Mundo: O preço da comida, o custo do desespero

A crise causada pelo aumento galopante dos preços está afetando todos os grupos econômicos em cada esquina do mundo. A cada dia, ao que parece, os altos preços dos alimentos faz com que mais um país entre em crise: passeatas, motins, rumores de açambarcamento, queda de governos e até mesmo mortes.

O Global Voices está bem posicionado para acompanhar as nuances desse assunto tão complexo, com autores monitorando a mídia cidadã em quase todas as esquinas do planeta. Esse artigo é uma tentativa de fornecer uma narrativa geral da crise global causada pela falta de alimentos [en], com observações de nossos autores ao redor do mundo. Ao clicar nos links, você chegará a todos os artigos que já foram publicados.

Vamos começar com o Caribe [en]. Em Barbados, a população local aprende a lidar com um aumento de 30% no preço da farinha de trigo, junto com saltos nos preços da gasolina e do óleo diesel. O Ministro da Agricultura de Trinidad e Tobago nega que a crise dos alimentos tenha atingido as duas ilhas, mas as pessoas notaram um aumento nos preços do frango e da farinha de trigo. Cuba está experimentando uma nova política agrícola fornecendo mais terras a fazendeiros do setor privado.

Aumento de preços e escassez de alimentos podem ser vistos na América Latina [en], a medida que muitas pessoas entram em desespero. A culpa está sendo colocada tanto nos fazendeiros quanto no governo, pela falta de atitude. Blogueiros árabes no Líbano, na Síria, no Kuwait e no Egito [en] também estão sentindo o aperto e blogando sobre o assunto.

No Cambódia ainda existe a aflição de que quase 500.000 crianças possam vir a perder refeições por causa de um aumento de 20% no preço do arroz. No entando, um aumento dramático na produção de arroz pode não ser algo para além das esperanças naquele país. Os fazendeiros de lá podem cultivar duas ou três safras por ano no mesmo lote de terra.

Os últimos motins

Riots in Cairo

Protestantes no Cairo acendem fogueiras e apedrejam barricadas, 7 de april de 2008 – Foto de James Buck

Dois dias de motim assolaram o Egito em 6 e 7 de abril, onde os preços dos ítens da cesta básica dobraram [en] desde 2004 (chegando a quadruplicar em alguns casos). Pelo menos duas pessoas morreram e 111 – inclusive policiais – ficaram feridas (veja a nossa página da cobertura especial da Greve Geral no Egito) [en].

Em Abidjan, na Costa do Marfim, protestantes bloquearam ruas e queimaram pneus [en], exigindo que o governo reduzisse impostos em produtos chave importados.

Poucos dias depois, quatro pessoas morreram e 25 ficaram feridas em protestos no Haiti [en], onde os preços do arroz, feijão e frutas aumentaram em 50% nos últimos 12 meses. Menos de uma semana depois dos violentos protestos, o primeiro ministro do Haiti foi rejeitado [en] em um voto de censura.

Para Natifnatal, um haitiano radicado em Abu Dhabi, a crise dos alimentos oferece uma operação matemática simples [en]:

For those who don't even know the basics can present the equation: hunger + poverty + rising prices = demonstrations + the Prime Minister's resignation + violence, and argue that an increase in food aid would suffice to reduce hunger.

Mesmo aqueles que não sabem nem o básico podem resolver essa equação: fome + pobreza + aumento de preços = protestos + demissão do primeiro ministro + violência e o argumento que um aumento na distribuição de alimentos seria suficiente para reduzir a fome.

Mesmo quando um avião de carga caiu em Kinshasa em 15 de abril matando 75 pessoas, o blogueiro congolês Du Cabiau à Kinshasa ruminou sobre um desastre mais silencioso e menos telegênico que o país enfrenta: os preços dos alimentos dobrando [en] na mesma semana.

Os efeitos no comércio

São muitos os países do terceiro mundo que importam a grande quantidade da comida necessária para alimentar suas populações. O aumento nos preços significa que os problemas também aumentam rapidamente. Até mesmo para exportadores de alimentos, a situação está dando nos nervos. Na Coréia, o maior produtor de arroz do mundo, um internauta argumenta [en] que o arroz deveria ser retirado dos acordos de livre comércio, permitindo que o país faça o que considere apropriado com essa comodidade estratégica.

No entanto, algumas vezes protecionismo não basta. Enquanto o preço do arroz tem aumentado em todas as nações produtoras de arroz do sudeste da Ásia [en], os governos foram forçados a pedir calma e a rezar para que os preços no mercado interno comecem em breve a cair. A situação é duas vezes pior para importadores de arroz, como as Filipinas, onde os pobres têm sofrido na pele o peso dos aumentos. A Indonésia, outro país importador, cancelou suas importações em função dos altos preços. O Cambódia e o Vietnã abandonaram as exportações. Blogueiros na Malásia relatam rumores de escassêz de arroz. O governo de Brunei pode vir a passar a subsidiar produtos alimentares básicos, como óleo vegetal, farinha de trigo, leite, ovos e frango.

Leite japonês
Leite em um supermercado japonês

Há decadas os preços dos alimentos no Japão se mantinham estáveis, o que é estranho para um país que importa quase todos os produtos básicos que consome, exceto o arroz. Coisa do passado. Os preços subiram [en] pela primeira vez em mais de duas décadas. O mesmo acontece com derivados do leite [en], os quais custavam aos consumidores o mesmo preço há três décadas. Cerveja, óleo vegetal e molho de soja estão também mais caros.

Um matador silencioso

Em Bangladesh, onde as pessoas chegam a gastar até 80% de seus salários com alimentos, o encarecimento do preço do arroz alcançou a classe média [pt]. É muito pior para os pobres, e reportagens na imprensa confirmam vários casos de morte por fome. O chefe militar do país atiçou a ira de muitas pessoas ao sugerir que a população substituísse arroz por batatas.

No Tadjiquistão, onde as pessoas já enfrentaram uma falta de energia que durou todo o inverno, parece que mais de 260.000 pessoas [en] precisam urgentemente de ajuda para se alimentarem. A preocupação maior é que esse número pode chegar a 2 milhões até o inverno.

Por falar em globalização, no Iêmen, os preços dos produtos da cesta básica aumentaram [en] ao passo que o custo de alguns bens eletrônicos caíu. O Kuwait também passa por aumento de preços, mas não graças à queda do valor do dólar americano.

Em Burkina Faso
[en], onde as pessoas acreditam que o governo ficou de braços cruzados enquanto os preços em alguns setores alcançaram um aumento de mais de 40% desde o início do ano, protestos foram deflagrados em várias cidades ao redor do país no final de fevereiro, resultando em prejuízos materiais e mais de 300 detenções.

Mais ou menos na mesma época, em Camarões [en], a raiva causada pelo aumento dos preços e queda dos salários sacudiu o país por três dias de violentos confrontos com militares. A raiva também foi alimentada pela tentativa por parte do presidente Paul Biya de mudar a constituição para que ele pudesse exercer um terceiro mandato.

Essa história está longe do fim. Vamos continuar na cobertura dela – portanto veja a nossa página da cobertura especial Global Food Crisis 2008 [en] regularmente.

3 comentários

  • […] ou identidade Moçambique: Sem muito o que celebrar em Primeiro de Maio E traduzi ainda: Mundo: O preço da comida, o custo do desespero Filed under: Macau   |   Tags: olimpíadas, tocha […]

  • aki em francisco beltrao o arroz qusta 11,00 reaiz
    a carne de prco um kilo qusta 12,30 reaiz
    o feijao quada pacote qusta 3,00 reais ….

  • O que faz os preços subirem não é o mal que vem assolando a humanidade desde o principio que é a ganancia por mais e mais dinheiro se hoje um fazendeiro tem um lucro mensal de 100.000 reais no proxímo vai querer 150.000 e sempre subindo. Guando nós tivermos um governo limpo escolhera pessoas não gananciosas e lhes dara o campo para plantar se não souber deverá preparalas.

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