosso público são mensagens que reforçam nossas idéias de que os cidadãos do Haiti são degenerados bárbaros, desamparados que vêm e roubam a riqueza dos outros (ou seja, dos baamianos), e mensagens de que precisamos nos preparar para um fluxo de entrada de mais destas pessoas as quais não queremos ou precisamos. E estas mensagens estão surtindo efeito. As respostas naturais de baamianos comuns crescem de várias formas. Alguns de nós expressam tristeza pela tragédia enquanto nos preocupamos com nossa segurança, e que teremos de abrigar mais refugiados.

Living in Barbados expressou um sentimento de desamparo diante da catástrofe:

But what to do? In discussing this briefly last night, it seemed clear that besides offering financial aid, most of us could do little. I have an urge to go and help claw away rubble and maybe help find bodies. But, I know too that my willingness is not enough in such situations.

Mas o que fazer? Discutindo isto brevemente ontem à noite, parecia claro que além de oferecer ajuda financeira, a maioria de nós poderia fazer muito pouco. Sinto necessidade em ir e ajudar a retirar os escombros e talvez ajudar a encontrar corpos. Mas, eu também sei que minha vontade não basta nessas situações.

A blogueira guianesa, Charmaine Valere (que atualmente mora nos EUA) reflete sobre paralelos entre os eventos no Haiti e o desastre decorrente da atividade vulcânica próxima a Montserrat a quase 15 anos trás, induzida por sua recente leitura do escritor de Montserrat E.A. Markham.

Para outros, o terremoto do Haiti foi um alerta para toda a região do Caribe. A trindadense Taran Rampersad escreveu:

While everyone is up in arms about getting relief to Haiti — as well they should — they should be taking a few moments to look around their own country. Since the limelight is on, all the Caribbean nations should be looking into building standards and enforcement of those building standards…. Shouldn't the Caribbean as a whole be better prepared?

Enquanto todos estão em pé de guerra em busca de ajuda para o Haiti – assim como devem – eles devem reservar alguns momentos para observar seu próprio país. Já que os holofotes estão acesos, todas as nações do Caribe devem observar as normas de construção e a aplicação dessas normas… O Caribe como um todo não deve estar mais bem preparado?

2 comentários

  • Social comments and analytics for this post…

    This post was mentioned on Twitter by diegocasaes: No @gvopt Caribe: Ajudando o Haiti http://bit.ly/8qZpsx

  • PAMELA THAIS

    NÃO ADIANTA APENAS DEBATER SOBRE O ASSUNTO… OU ATÉ MESMO SÓ REAZAR… O QUE REALMENTE DEVEMOS FAZER É AGIR… SE UNIR COMO UM TODO… SOCIEDAE, GONVERNO, TODOS EM GERAL… MAS COMO SEMPRE O QUE ACONTECE. FICAMOS ESPERANDO QUE ALGUEM FASSA ALGUMA COISA… PQ NÃO NÓS FAZERMOS ALGO… POR FAVOR, NÃO PRECISAMOS MAIS DE DEMAGORGIA E DISCURSOS SOLIDARIOS, PRECISAMOS DE AÇÃO… E NÓS NÃO ESTAMOS AJUDANDO OUTRO PAIZ… ESTAMOS AJUDANDO SERES HUMANOS…
    SE A MIDIA É TÃO EMPORTANTE ENTÃO VAMOS USALA, PROMOVER EVENTOS, FAZER UM MUITIRÃO SOLIDARIO SE LÁ… MAS SÓ NÃO PODEMOS FICAR PARADOS.

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