Brasil: Despejo violento em São Paulo causa revoltas

Na última segunda-feira, na sequência de uma ordem judicial, 240 policiais desalojaram 800 famílias do assentamento Olga Benário, em uma área conhecida como Capão Redondo, na zona sul de São Paulo. A propriedade estava sem uso há 20 anos e havia sido ocupada há dois por centenas de famílias, muitas do movimento Frente de Luta por Moradia. A empresa de transportes Viação Campo Limpo, proprietária do imóvel, conseguiu obter uma ordem de despejo de um juiz, apesar de estar devendo impostos, e mesmo com a Defensoria Pública do Estado tentando proteger os moradores. A operação de reintegração de posse terminou com casas e automóveis queimados, e centenas de famílias na rua, na lama.

Photo: Ferréz, used with permissionFoto: Ferréz, usada com permissão
Imagens do despejo violento, no qual as “tropas de choque” da polícia usaram balas de borracha e gás lacrimogêneo, foram transmitidas ao vivo nas principais emissoras de TV brasileiras e amplamente utilizadas pela mídia impressa, provocando reações na blogosfera e no Twitter. Ferrez, que mora ao lado da ocupação, blogou sobre sua revolta depois de presenciar alguns dos despejos, e descreveu com detalhes o cenário desolador e o desespero dessas famílias:
Hoje o helicóptero voltou de madrugada, dezenas de famílias ficaram com suas coisas durante a noite, beirando o córrego amontoram as coisas e ficaram no sereno, uma mulher me perguntou se depois a mídia ou os polícia ia levar eles pra algum lugar, eu engoli seco e não consegui responder, ela entendeu, pois o silêncio também é uma resposta.
Não tiveram pra onde ir, ninguém veio buscar. entre uma conversa e outra, um vacilão falando que tinha muito oportinista na favela, muito cara que pegou casa sem precisar, pois já tinha seu barraco, logo foi calado pela multidão que beirava o córrego, com gritos um tiozinho chegou e falou que ninguém tava brincando de ter lucro ali não, que ninguém tava fingindo que precisava morar, que ele havia perdido tudo pro trator.
Photo: Ferréz, used with permissionFoto: Ferréz, usada com permissão

A maior parte das opiniões no twitter demonstraram compaixão com as famílias despejadas, como @fefoguimaraes, que tuitou que a reintegração de posse no Capão Redondo afrontou dignidade human e perguntou para onde as famílias seriam levadas.

Raquel Rolnik, que é relatora especial da Organização das Nações Unidas para o direito à moradia adequada e mora em São Paulo, escreveu em seu blog:

As imagens do despejo mostram a urgência de tratarmos a questão de moradia de forma definitiva. São mães com crianças de colo, idosos e trabalhadores que não terão alternativa para onde ir e podem acabar na rua.
É preciso oferecer soluções definitivas de moradia. Isto é obrigação da Prefeitura, do Estado, do poder público, tanto para as famílias que têm renda quanto para as que não tem. Não podemos ficar empurrando o problema de um lado para o outro da cidade.

Photo: Ferréz, used with permissionFoto: Ferréz, usada com permissão

Panóptico criticou o estado de São Paulo e sua nova propaganda recentemente publicada na imprensa, apenas um dia depois do despejo, de seu programa de habitação popular cujo slogan é “No Estado de São Paulo é assim: A gente faz. E faz bem feito”:

Mas num ponto a propaganda é bem verdadeira. Como todos nós vimos ontem, a tropa de choque e os tratores sempre funcionam: “No Estado de São Paulo é assim: A gente faz. E faz bem feito”

Se o governo seguir sua “política de habitação popular”, como observado na desapropriação do prédio do INSS, depois da expulsão das famílias de suas casas, virão as ordens para que a polícia toque o povo da rua. É o governo de SP sempre inovando: desaloja o desalojado.

Alguns discordaram, dizendo que a propriedade privada deve ser respeitada acima de qualquer coisa, como disse Xico em comentário no post do Panóptico [pt]:

Pra começo de conversa, não deveriam ter ocupado uma área particular, ociosa ou não. Além disso, a prefeitura ofereceu abrigo às famílias, que se recusaram a aceitar. Finalmente, oferecer uma política habitacional NÃO significa fornecer suporte à invasão de propriedade privada.

Não estou dizendo que essas famílias mereçam morar na rua. Estou dizendo que elas estão indo pelo caminho errado. Parte da responsabilidade é, sim, do governo, mas a responsabilidade pessoal pesa muito nessas horas. Não se pode esperar que o governo apóie esse tipo de atitude fornecendo infra-estrutura a pessoas que não têm o direito de estar ali pra começo de conversa.

Photo by Ferréz, used with permissionFoto: Ferréz, usada com permissão

Little Star Shining não concorda com o ponto de vista acima, afirmando que não tem palavras para descrever a retirada, brutal, violenta, absurda dessas famílias dessa àrea:

Cabe então refletimos, afinal o que é uma àrea ocupada (ou “invadida” como pronuncia pejorativamente nossa brilhante mídia)???
Vamos lá…
Uma àrea para ser ocupada tem que ser primeiramente uma àrea inativa, sem uso… ou seja, não tem ninguém morando, nenhum imóvel, nem fábrica, plantação, nada! A premissa é que ela não esteja em nenhuma forma de uso, afinal não dá pra ocupar uma casa de alguém está morando, por exemplo, apenas casas abandonadas, concordam?? Com a àrea é a mesma coisa… ela está lá imensa, abandonada e sem uso. Até que um grupo de pessoas, geralmente organizadas em movimentos de sem-tetos ou sem-terra, resolvem ocupar aquela àrea e dra uso à ela. […]

Agora a indignação é você ainda crer que o governo, justiça, polícia ou seja qual for a instituição Estatal reguladora de poder, visa atender o povo!!!! Oraaaa… não caia nessa!

Veja mais fotos estarrecedoras do despejo no àlbum do fotojornalista freelance Anderson Barbosa no Flickr.

Photo by Ferrez, used with permission.Foto: Ferréz, usada com permissão

1 comentário

  • teresinha ortega

    Eu particulamente achei um absurdo o ser humano tratar o proximo desta maneira olha se analizar esta historia vamos chegar a uma conclusão o ser humano perdeu o amor ao proximo uma vez que as pessoas ocuparam este lugar e ha 8 anos nada foi feito para a remosão na epoca de poucas pessoas porque só agora diante de milhares de familia tomam uma decisão absurda desta fala verdade estas pessoas não tem amor no coração vimos na reportagem crianças idosos enfermos todos tratados como cachorro aonde esta as autoridade deste pais que não viu isto que não teve amor para tratar estas pessoas na minha opinião nada justifica esta tamanha covardia humana feita pelas minoria de autoridade que invez de proteger desprotege o ser humano eu creio que havia outro caminho nenos violento eu acho que a autoridade fez muito feio esta atitude, estão e participando da violencia e não combatendo a mesma…e o gastos destas pessoas e de quem sera o prejuizo como se diz mais uma vez a sociedade vai ficar no prejuizo Dilma cade você que e tão bondosa te peço amiga presidenta ajude estes nossos irmão eles só querem viver com dignidade olha as crianças teve ate relatos de crianças idosos dormindo na rua dilma …Na minha opinião a presidenta quem que intervir neste causo…Por favor ajude estes moradores tem pessoas boas neste sofrimento…

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