Maldivas: Curtindo um som para salvar as ilhas de submergirem

Na mitologia grega o canto doce e melódico das sirenas costumava atrair os marinheiros para o fundo do mar, onde eles eram recebidos pela morte. No dia 7 de julho, melhor conhecido como 07/07/07, música e melodias foram cantadas pelos maldívios enquanto estes ponderavam a respeito do destino que teriam com a elevação do nível do mar e mudanças climáticas.

Por ser uma ilha de baixa elevação, as Maldivas estarão entre os países mais vulneráveis se de fato o aquecimento global causar a elevação do nível do mar prevista por cientistas do mundo todo.

Jamming for the Islands [EN] foi um concerto musical organizado pelo evento Friends of Live Earth, que teve o objetivo de aumentar a conscientização das pessoas com relação aos diversos problemas que giram em torno da mudança climática. O concerto também mostrou-se solidário às outras pessoas ao redor do mundo que organizaram os eventos do Live Earth [EN].

As ilhas Maldivas foram fortemente atingidas pelo tsunami em Dezembro de 2004 e ainda existem desabrigados vivendo em acampamentos. O tsunami foi um alerta precoce do que acontecerá se os maldívios vierem a se tornar refugiados ambientais.

Houve reações mistas de blogueiros a respeito do concerto musical que aconteceu a menos de cem metros do mar, e também a respeito dos demais concertos do Live Earth ocorridos pelo globo.

Um blogueiro expressou seu desejo de visitar todos os locais [EN] em que os concertos do Live Earth aconteceram.

“I wanna be at the Wembley Stadium to see RHCP, the Foo Fighters, Metallica, Damien Rice and Duran Duran.. I wanna be in New Jersey to see Roger Waters, The Smashing Pumpkins and DMB.. I wanna be in Sydney to see Wolfmother and Jack Johnson.. I wanna see Lenny Kravitz in Rio de Janeiro.. I wanna be in Hamburg to see Chris Cornell and Katie Melua.. I’ll take a pass on Tokyo and Shanghai.. And Johannesburg too..

I also want a Gulfstream 400..

but…

well, hopefully they’ll have a DVD out..”

“Eu queria estar no Wembley Stadium para ver RHCP, Foo Fighters, Metallica, Damien Rice e Duran Duran. Queria estar em Nova Jersey para assistir a Roger Waters, The Smashing Pumpkins e DMB. Queria estar em Sidney para ver Wolfmother e Jack Johnson. Queria ver Lenny Kravitz no Rio de Janeiro. Queria estar em Hamburgo para ver Chris Cornell e Katia Melua. Queria passar por Tókio e Xangai...E por Johannesburg também…

Eu também queria um Gulstream 400

mas…bom, tomara que eles lancem um DVD..”

O Maldives Today diz que o concerto não foi eficaz na transmissão de “mensagens ambientais vitais” ao público. O blogue também critica o governo pela falha no tratamento de questões ambientais dentro do território nacional.

Almost all inhabited islands in the Maldives are facing the problem of contaminated groundwater because untreated sewage seeps into the aquifer. Only few islands such as the capital Male’ has a sewerage system in place. The population is also unable to solve the problem of garbage accumulation. Undesirable methods of garbage disposal such as burning and throwing them on beaches create further environmental problems. Increased consumerism means the people of the Maldives produce more garbage, most of which is non-biodegradable. Reefs in the country are under threat from marine pollution while certain marine species are on the verge of depletion because of overexploitation. The mangrove ecosystems in the Maldives are under threat while beaches in the Maldives are eroding due to human-made modifications to the coastline.

While the Maldives needs the support and cooperation of the international community to address the problems caused by global phenomena, several people in the country are dismayed by the lack of commitment by the government to address local environmental issues. The government is keen to highlight the vulnerable position of the Maldives in international conferences and IPCC meetings but when it comes to solving the environmental problems in its own backyard, it remains tightlipped.”

“Quase todos os habitantes das Maldivas estão sofrendo com o problema da contaminação da água de superfície, causado pelo esgoto não tratado que penetra no aqueduto. Apenas algumas ilhas, como a capital Malé, possuem sistema de esgoto adequado. A população também não consegue resolver o problema de acúmulo do lixo. Métodos indesejáveis de eliminação do lixo, como incineração e o uso de praias como lixões, causam problemas ambientais adicionais. O consumismo crescente nas Maldivas acarreta um aumento da produção de lixo predominantemente não-biodegradável. Os recifes do país estão ameaçados pela poluição da marina enquanto muitas espécies de seres marinhos correm risco de extinção devido à superexploração. Os ecossistemas dos mangues nas Maldivas também estão ameaçados, enquanto as praias sofrem processo de erosão causada por modificações humanas feitas na linha costeira.

Embora as Maldivas necessitem de apoio e cooperação da comunidade internacional para conseguir lidar com os problemas causados por fenômenos globais, muitos no país estão desapontados com a falta de comprometimento do governo para solucionar os problemas ambientais locais. O governo não se cansa de enfatizar a posição vulnerável das Maldivas em conferências internacionais e encontros do IPCC, mas dentro do próprio país permanece de braços cruzados perante os problemas ambientais.”

O blog Idhikeeli também questiona a ineficiência do governo em lidar com os problemas ambientais domésticos.

“None of the political parties in the Maldives seems to be concerned much about the deteriorating environmental conditions in the country. Islands are being reclaimed and harbours are being dredged without proper Environmental Impact Assessments. The greed of the corporate sector takes dominance over environment as resorts expand their land to build more rooms, altering the natural island dynamics. Poor islanders are left with no choice but mine sand from beaches for construction because river sand and aggregate are too expensive for them. The lack of a good transportation network pushes up the price of any material taken to the islands. Our islands are faced with threat of tidal waves and flooding. To what extent do our parliamentarians raise these issues in the parliament? Shouldn’t the government reduce import duties from river sand? Shouldn’t the government set up warehouse facilities in islands for river sand? Or should the government just turn a blind eye to sand mining from beaches and blame all beach erosion on global warming and sea level rise? Why did the fine imposed for destroying Vilivaru island reduced so drastically? Who does what at the environment ministry?

It is not just enough to jam for the islands and think that the music show will solve everything.”

“Nenhum dos partidos políticos nas Maldivas parece preocupar-se muito com as condições ambientais deteriorantes no país. As ilhas estão sendo aterradas e os portos escavados sem Avaliações de Impacto Ambiental. A ganância dos setores corporativos domina o meio-ambiente à medida que resorts expandem suas terras para a construção de mais espaços, alterando a dinâmica natural da ilha. Os habitantes pobres não têm outra opção senão usar a areia de praias para construção, já que a areia dos rios e outros agregados são muito caros. A falta de uma boa rede de transporte eleva o preço de qualquer material que é trazido às ilhas. Nossas ilhas estão ameaçadas pelas ondas das marés e por enchentes. Até que ponto os parlamentares preocupam-se em tratar dessas questões no parlamento? Será que o governo não deveria reduzir os impostos para a importação de areia de rio? Será que o governo não deveria criar instalações locais para fornecimento de areia de rio? Ou será que o governo deveria apenas fechar os olhos para a extração de areia das praias e culpar o aquecimento global e a elevação do nível do mar por toda a erosão do litoral? Por que a multa pela destruição da ilha Vilivaru foi reduzida tão drasticamente? Quem faz o quê no ministério do meio-ambiente?

Não basta só curtir um som pelas ilhas e achar que um concerto musical vai resolver tudo.”

(texto original de Nihan Zafar)

O artigo acima é uma tradução de um artigo original publicado no Global Voices Online. Esta tradução foi feita por um dos voluntários da equipe de tradução do Global Voices em Português, com o objetivo de divulgar diferentes vozes, diferentes pontos de vista. Se você quiser ser um voluntário traduzindo textos para o GV em Português, clique aqui. Se quiser participar traduzindo textos para outras línguas, clique aqui.

3 comentários

  • Enquanto o destino das Maldivas é coisa pra lá de séria, ainda têm pessoas que querem colocar humor na desgraça dos outros. As autoridades mundiais deveriam voltar a atenção para o problema das Maldivas em caso de elevação do nível do mar e do aquecimento global.

  • Adriana

    Se você se refere ao título da notícia, saiba que se trata de um humor irônico e não, como você parece insinuar, humor com intuito de fazer pouco caso “da desgraça dos outros”. Isso fica claro para qualquer um que lê a notícia com o mínimo de atenção: “NÃO BASTA só curtir um som pelas ilhas e achar que um concerto musical vai resolver tudo.”

    Agora, se você se refere a outra coisa, não tenho a menor idéia do que seja.

  • wilson

    acho que os paises, teem de tomar atitudes mais drasticas, e o humano so se conscientiza quando a agua bate nos fundos, eu reciclo tudo o que posso, e faço compostagem, me indigno com pessoas que dizem eu amo meus filhos, e deixam de herança o lixo, nao adianta ser um bom profissional, sem educação ambiental, quem ama nao polui…

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