Lusosfera: Lembrando a Revolução dos Cravos


Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
E inda guardo, renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto do jardim

(Canção de Chico Buarque)

Em 25 de abril de 1974, a ditadura facista em Portugal que já durava 40 anos, a maior da história da Europa Ocidental, chegava ao fim com a Revolução dos Cravos, um golpe de estado militar esquerdista. Na manhã daquele dia, as pessoas foram às ruas apesar do conselho para ficarem em casa, mas em vez de derramamento de sangue, balas foram trocadas for flores. Foi uma surpreendentemente pacífica tomada do poder das mãos de Antônio de Oliveira Salazar e seu sucessor, Marcelo Caetano, na qual a população carregava cravos vermelhos e os colocava dentro dos canos das espingardas dos soldados. O segundo objetivo da revolução foi pôr um fim à guerra na África.

Com a independência conquistada de maneira rápida demais pelas colônias africanas, uma violenta guerra civil assolou Angola, Moçambique tornou-se independente mas só conheceu a paz em 1992 e Timor Leste foi invadido pela Indonésia no ano seguinte. Outras colônias, como Cabo Verde, foram deixadas em uma pobreza desesperadora. Apesar desse processo de descolonização ter sido considerado um pandemônio, a revolução desfruta do apoio popular na atualidade, e muitos blogueiros de língua portuguesa, destes e outros países ao redor do planeta, dedicaram um post à ela.

Lusofolia publica o vídeo acima, ‘Tanto Mar’, que é uma canção-homenagem composta por Chico Buarque, que mais tarde foi censurada, já que o Brasil enfrentava a sua própria ditadura. O blogueiro diz:

… tão distante já, é comovente relembrar daqui de longe o dia em que foram as mulheres que ofereceram flores aos homens. Um abraço a todos e a todas.

CBugarim, que nasceu na Angola sob comando dos portugueses, diz:

Festejo a Paz e o Progresso em Angola e o facto de a distância não me ter separado da minha Família e amigos mais queridos. Presto a minha homenagem a todos aqueles que pagaram com as suas vidas a factura da Liberdade e da Paz.

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From Maputo, Moçambique, Marta passou o dia publicando posts inspirados no 25 de abril, com poemas, links para vídeos e imagens, como essa acima.

De Macau, Leocardo explica o relacionamento da sociedade atual com o dia:

Em Macau o Dia de Cravos bateu com pouca força. É uma sociedade muito conservadora que se pela pelos santinhos, missas e procissões. Talvez seja por isso que alguma da beatada da metrópole se deu tão bem com os ares de cá. Talvez por isso não compreendam que afinal é o povo quem mais ordenha (ordena, bolas!). As actividades do 25/4 resumem-se ao feriado no Consulado, da Escola Portuguesa, e ao protocolo da praxe. Sempre presentes estão os habituais papa-eventos, que vão lá seja qual for o orador.

[Obervação: o blogueiro brinca com as palavras ordenha/ordena, Ordena foi usada na canção, que naqueles dias era proíbida, de José Afonso, Grândola Vila Morena, que passou em uma estação de rádio como uma espécia de senha na manhã do dia 25 para sinalizar às tropas que o dia tão esperado tinha chegado, como cita a blogueira brasileira Elisabete Cunha em uma postagem bem elaborada].

Do Timor Leste, Frederico Duarte Carvalho sugere a leitura de um livro de Nuno Simas que mostra como os EUA sabiam exatamente o que estava acontecendo em Portugal, apesar da crença popular em contrário:

Podem encontrar aqui os originais dos arquivos norte-americanos. O Nuno Simas, contudo, começa o livro com a defesa da versão oficial de que os EUA estavam a “leste” em relação ao golpe que preparava para o dia 25 de Abril de 1974 e, mais à frente, cita Henry Kissinger a queixar-se de que os EUA não tinham de andar a prever golpes pelo mundo fora. Dito assim, parece mesmo que nada se sabia…

25abril.jpg

De Portugal, Alder Pinoca publica a imagem acima, diz que se lembra pouco da felicidade absoluta daquele dia em sua infância e pergunta quando o ‘Dia da Liberdade’ virá de fato:

E diziam que a liberdade estava a passar por ali e que tinha vindo para ficar porque a defenderiam.
Era o 25 de Abril de 1974. Tantas palavras promissoras eu ouvi, a tantas alegrias eu assisti.
E agora, hoje, neste momento, onde estará a liberdade e a alegria que guardei no cofre das minhas memórias de criança?
É isto a liberdade? É isto a democracia? A justiça?
O 25 de Abril, sempre! É isto?

Por outro lado, também de Portugal, Tiago R Cardoso lamenta que a geração dos dias de hoje não estima tanto o dia 25 de abril e não sabe como protestar quando é preciso:

A actual juventude está afastada do 25 de Abril, dá-lhe pouca importância, acha que a liberdade e todos estes direitos que tem caíram do céu, quando são fruto de anos de lutas, de acumular de frustrações e injustiça, que culminou na a revolta contra “o estado a que chegamos” […] “O 25 de Abril não é monopólio de uma geração nem de uma força política”, quem me dera que muitos ouvissem e entendessem..

Você pode ler um artigo, em inglês, do autor moçambicano Mia Couto sobre a revolução aqui [en].

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