Um Vislumbre do Coração da Sociedade Iraniana


calexander.jpgChristian Alexander é um blogueiro americano que escreveu sua tese de bacheralado sobre blogs iranianos. Aqui, ele compartilha conosco sua opinião sobre blogs iranianos. Ele é também um contribuidor do blog Sounds Iranian[EN] onde pessoas que fazem pesquisas sobre blogs iranianos trocam idéias.

P: Você pode se apresentar e nos contar sobre seu interesse em blogagem e blogs iranianos?

Meu interesse em blogs foi um pouco acidental. Sempre tive interesse em tecnologias e, especificamente, na Internet. A web é a tecnologia definidora de nossos tempos, e uma tecnologia revolucionaria que terá – na verdade já tem – um grande impacto na civilização humana.

Na faculdade, em minha tese final, resolvi juntar meu interesse em tecnologia e sua influência na sociedade com a área principal dos meus estudos, História colonial e pós-colonial não-ocidental. Meu orientador, um especialista em História do Irã e do Oriente Médio no século XIX, sugeriu que eu investigasse o hype recente de blogs iranianos.

Eu passei a maior parte de um ano investigando blogs iranianos e literatura relevante sobre eles. No processo desenvolvi interesse na sociedade e cultura iraniana. Comecei um curso independente de língua Persa e criei meu próprio metablog para rastrear a blogosfera iraniana.

Desde que defendi a minha tese à pouco mais de um ano, tenho continuado seguindo o Irã tanto nas notícias quanto através de blogs e outras fontes que acumulei durante meus estudos. Enquanto estou ativamente procurando aumentar meus estudos sobre blogagem para incluir outros países e regiões que possuem os mesmos problemas iranianos (como acessibilidade, pobreza, etc.), mantenho um interesse específico na blogosfera iraniana.

Da cultura dos taxistas a crise nuclear

P: Você acha que blogs iranianos podem nos dar uma imagem do Irã diferente da que conseguimos através dos meios de comunicação de massa? Você pode citar um exemplo?

Definitivamente, especialmente no caso do Irã, a blogagem nos dá uma perspectiva alternativa muito bem vinda, quye invariavelmente diverge radicalmente da que mídia tradicional e mainstream. nos provém aqui nos E.U.A. Para mim, essa é uma das mais importantes contribuições da Weblogestan iraniana.

Uma das descobertas mais interessantes e excitants que fiz durante meus estudos foi a perspective da blogosfera iraniana. A mistura excêntrica de familiaridade e estranhamento do mundo dessas pessoas provêm um retrato muito mais complexo, com mais nuance, e mais humano da sociedade iraniana do que as fontes tradicionais de notícias provinham.

O fato de eu ter tal acesso a essas pessoas também me deu um importante sentido de poder. Aprendendo sobre as complexidades da cultura de taxis nas conversas de taxistas do View from Iran[EN], ou sobre o dia-a-dia nas ruas pelo Mr. Behi[EN] me deu um vislumbre do coração da sociedade iraniana que as estórias da mídia tradicional deixam de fora. Coberturas diárias, feitas pela mídia mainstream, da questão nuclear entre E.U.A e Irã e o envolvimento do ultimo no Iraque continuamente cria uma falsa impressão que blogs iranianos frequentemente se esforçam para desconstruir.

Mas, a blogosfera iraniana representa um grupo muito pequeno de pessoas. Como em outros países “em desenvolvimento”, a “divisão digital” interna entre aqueles com acesso e aqueles sem acesso forma significantemente a perspectiva e o clima da cyber-sociedade iraniana.

Lendo blogs iranianos escritos em inglês nos meses e semanas próximas às eleições presidenciais de 2005, seria difícil, se não impossível, predizer que Ahmadinejad ganharia. Claramente as opiniões desses blogueiros eram diferentes das de uma porção substancialmente grande do resto do Irã. A surpresa/choque/negação mostrada por muitos desses blogs depois dos resultados ilustra o quão específico esse grupo é/era dentro da população iraniana.

Tecnologia e ideologia da modernização

P: Quais são os tópicos principais de sua tese sobre os blogs iranianos?

Como eu disse antes, meu projeto procurava combinar meu interesse em tecnologia e internet com a história das pós-colônias não-ocidentais. Agora, entendo que o Irã nunca foi uma colônia formal. De qualquer forma, seu passado semi-colonial possui muitas semelhanças com outras partes do mundo que, em alguma época, foram dominados politicamente, militarmente e culturalmente pela Europa Ocidental e/ou Estados Unidos. Estou interessado em saber como essa parte da História moldou o mundo em que vivemos hoje.

O tema central da minha tese foi a investigação de como a tecnologia e a ideologia da modernização interagiram dentro do Irã através do ultimo século e além. Olhando para a história recente do Irã vemos que a tecnologia sempre teve um papel central na busca ideológica de se tornar “moderno”. A idéia de modernidade em si é algo flexível e sujeita a mudar, dependendo para quem ou quando você pergunta. Para a Europa do século XIX e começo do século XX, modernidade era refletida na ideologia racional, científica e transparente que se desenvolveu a partir do Iluminismo Europeu

Emaranhadas nesse ideal estavam as normas culturais da sociedade européia, que costumava ser rotulada mais como uma verdade objetiva do que uma perspectiva subjetiva. Previsivelmente, essa visão de modernidade colidiu com as normas culturais de outras regiões do mundo, como o Irã, que vieram a ser dominados pelos países europeus.

Confusões em relação a definição e significado da modernidade européia e sua compatibilidade com a cultura iraniana criaram tensões dentro da hierarquia política, social e cultural da região.

Nesses últimos cem anos os iranianos têm lutado entre o desejo de ser moderno e o medo da dominação política e cultural do Oeste. A Revolução de 1979 significou uma mudança para o “tradicionalismo” anti-Ocidental e uma rejeição da “modernidade” Euro-americana. Entratanto a ambivalência do regime em relação à tecnologia nos dá uma pista de uma imensa incoerência ideológica que não é sustentável no mundo contemporâneo.

Blogs são radicais

P: Como você avalia a importância dos blogs iranianos na sociedade iranian?

Essa é uma pergunta difícil por muitos motivos. Primeiro, sendo um estrangeiro ( e com uma abordagem muito limitada da lingua), é muito difícil para mim dar certeza da influência da Weblogestan dentro da sociedade iraniana. Tenho lido muitos blogueiros dentro do Irã reclamando da perspectiva distorcida dos de fora do país, tanto os estrangeiros quanto os membros da diáspora. Tenho conhecimento da complexidade da situação política e social do Irã e questiono o quão acurada é minha análise.

A segunda dificuldade está em determinar o impacto maior da blogagem em si na política e na sociedade em geral. Sem dúvidas, blogagens têm tido um impacto significante nas sociedades, como vem sendo demonstrado inúmeras vezes no Irã, nos E.U.A. e em todo o mundo. Os blogs possuem um papel importante como disseminadores de informação e idéias. São radicais porque introduzem um meio de expressão (relativamente) barato, acessível e anônimo (o último fator é o que fizeram dos blogs um instrumento político tão atraente e potente em sociedades repressivas, como o Irã).

De qualquer forma, quando falamos de mudança social específica e sustentada, a blogagem parece ser mais efetiva como um contribuidor indireto e suplementar. Podem os blogueiros sozinhos mudarem a política, elegerem um presidente ou preservarem um monumento cultural? Eles são apenas atores indiretos. Cidadãos e/ou lideres devem ainda fazer as decisões e tomar as ações.

As mais efetivas campanhas por mudanças sociais e políticas que utilizaram blogs tiveram algum tipo de apoio no “mundo real”, meios de conectarem idéias no cyberespaço com ações na realidade. Isso pode mudar? Para a maioria dos propósitos, considero a blogagem apenas como um instrumento. Em essência, para mudanças sociais e políticas bem enraizadas serem efetivas, os blogueiros devem também ser cidadãos ativos.

Visto apenas através de uma perspectiva puramente cultural você pode argumentar que a blogagem tem um efeito mais direto por realmente mudar a estrutura das interações humanas e normas culturais. Eu acho isso muito significante, mas essa mudança é também, na minha opinião, um processo mais devagar e sutil. Blogueiros (e qualquer outra pessoa) tem menos controle direto dessa mudança.

No geral, eu acho que os blogs têm um impacto maior na sociedade e política irania do que teriam devido à natureza repressiva do regime. A liberdade de expressão de idéias que a blogagem facilita vem sendo um importante desenvolvimento para os iranianos, e esse fenômeno já mostrou sua influência e poder na liderança do país. Socialmente também, os blogs permitiram muitos iranianos a suplantar políticas restritivas e se engajarem em discussões, dividirem opiniões, flertarem, etc.

De qualquer forma, eu também diria que o hype produzido pelo poder democratizador da internet e blogs têm provado serem apenas isso. Até então, as novas tecnologias por si só não vêm sendo efetivamente utilizadas como um instrumento para a reforma do regime repressivo. Ao invés disso, o governo iraninao aprendeu a manipular ou censurar tecnologias como a Internet. Apesar dos esforços de muitos blogueiros reformistas, ainda temos que ver se a pressão que vêm fazendo no governo será suficiente para voltá-lo a uma sociedade mais justa e tolerante.

Blogs iranianos vs. blogs americanos

P: Como você compara os blogs politicos do Irã com os americanos?

Eu diria que de muitas maneiras blogs políticos iranianos e americanos são bastante semelhantes entre si. Em ambas as comunidades há uma variação de posições e opiniões (obrigado Hamid Therani por blogar sobre blogs conservadores do Irã). Uma fragmentação da blogosfera em linhas ideológicas e políticas é provavelmente uma característica de ambos. Obviamente a censura do governo é um fator bem maior no Irã, então o número de blogs anônimos na blogosfera iraniana é, eu imagino, bem maior (apesar de ter apenas evidências anedóticas para apoiar tal afirmativa).

P: Você tem algo mais para partilhar com a aundiência da Global Voice?

Eu gostaria de agradecer a GVO e a todos seus contribuidores por seu trabalho. Tenho apreciado aprender sobre novos lugares e pessoas através de suas páginas, e espero que a GVO e seus parceiros continuem a facilitar o diálogo significante entre grupos diferentes. Espero continuar contribuindo do meu próprio modo a encorajar outros a dividirem seus pensamentos e idéias. Sintam-se livres para contactar-me através deste post da GVO, o SoundsIranian[EN] ou meu blog pessoal[EN].

(texto original por Hamid Tehrani)

O artigo acima é uma tradução de um artigo original publicado no Global Voices Online. Esta tradução foi feita por um dos voluntários da equipe de tradução do Global Voices em Português, com o objetivo de divulgar diferentes vozes, diferentes pontos de vista. Se você quiser ser um voluntário traduzindo textos para o GV em Português, clique aqui. Se quiser participar traduzindo textos para outras línguas, clique aqui.

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