Moçambique: Crise política na cidade central de Beira

Essa carta aberta foi publicada em resposta ao líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) que anunciou no dia 28 de agosto [en] que o atual prefeito da cidade de Beira, Davis Simango, não seria o nome do partido para disputar a reeleição no pleito de 19 de novembro de 2009.

Em reação imediata ao anúncio, furiosos partidários da Renamo e Simango assumiram o controle da sede do partido em protesto contra a decisão do presidente Afonso Dhlakama de substituir Simango por Manuel Pereira. A decisão incitou dois dias de protestos em Beira, quando os eleitores de Simango foram às ruas exigindo que o partido voltasse atrás na decisão.

Na noite da sexta-feira seguinte, a polícia usou gás lacrimejante e balas de borracha para conter uma multidão que se formara na frente da sede da Renamo no bairro de Munhava. No decorrer do protesto, o repórter do jornal de Beira “Diário de Moçambique”, Antonio Chimundo, foi atacado fisicamente por membros da Renamo que o acusaram de trabalhar para Frelimo, o partido da situação.

Muitos analistas, dentre os quais alguns dos parlamentares da Renamo, condenaram a decisão de Dhlakama e elogiaram a determinação de Davis Simango em concorrer como candidato independente. A versão original dessa carta está disponível no blogue to autor.

Excelência, não iria deixar passar a oportunidade de expor as minhas impressões acerca da sua pessoa como líder de um partido que outrora já foi grande. Quero também prometê-lo que no próximo ano não o irei esquecer.

Sim, não o irei esquecer quando me lembrar de tanta gente que assassintou políticamente. O Magazine Independente avançou uma lista bem curta de alguns dos seus ex-colegas que consigo militaram na Renamo, mas que por sua vontade foram expulsos sob alegações da “bases”.

Para já, importa dizer que V. Excelência não age e nunca agiu de acordo a vontade das bases, à semelhança da Guerra que orgulhosamente diz ter dirigido.

O Sr. Dhlakama assassinou políticamente gente com maiores capacidades de liderar organizações políticas que o senhor; gente que, pela sua bagagem acadêmica, tacto diplomático e inteligência, levavam bem alto o nome da Renamo durante os tempos de guerra civil, das negociações de paz, da reconciliação nacional e durante os debates da Assembleia da República. Hoje, pessoas com esse perfil podem se contar aos dedos das mãos!

Hoje em dia, V.Excelência, políticamente já não passa de um nado morto. Moçambique deve ser dos poucos países do Mundo onde “cadáveres políticos” coexistem lado-a-lado com os vivos, sem causar tanto arrepio para os últimos.

Sim, não me vou esquecer de si, depois de assumir três derrortas pesadas em três eleições presidenciais; não me vou esquecere de si, cansado que estou em ouvir as suas mentiras e ditos sem consequência.

V. Excelência deve ser dos políticos que mais mente neste país; e dos políticos que mais fala sem ter em conta as consequências: anunciou que não iria tomar parte do Conselho de Estado após as eleições de 2004. Mas agora têmo-lo bem sentado, se bem que de lá não ouvimos nenhuma contribuição que fosse da sua autoria, muito menos um barulhosito; não quis reconhecer o resultado das eleições de 1999, mas acabou reconhecendo; fala que é democrata, mas sabemos todos nós como tentou massacrar Devis Simango…mais palavras para quê?

V. Excelência não é digno de se igualar a uma perdiz, mas sim à uma galinha poedeira que não se cansa em partir ovos que ela própria põe. Na minha terra, galinhas desse tipo são lhes queimados os bicos sendo o tamanho destes inversamente proporcional à quantidade de ovos que andam a partir.

Como dizia Salomão Moyana, V. Excelência é dos poucos infiltrados da Renamo que teima em ficar apesar de já ter sido descoberto. E sinceramente, aguardo novas de si quando em 2009 perder esmagadoramente a favor de Armando Guebuza. O melhor que deve fazer é ficar calado até essas eleições. Depois de perder, convoque o Congresso para anunciar de novo a sua candidatura para 2014! Nesta altura, os seuscolaboradores directos virão de Maríngoe (homens armados) para Maputo. Porque os que agora o ajudam serão por si ainda este ano ou princíupios do próximo explusos, quando começar a decidir quem vai a Assembleia da República e quem fica de fora.

Ainda bem que a Beira já não conta consigo. Continue a ganhar sem trabalhar. Porque ser da oposição significa para si sentar-se à sua sombra e lançar achas de ciúmes à quem está disposto a fazer diferente em prol do povo. Bem haja S. Excelência. Mas tenha em mente que em 2014, pessoas como as que actualmente ainda acreditam em si irão rarear.

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