Brasil: Um dia na cadeia por comentar em blogues

Interrompendo suas férias do blogue, o policial Alexandre de Sousa faz um post em solidariedade a Major Roberto Cavalcante Vianna, o primeiro cidadão brasileiro a ser preso por comentar em um blogue:

Fui aluno do Major Roberto Vianna no Curso de Formação de Oficiais. Era meu instrutor de Direitos Humanos. Pessoa íntegra, estudioso de Segurança Pública, exemplo. Sua transgressão grave foi assinar um comentário se solidarizando com o Major Wanderby, denunciado por indisciplina na Auditoria Militar da PM. Punição de prisão! 12 dias preso por comentar em um blog! Caro Major Vianna, Gostaria de apoiá-lo neste momento cruel e de gosto duvidoso! Continue firme na sua caminhada. Não esmoreça. A sua arma mais forte é a sua determinação. Cumprimentos daquele que te admira muito e que aprendeu muito com o senhor.

No centro do problema está outro major da polícia e blogueiro, Wanderby Medeiros, que nos informa em um de seus últimos posts que o Major Roberto Vianna foi preso em 7 de outubro, inicialmente por um período de 12 dias, mas que já se encontrava em liberdade devido a um habeas corpus. Em um post anterior, ele explica o erro do Major Vianna com mais detalhes:

Roberto Vianna fez um comentário não apócrifo no blog de um cidadão que se opõe às nefastas políticas “públicas” de Sérgio Cabral, José Mariano Beltrame e companhia!
Vianna exerceu um direito constitucional!

O jornalista Gustavo de Almeida, o único blogueiro não-policial nesse artigo, embora muitos outros cidadãos tenham comentado sobre o assunto, encontra o comentário que causou a ordem de prisão, uma mensagem de solidariedade ao Major Wanderby com uma crítica à forma como a polícia do Rio de Janeiro está sendo comandada:

A quem serve o Comando Geral de quaisquer instituições ? Quando alguém assume tal nobre função, não o faria para zelar por todos nós? Zelar por todos nós não incluiria combater a corrupção em todos os seus segmentos?

Stive, por outro lado, investiga e descobre que a maior parte das punições que recaíram sobre o Major Wanderby é por escrever em blogues, sendo que o próprio blogue dele é um dos mais populares e comentados entre policiais. Ele diz que isso é lamentável:

O major Wanderby é um dos pouquíssimos oficiais superiores que NÃO se omite diante de tanta sacanagem injustiça e ele manifesta isso em seu blog, que tem sido visto pelos olhos do alto comando como subversivo, incompatível para sua função. Não é de se estranhar que a maioria dos blogs policiais de protestos o autor prefira não mostrar a cara, afinal quem vai querer ser punido pelo comandante geral como já aconteceu com o major três vezes.

Mônica acredita que o regulamento da polícia que proíbe que oficiais da polícia expressem suas opiniões da forma que acham conveniente é um modelo arcaico da época da ditadura, e imagina o que poderia acontecer a oficiais com patentes inferiores:

O caso acima é com oficiais superiores, imaginem o que acontece com a gente. Prender um oficial superior por expressar sua opinião não é ilegal? Não fere o que diz nossa constituição? Ainda nos criticam por não colocarmos a cara aqui!

José Ricardo valoriza a liberdade de expressão, embora não a pratique. Ele evita comentar sobre a prisão do Major Vianna, mas deixa um conselho para seus leitores:

Portanto, companheiro, cuidado com o que você diz na caixa de comentários dos blogs.

Apesar de não terem permissão para tanto, esses oficiais têm feito uma forte oposição ao atual governo. O  Major Wanderby foi um dos organizadores de um movimento exigindo melhores salários para a polícia – um oficial em início de carreira ganha cerca de US$ 500,00 por mês. Eles culpam os baixos salários e as péssimas condições de trabalho para um trabalho tão arriscado como as causas do colapso da polícia brasileira e pela corrupção entre os oficiais. De acordo com um relatório do Conselho de Direitos Humanos da ONU lançado no último dia 15 de setembro [en], a polícia brasileira tem envolvimento em 1 de cada 5 assassinados no Rio de Janeiro.

Mesmo enfrentando uma grande pressão para não falar ou não criticar publicamente o governo ou o comando da polícia, mais e mais policiais de todas as patentes estão usando blogues como uma ferramenta para informar e mobilizar. Veja um artigo anterior sobre o assunto.

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