Parte Dois – A defesa da liberdade de expressão on-line e dos direitos ambientais na Bulgária

Na Parte Um deste artigo [PT], eu descrevi ameaças recentes ao meio ambiente da Bulgária e o vibrante movimento de protesto conduzido pela internet que se formou em resposta. Neste artigo eu converso com Milena Bokova [EN], diretora executiva da BlueLink Information Network [EN], que fala sobre a intimidação contra o seu colega, o blogueiro Michel Bozgounov [EN], as ameaças à liberdade de expressão on-line em seu país, e a campanha Freenet [BG] da Bluelink:

Sami: Por que a diretoria geral do Combate ao Crime Organizado escolheu Michel Bozgounov como alvo por ter blogado sobre o caso Strandja, apesar de outros blogueiros búlgaros estarem fazendo a mesma coisa? E você pode explicar por que isso está sendo tratado como “Crime Organizado”?

Milena: É um grande mistério. Até agora as autoridades policiais búlgaras não deram explicações pertinentes para essas questões. Nós só podemos fazer hipóteses. Um dos motivos pode ser o fato de Michel ser um cidadão comum sem nenhuma proteção política, financeira ou de outra natureza. Outro motivo pode ser o fato de ele ser funcionário da BlueLink – uma rede com opiniões alternativas e que em alguns casos contradizem as do governo (como por exemplo o website BeleNE que faz campanha contra a construção de uma segunda usina nuclear na Bulgária [EN]). Pode ser uma tentativa de nos calar. Ou pode ser uma seleção aleatória, realmente não sabemos.

Sami: A investigação contra o seu colega Michel Bozgounov abre um precedente para políticos controlarem sobre o que você pode ou não blogar?

Milena: Com certeza. O problema é que tudo isso tem repercussão negativa para a imagem deles. O caso ficou realmente muito visível na Bulgária, por seu absurdo. A polícia não tem absolutamente o direito de dizer às pessoas sobre o que podem ou não blogar. Isso é uma violação da constituição búlgara, que garante a liberdade de expressão.

Sami: Qual foi o papel da internet em geral e da blogosfera em particular na organização dos flash-mobs [EN] (multidões instantâneas) e dos protestos ambientalistas que alguns gostam de descrever [EN] como “os maiores desde os protestos contra o governo socialista em 1997”?

Milena: A principal ferramenta para organizar os flash-mobs foram as listas de discussão (muitas delas mantidas pela BlueLink para permitir a comunicação entre os usuários). Os organizadores usaram essa ferramenta para contatar muitas pessoas em seus endereços de e-mail particular de modo rápido e direto. Eles também usaram o SMS [PT] – serviço de mensagens curtas das operadoras de telefonia celular. A maioria dos flash-mobs só era anunciada uma ou duas horas antes do evento, para garantir que as autoridades não tivessem tempo de impedir a sua realização. Na verdade a blogosfera estava em geral cobrindo os flash-mobs após a sua realização, não antes. Havia um site especialmente criado [BG] para publicar informações sobre os próximos flash-mobs (http://savestrandja.ludost.net/). As informações nesse site eram geralmente publicadas cerca de 2-3 horas antes de cada flash-mob.

Eu não diria que esses protestos ambientalistas tenham sido os maiores realizados desde os protestos contra o governo socialista em 1997 – é muito exagero dizer isso, uma vez que o maior protesto juntou não mais que 2000 pessoas e não foi um flash-mob, mas uma manifestação previamente anunciada na cidade. Mas isso não é o mais importante. O mais importante é que um pequeno grupo de pessoas conseguiu provocar um grande impacto na mídia, no governo e na população inteira da Bulgária.

Sami: Você acha que o Strandja Mountain Nature Park está seguro e que a comunidade on-line búlgara alcançou seu objetivo de protegê-lo?

Milena: Ele está só temporariamente seguro. Infelizmente o parlamento tomou a decisão de mudar a lei para áreas protegidas de um modo que muitos juristas definem como legalmente inconsistente e que pode ser questionado na justiça. Os juristas dizem ainda que outros parques da Bulgária tampouco estão protegidos. Mas essa não é a questão principal. Muitas das leis da Bulgária são muito boas e fortes e contemplam medidas para a proteção da natureza. O problema é a implementação das leis. Há corrupção das autoridades, negócios obscuros que se aproveitam de brechas nas leis e ficam impunes.

Sami: Estamos testemunhando com o lançamento da campanha Freenet, o envolvimento da rede BlueLink – uma rede ambientalista, criada e gerenciada por ativistas verdes – na defesa da liberdade de expressão. Qual é o motivo da mudança e quais são seus planos futuros em relação a essa questão?

Milena: Na verdade, não é mudança de modo algum. A BlueLink, além de ser uma rede ambientalista, trabalha na área de políticas de informação e comunicação desde a sua criação. Somos uma parte do movimento internacional que contribui para o processo WSIS e ultimamente para o Internet Governance Forum. Até mesmo criamos um portal especial ‘Bulgarian ICT policy monitor‘ [EN]. A liberdade de expressão na internet é algo com o que estamos trabalhando para estabelecer na Bulgária desde 1998. A BlueLink é o membro búlgaro da Association for Progressive Communication (apc.org) [EN], através de cuja rede somos capazes de nos conectar com pessoas com idéias afins de todo o mundo.

Sami: A blogosfera búlgara e o movimento ambientalista on-line receberam apoio de outras comunidades ou blogosferas européias? A divulgação de informações sobre a questão do Strandzha através de sites de compartilhamento de vídeos e fotos como Youtube e Flickr de algum modo ajudou a atrair a atenção da grande mídia e/ou da mídia cidadã fora do país?

Milena: As comunidades de blogosfera da União Européia e do mundo começaram a nos apoiar logo depois que a BlueLink iniciou a campanha FreeNet. Não tenho informação sobre apoio antes disso. A divulgação de informações sobre o Strandja e outros casos ambientais da Bulgária através de sites de compartilhamento de vídeos e fotos ajudou muito a atrair a atenção da grande mídia búlgara. Até agora não temos informação a respeito do interesse da mídia estrangeira.

(texto original de Sami Ben Gharbia)

 

 

O artigo acima é uma tradução de um artigo original publicado no Global Voices Online. Esta tradução foi feita por um dos voluntários da equipe de tradução do Global Voices em Português, com o objetivo de divulgar diferentes vozes, diferentes pontos de vista. Se você quiser ser um voluntário traduzindo textos para o GV em Português, clique aqui. Se quiser participar traduzindo textos para outras línguas, clique aqui.

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